Em Goiânia, Maguito e Vanderlan polarizam disputa marcada pela covid-19; relembre
Cientista político Guilherme Carvalho destaca capacidade do MDB para colocar campanha da rua sem Maguito e Iris presentes

Cada eleição conta uma história. E a desta, para prefeito de Goiânia, circunscreveu-se dentro de uma pandemia que já matou cerca de 6 mil goianos. Uma eleição que não só obrigará a população a seguir protocolos de segurança nas urnas, mas que também restringiu campanhas de rua e que levou à UTI um dos candidatos que provavelmente estará no segundo turno: Maguito Vilela (MDB).
Maguito foi internado no dia 22 de outubro no hospital Órion, em Goiânia. O comprometimento dos pulmões era de até 75%. As manchetes assustavam. No dia 28 de outubro, o candidato foi transferido de avião para o hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ao MDB, partido de Maguito, impôs-se um desafio: tocar a campanha sem o candidato. E para o professor de ciência política Guilherme Carvalho, o partido conseguiu.
“O MDB conseguiu ‘automatizar’ a campanha. É a primeira vez que um candidato consegue isso sem sequer recorrer às redes sociais (como fez Bolsonaro, esfaqueado na eleição de 2018). Nem vídeos Maguito gravou”, afirma o cientista político. “E aí surgem personagens interessantíssimos: no primeiro momento, o filho dele, Daniel Vilela. No segundo, o braço direito do prefeito Iris Rezende, secretário Paulo Ortegal, e o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha”.
Guilherme enxerga como decisiva a participação de Ortegal nos lances finais da campanha. Na avaliação do professor, depois dele o engajamento de outros secretários de Iris aumentou sensivelmente. “Há de se destacar o peso que também teve o coordenador da campanha, Agenor Mariano, que ajudou a colocar os iristas no front de Maguito”, diz Guilherme.

O fator Iris
Embora o secretariado da prefeitura tenha se engajado em favor do MDB, principalmente na reta final da eleição, Iris cumpriu a palavra e manteve-se distante. A decisão de se aposentar alavancou a sua popularidade. Mas o prefeito decidiu não compartilhá-la com ninguém. Nem com Maguito, que foi o seu vice-governador entre 1991 e 1994.
As aparições públicas de Iris na eleição foram pontuais. No dia 16 de setembro, recebeu Vanderlan e o governador Ronaldo Caiado no Paço. No dia 21 de setembro, abriu as portas do gabinete para Maguito. No dia 29 de setembro, o prefeito encontrou-se com Maguito e Vanderlan em uma missa. Para além disso, gravou um vídeo como votos de boa recuperação para o candidato do MDB. E foi só.
Para Guilherme Carvalho, o silêncio de Iris contribuiu para equilibrar a disputa entre Vanderlan e Maguito, os dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto. “No fim das contas, ficou meio a meio. Ele ajudou Vanderlan ao não se posicionar em favor do MDB. Mas permitiu que o seu secretariado trabalhasse em favor de Maguito”.

Vanderlan
O professor de ciência política enxerga Vanderlan como o candidato que alcançou relativo sucesso na busca pelo voto de dois tipos de eleitor: o que não gosta de política e o que deseja renovação. “Parecem ser a mesma coisa, mas não são. São duas formas de pensamento. Para muitos que não viram Vanderlan exercer um cargo no poder Executivo, ele se apresenta como o novo em comparação com Maguito, que há pouco tempo foi prefeito de Aparecida, um município colado ao nosso, e governador”.
Guilherme afirma que um dos trunfos de Vanderlan é a rejeição baixa, mas abre um parênteses para o impacto negativo que causou a divulgação de um áudio, gravado pelo candidato, em que ele defende o senador Chico Rodrigues, flagrado pela polícia com dinheiro na cueca. “Quando aparece esse video, em que ele tem uma atitude bastante recriminada, o impacto é negativo. Felizmente, para ele, o decréscimo não foi significativo”.
O professor afirma que, ao contrário do candidato do MDB, Vanderlan não conseguiu ‘automatizar’ a sua campanha, ou seja: colocá-la para rodar com a mesma eficiência com que Maguito conseguiu. “A impressão que eu tenho é a de que não existe campanha do Vanderlan sem o governador Caiado. Não pode ser assim. O protagonismo do candidato tem que ser maior”.
Segundo turno vem aí
Todas as pesquisas de intenção de voto divulgadas até o momento projetam segundo turno entre Maguito e Vanderlan. O que varia é o percentual de cada candidato e a posição que ocupam na disputa. Há levantamentos em que o emedebista está em primeiro e há outros em que Vanderlan está na frente.
O professor Guilherme Carvalho afirma que outra peculiaridade desta eleição é o fato de haver tantos candidatos a prefeito (são 14, no total), o que, na sua opinião, contribui para que o eleitorado demore mais para decidir em quem votar. “Estamos vivendo um contrassenso. Com mais candidatos, a indecisão é maior. Eleitorado está mais ‘arredio” e com certo temor”, afirma.
O segundo turno se encerra no dia 29 de novembro. Há dúvidas sobre como Maguito vai se comportar, se é que vai conseguir sair do hospital para participar, de alguma forma, da campanha. E existe um enorme ponto de interrogação a respeito de como vai se comportar Vanderlan, que no começo liderava as pesquisas e agora está empatado com seu principal adversário.
Veja quem são os candidatos a prefeito de Goiânia:
Adriana Accorsi (PT) – 13
Alysson Lima (Solidariedade) – 77
Antônio Vieira (PCB) – 21
Cristiano Cunha (PV) – 43
Dra. Cristina Lopes (PL) – 22
Elias Vaz (PSB) – 40
Fábio Júnior (UP) – 80
Gustavo Gayer (DC) – 27
Maguito Vilela (MDB) – 15
Manu Jacob (Psol) – 50
Major Araújo (PSL) – 17
Samuel Almeida (Pros) – 90
Talles Barreto (PSDB) – 45
Vanderlan Cardoso (PSD) – 55
Vinícius Gomes da Paixão (PCO) – 29
Virmondes Cruvinel (Cidadania) – 23