SECRETÁRIO-EXECUTIVO

Galípolo, ex-presidente do Banco Fator, será número 2 de Haddad na Fazenda

Fernando Haddad busca criar um canal direto de interlocução com o mercado financeiro ao nomear o ex-banqueiro Gabriel Galípolo como secretário-executivo da pasta

 (Por Catia Seabra, Alexa Salomão, Idiana Tomazelli, da Folhapress) O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, busca criar um canal direto de interlocução com o mercado financeiro ao nomear o ex-banqueiro Gabriel Galípolo como secretário-executivo da pasta durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A informação sobre a nomeação, antecipada pela Folha de S.Paulo, foi confirmada nesta terça-feira (13) pelo futuro ministro após encontros com o chefe da equipe econômica de Jair Bolsonaro (PL), Paulo Guedes, e com o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto.

Lira frustra planos do PT e prevê concluir PEC na próxima semana; leia.

Um ponto de atenção para a gestão do ministério é que o secretário-executivo costuma ser alguém com experiência na máquina pública, justamente para não ter que aprender as funções da pasta junto com o novo chefe. Nesse caso, o desafio será duplo, pois tanto Galípolo quanto Haddad terão de aprender juntos como tocar o cotidiano da gestão fazendária.

A combinação será diferente da observada sob a gestão de Guedes, que escolheu alguém de dentro do funcionalismo para ser seu número dois. O secretário-executivo de Guedes, Marcelo Guaranys, é servidor de carreira do Tesouro Nacional e acumula diferentes experiências em cargos importantes da máquina federal -foi, por exemplo, presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) sob Dilma e secretário-executivo da Casa Civil sob Temer.

Como número dois de Haddad, o ex-Fator terá a missão de ser uma espécie de coordenador-geral das atividades da pasta, sobretudo em temas que exigem trabalhos conjuntos de mais de uma secretaria, além de substituir Haddad em sua ausência.

Pode amenizar esse ponto o fato de a Fazenda de Haddad ser um ministério significativamente menor do que a Economia de Guedes. Enquanto Guaranys teve que coordenar trabalhos em uma superpasta com sete secretarias especiais e a PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional), Galípolo terá sob seu comando um núcleo duro e enxuto da atividade fazendária (o que inclui Tesouro, Receita Federal, Secretaria de Política Econômica, PGFN e ao menos parte dos bancos públicos).

Galípolo e Guaranys, inclusive, devem se encontrar nos próximos dias para falar sobre as atividades na pasta -quando as missões do cargo poderão ser mais detalhadas ao novo ocupante.

Presidente do banco Fator de 2017 a 2021, Galípolo já esteve em campo oposto ao PT. Seja na presidência ou na diretoria de novos negócios do banco, cadeira que ocupou de 2016 a 2017, o economista atuou na modelagem das privatizações das privatizações da Cesp (Companhia Energética do Estado de São Paulo) e da Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Rio), ocorridas sob protesto de petistas.

Ele participou do grupo de trabalho dedicado à elaboração dos planos do futuro presidente petista para a economia. O ex-banqueiro também chegou a ser cotado para o comando do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas Lula escolheu Aloizio Mercadante.

Sua experiência na Faria Lima, avenida paulistana que sedia os principais bancos do país, deve proporcionar à gestão um olhar direto do setor privado sobre os mais variados temas em discussão na pasta e ainda ajudar no diálogo com representantes do mercado sobre as intenções da pasta.
Um dos conselheiros de Lula sobre mercado financeiro, o ex-banqueiro ganhou a confiança de Haddad ao participar da coordenação do plano de governo do ex-prefeito na disputa pelo estado de São Paulo, da qual o ex-prefeito saiu derrotado.

O futuro número 2 da economia chegou a organizar encontros entre Haddad e indecisos do mercado financeiro, além de ter participado de jantares com a presença de Lula.

Na reunião com Guedes, o futuro ministro do governo Lula indicou que pretende concluir a montagem de sua equipe até sexta-feira (16). Entre os postos-chave a serem definidos estão o comando do Tesouro e da Receita.

Nesta segunda, a possibilidade de o PT alterar a Lei das Estatais, para permitir que Mercadante possa ser indicado para comandar o BNDES, assim como para abrir caminho a outras nomeações políticas, derrubou a Bolsa e provocou a alta do dólar. Mas, segundo comentam integrantes do PT, há brecha para a nomeação de Mercadante mesmo sem alteração na lei.

Investidores preocupam-se com a sustentabilidade fiscal diante de uma equipe mais favorável a aumento de gastos públicos, em um cenário em que o governo eleito já busca elevar despesas em ao menos R$ 168 bilhões via PEC (proposta de emenda à Constituição) da Gastança, em tramitação no Congresso.
Nesta terça, ata divulgada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) mostrou que o BC está preocupado com o impacto de “estímulos fiscais significativos” tende a ser maior sobre a inflação do que sobre a atividade econômica em um ambiente de baixa ociosidade.

Apesar das questões fiscais, o foco no encontro de Haddad e Guedes nesta terça foi a estrutura e os processos de funcionamento da pasta, segundo interlocutores. Em uma reunião de quase duas horas, o atual ministro da Economia apresentou toda a sua equipe de secretários especiais, e cada área teve um tempo para explicar suas principais atribuições.

Haddad, por sua vez, buscou detalhes de como está a configuração atual do Ministério da Economia -que deve ser desmembrado em ao menos três pastas no novo governo do presidente eleito Lula.
A reunião foi descrita como “descontraída, pacífica e construtiva” por pessoas presentes. Antes do encontro com a participação dos secretários, Haddad e Guedes tiveram uma conversa reservada a sós, que durou aproximadamente meia-hora.

Saiba quem é Gabriel Galípolo:

Idade: 40 anos

Formação:

Tem graduação em ciências econômicas e mestrado em Economia Política pela PUC-SP

Carreira:

Durante o governo José Serra em São Paulo, foi chefe da assessoria econômica da Secretaria de Transportes (2007) e diretor da unidade de estruturação de projetos da Secretaria de Economia e Planejamento (2008). Em 2009 fundou a Galípolo Consultoria. Foi presidente do Banco Fator de 2017 a 2021. Foi professor da graduação da PUC-SP, e é professor do MBA de PPPs e Concessões da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo em parceria com a London School of Economics (LSE)

Publicações:

Tem três livros em coautoria com o economista Luiz Gonzaga Beluzzo: “Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo”, “A escassez na abundância capitalista” e “Dinheiro: o poder da abstração real”

Fonte: Cebri