ELEIÇÕES

Presidente do PSDB diz que candidatura própria ao Planalto é ‘assunto vencido’

Após o anúncio de desistência de João Doria (PSDB), o presidente do PSDB, Bruno Araújo, que…

Após o anúncio de desistência de João Doria (PSDB), o presidente do PSDB, Bruno Araújo, que acompanhou a fala do ex-governador paulista, afirmou que uma candidatura presidencial própria do partido é um “assunto vencido, no sentido de que a aliança é absolutamente fundamental”.

Araújo disse à imprensa, nesta segunda-feira (23), que a coligação com MDB e Cidadania em torno de um candidato único —hoje o nome da senadora Simone Tebet (MDB) é o escolhido— vai avançar.

“[A candidatura própria] é assunto construído e vencido, porque todos acompanharam desde dezembro quando nós iniciamos a construção e a compreensão de que nós precisávamos construir um nome”, completou. “O PSDB está firme nessa coligação.”

Os próximos passos são a discussão de programa conjunto e de alianças nos estados, além da escolha de um vice. “É natural é que vice seja do PSDB, mas é um processo de construção”, disse.

O dirigente também deu um recado para as alas do PSDB que ainda defendem uma candidatura própria tucana, desde que não seja a de Doria, e apostam que ainda haverá espaço para isso —se Simone Tebet for rifada pelo próprio partido, dividido entre lulistas e bolsonaristas.

“O Brasil não precisa neste momento de mais divisão interna no nosso campo. O gesto de João Doria nos obriga moralmente a todos nós. Quem fizer um movimento diferente desse está demonstrando que tem mais compromisso com si mesmo do que com o projeto de Brasil. Vamos seguir firmes no sentido de uma candidatura que una, no mínimo, esses três importantes partidos”, disse.

Os nomes de Eduardo Leite (RS) e Tasso Jereissati (CE) eram aventados pelos tucanos como possíveis candidatos presidenciais do PSDB. Também são cotados para ocupar a vaga de vice na chapa de Tebet.

Araújo minimizou as divisões internas no PSDB a respeito da adesão ao MDB. “Claro, como presidente do PSDB, eu gostaria muito que nós tivéssemos uma candidatura própria, mas há algo maior do que tudo isso, maior do que a vontade de João Doria, maior do que a minha vontade. A vontade agora é coletiva”, disse Araújo.

“Vamos dar um passo à frente agora. A construção agora não é só definir um nome, e o nome de Simone é um nome posto nesta construção, mas precisamos construir o projeto de compromisso de programa”, completou.

Ele ressaltou ainda que uma aliança estadual com o MDB é desejável sobretudo no Rio Grande do Sul, onde Leite pode concorrer à reeleição.

A escolha de Tebet, arquitetada há meses como forma de derrubar a candidatura de Doria, que era alvo de resistência no PSDB, foi embasada em pesquisa contratada pelos três partidos que indica a emedebista como mais viável eleitoralmente.

O tucano marcou 4% na última pesquisa Ipespe contra 2% de Tebet –o levantamento foi financiado pela XP. A enorme distância de Lula (PT, 44%) e Jair Bolsonaro (PL, 32%) evidencia o drama da terceira via.

Araújo disse ainda que outros partidos podem ainda integrar a coligação da terceira via e fez um convite para que a União Brasil volte para a mesa de negociação. “Seria muito bem-vindo de volta nessa construção”, declarou.

Ele disse também que “a responsabilidade de Simone Tebet aumenta” diante do gesto de Doria.

Ao desistir da candidatura, em pronunciamento nesta segunda, Doria não mencionou o nome de Tebet e nem declarou apoio a ela.

“Hoje, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom senso, o diálogo e o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal. O PSDB saberá tomar a melhor decisão no seu posicionamento para as eleições deste ano”, afirmou.

O presidente do PSDB, que integrava o movimento de pressão para que Doria desistisse e abrisse caminho para Tebet, elogiou a atitude do ex-governador e disse que ele terá o papel que quiser nestas eleições.

“Se essa terceira via, se esse nome, que no primeiro domingo de outubro vai receber milhões de votos de eleitores, for possível, hoje o artífice desse projeto tem nome e sobrenome: João Doria. […] Ele vai contribuir da forma que ele quiser. […] Mas nós queremos que ele tenha um papel e um protagonismo.”

Ele acrescentou que Doria indicou aos tucanos que irá se recolher nos próximos dias. E creditou ao gesto do tucano a possibilidade de unidade da terceira via. “Sozinhos não vamos a lugar nenhum”, afirmou.

“[Doria] faz o mesmo papel de Franco Montoro, de entrega, com espírito público, compreendendo o desenho do cenário, de fazer um movimento que possibilite a construção de uma unidade”, disse.

“A entrega que ele faz hoje é uma entrega à democracia, um compromisso com os brasileiros, que vai ser eternamente reconhecido pelo partido, por São Paulo e pelo Brasil”, completou.

“Ele mostra e desmente a impressão de muitos de que sua obstinação não seja maior do que seu espírito público”, disse ainda. Araújo afirmou esperar que a despedida de Doria seja um “até breve” e disse que o tucano “adiava” seus planos presidenciais.

Doria resistia a desistir com base no argumento de que vencera as prévias presidenciais tucanas em novembro. O pleito interno custou R$ 12 milhões de verba pública.

Questionado sobre a desmoralização das prévias após as pressões para que Doria desistisse, Araújo respondeu que as prévias foram um grande ensinamento e que fizeram a imprensa falar do PSDB.

“[A prévia] demonstrou a capacidade operacional, a dedicação e apresentou ao Brasil, que São Paulo já conhecia, o nível de comprometimento de João Doria. E entregou e revelou ao Brasil a mais jovem liderança nacional, que é Eduardo Leite. E tirou o PSDB de uma posição coadjuvante.”

Araújo também fez gestos ao governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB). O dirigente considera a reeleição do paulista como uma prioridade do partido.

Em entrevista à Folha, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) declarou que a preferência por Tebet serve aos interesses de Rodrigo, que não queria Doria como candidato para não contaminar sua campanha com a rejeição do antecessor.

Aliados de Rodrigo e de Araújo negam que tenha havido uma conspiração contra Doria. Eles argumentam que o ex-governador deu aval às negociações da terceira via.

Auxiliares de Doria admitiram, na semana passada, que sua pré-candidatura havia ficado insustentável depois que mesmo a bancada paulista do PSDB e Rodrigo, que o apoiaram nas prévias, passaram a operar contra o ex-governador.

Na última terça-feira (17), a maior parte da executiva do PSDB, em reunião, avaliou que Doria prejudicaria os demais candidatos do partido, o que ampliou a pressão para que o ex-governador paulista desistisse —algo que seus aliados sempre negaram.