Militares acusados de matar irmãos em Trindade são absolvidos pelo Tribunal do Júri
Família ainda esperavam responsabilização pelos disparos que mataram Victor e Kalebe em 2020

Três policiais militares acusados pelas mortes dos irmãos Victor de Paula Araújo, de 21 anos, e Kalebe de Paula Araújo, de 18, ocorridas em janeiro de 2020, no Setor Maysa II, em Trindade, foram absolvidos nesta terça-feira (2) pelo Tribunal do Júri, após quase seis anos de tramitação do processo na Justiça. A promotoria sustentou que a abordagem terminou de forma violenta e inesperada, sem chance de reação para as vítimas: Victor foi atingido por três disparos, enquanto Kalebe levou dois tiros. Para o MP, houve excesso na ação e tentativa de alterar a cena para sustentar a versão de confronto.
Durante o julgamento, que se estendeu por horas no plenário do Tribunal do Júri de Trindade, os jurados ouviram testemunhas, os acusados e profissionais que atenderam a ocorrência. A defesa manteve a tese de que os policiais reagiram após serem surpreendidos por supostos disparos vindos do interior da residência, alegando que a equipe agiu para preservar a própria vida.
Mesmo após quase seis anos do crime, os familiares ainda aguardavam algum tipo de responsabilização. O pai dos jovens, Eligar Silva Araújo, reforçou durante o julgamento, que um dos filhos estava estudando no momento da abordagem e que não havia armas dentro da residência. O júri foi formado por seis mulheres e um homem. Outras 11 testemunhas foram ouvidas, incluindo os três militares acusados. Durante o processo, a acusação apontou inconsistências na investigação, como o intervalo entre os disparos e o chamado por socorro, além do fato de que as armas atribuídas às vítimas não apresentavam impressões digitais. Outro ponto que gerou debate foi a chegada de reforços policiais antes da entrada da equipe de resgate.
Leia mais
- Quatro militares são denunciados pela morte de irmãos em Trindade
- Perícia não localiza digitais nas armas encontradas na casa dos irmãos Victor e Kaleb
A defesa, por sua vez, destacou que os militares atendiam uma denúncia de tráfico de drogas na região e que, ao tentar abordar um dos irmãos, teriam sido surpreendidos. Sustentou ainda que os disparos aconteceram durante uma tentativa de contenção da situação, já nos fundos da residência. Com base nas versões apresentadas, o Conselho de Sentença os três acusados por considerarem que eles agiram em legítima defesa e no estrito cumprimento do dever legal. Com isso, a Justiça julgou improcedente a denúncia.
O Mais Goiás tentou contato com familiares das vítimas e com as defesas dos acusados, mas não obteve resposta até o fechamento desta.
Relembre o caso
Os irmãos morreram no dia 6 de janeiro, em uma ação da Polícia Militar (PM), no Setor Maysa II, em Trindade. Segundo a corporação, houve confronto policial e ambos eram suspeitos de envolvimento com tráfico de drogas, porte ilegal de armas e participação em uma facção criminosa. De acordo com o capitão Sérgio, do Bope, cada um dos suspeitos possuía mais de 20 antecedentes criminais. Na residência, foram apreendidos dois tabletes de maconha, três armas de fogo e um simulacro.
Entretanto, a família dos jovens contestou a versão apresentada pela corporação. “Só uma das vítimas tinha envolvimento com drogas”, afirmou um familiar ao Mais Goiás, preferindo não se identificar. Segundo ele, seria Victor quem teria se envolvido com o tráfico.
O primo dos rapazes contou que, no momento do ocorrido, ambos jogavam vídeo game. Quando a família chegou ao local, a tela do computador ainda estava ligada. “Os rapazes moravam com o pai, que estava trabalhando”, disse. A mãe dos jovens havia falecido em 2014, e não havia mais ninguém na casa além das vítimas. Muito abalado, após perder os filhos também, o homem decidiu vender a residência e se mudar do bairro.
Leia também