HOMICÍDIO E FRAUDE PROCESSUAL

Quatro militares são denunciados pela morte de irmãos em Trindade

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) denunciou quatro policiais militares pela morte dos irmãos Victor…

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) denunciou quatro policiais militares pela morte dos irmãos Victor de Paula Araújo e Kalebe de Paula Araújo. (Foto: reprodução/redes sociais)

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) denunciou quatro policiais militares pela morte dos irmãos Victor de Paula Araújo e Kalebe de Paula Araújo. O crime ocorreu no dia 6 de janeiro, no interior da residência em que as vítimas moravam, no Setor Maysa 2, em Trindade. Os policiais foram denunciados por homicídio qualificado e fraude processual. Os militares sustentam a versão de confronto. A família das vítimas, no entanto, negou. Perícia realizada no imóvel constatou que houve alteração na cena do crime e que as armas e drogas apresentadas não possuíam impressões digitais dos irmãos.

Conforme expõe o órgão, foram denunciados os militares Ricardo da Costa Faria, Carlos Pinheiro Lopes, Leonardo de Oliveira Cerqueira e Jefferson da Silva Gomes, todos lotados no Batalhão de Operações Especiais (Bope) de Goiânia. O Mais Goiás entrou em contato com a corporação em busca de um posicionamento e aguarda retorno.

Em depoimento, os militares afirmaram que foram alvo de disparos, e, por isto, revidaram. A família dos jovens sempre negou a versão. Victor de Paula Araújo foi atingido por três disparos de arma de fogo e Kalebe de Paula Araújo foi atingido duas vezes.

Os disparos

À Polícia Civil, os PMs disseram que chegaram na casa dos irmãos por volta das 10h50 e decidiram entrar no imóvel, pois foram informados de que Victor Araújo seria foragido da Justiça, portaria arma de fogo e utilizava a casa como ponto de venda de drogas.

Conforme a denúncia do promotor Eudes Leonardo Bomtempo, o policial Jefferson estacionou a viatura na porta da residência e ficou na rua dando segurança aos demais. Todos portavam armas de grosso calibre. Reprodução simulada dos fatos mostrou que a equipe gastou 2 minutos e 24 segundos para entrar no imóvel. Os policiais permaneceram mais de meia hora no local, quando foram ouvidos, por testemunhas, gritos ordenando que as vítimas permanecessem deitadas ou sentadas, além de súplicas dos dois irmãos para que não fossem mortos.

Os tiros, de acordo com a peça acusatória, foram disparados por volta das 11h36. “Após os primeiros disparos, o denunciado Jefferson da Silva Gomes ligou a sirene da viatura. Foi ouvida outra sucessão de tiros nos fundos da residência, exatamente onde os corpos das vítimas foram encontrados posteriormente pelas equipes de socorro”, relatou o promotor. As duas sequências de tiros ocorreram, segundo a denúncia, cerca de 30 minutos depois que a equipe do Bope entrou no imóvel.

Socorro

De acordo com a denúncia, após as vítimas já caídas, imóveis e sangrando nos corredores do fundo da casa, os militares fizeram uma busca na residência. Em seguida, Jefferson foi orientado por Carlos Pinheiro Lopes a dar uma volta no quarteirão com a sirene ligada e, assim que retornasse, chamasse o socorro médico.

Antes do socorro médico, outras equipes da Polícia Militar chegaram ao local e entraram no imóvel. Passados alguns minutos, chegaram duas ambulâncias, uma do Corpo de Bombeiros e outra do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Conforme relatado pelos socorristas, os denunciados afirmavam, a todo instante, que as vítimas ainda estavam vivas.

A denúncia narra, porém, que as equipes médicas não constataram sinais vitais nos dois irmãos, mas, devido à coação dos demais policiais e também dos próprios denunciados, fizeram procedimentos de reanimação nas vítimas. Em seguida, as vítimas foram levadas para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Setor Soares, em Trindade, onde os óbitos foram confirmados.

Ainda de acordo com o MP, após a retirada das vítimas, os policiais militares não providenciaram o isolamento do local para a realização de exames periciais.

Alteração na cena do crime

Segundo o Ministério Público, os policiais militares apresentaram à Polícia Civil três armas de fogo, um simulacro de pistola e três tabletes de maconha que teriam sido encontrados na residência. No entanto, o laudo pericial não constatou impressões digitais nos objetos. A perícia de vistoria no local do crime foi realizada às 18 horas e revelou que “teria havido manipulação do ambiente por parte dos policiais” e que o “local encontrava-se sem quaisquer medidas de isolamento”, motivo pelo qual, os peritos constataram que o local se tornou “inidôneo”.

De acordo com o promotor de Justiça Eudes Leonardo Bomtempo, os procedimentos adotados pelos denunciados prejudicaram a obtenção de elementos relativos à dinâmica de toda ação policial desenvolvida por eles no interior da residência. Para ele, os militares, intencionalmente, alteraram o estado de lugar, coisas e pessoas, com o fim de induzir a conclusões equivocadas e afastar a responsabilidade penal deles pela morte das vítimas.

Os policiais militares foram denunciados por homicídio com a qualificadora de utilização de recurso que dificultou a defesa das vítimas. “Percebe-se uma superioridade de forças, pois os denunciados agiram conjuntamente, com equipe composta por quatro integrantes de operações especiais, portanto com treinamento tático e fortemente armados. Enquanto as vítimas estavam em flagrante desvantagem e, neste contexto fático, tiveram, portanto, reduzidas as possibilidades de reação e fuga”, narrou.