EMPREENDEDORISMO

Sommelier de cervejas de Pirenópolis diz que ‘zero álcool’ é tendência que veio pra ficar

Thony Augusto Rodrigues afirma que nova geração é adepta do consumo consciente e valoriza marcas que promovem a cultura regional

O sommelier de cervejas Thony Augusto Rodrigues, que mora em Pirenópolis e é jurado do maior concurso de rótulos do país, o Copa Cerveja Brasil, aponta duas tendências importantes para o mercado cervejeiro nacional: 1) marcas que investem na identidade regional (tanto nos ingredientes, quanto no marketing) sairão na frente das outras; e 2) o consumo de variedades ‘zero álcool’ e ‘low carb’ é crescente e continuará a ser por um bom tempo.

Thony abordará esses tópicos em uma palestra que ele ministrará na Feira do Empreendedor, evento promovido pelo Sebrae no Centro de Convenções de Goiânia entre os dias 29 de outubro e 1º de novembro. Na edição desse ano, o Sebrae convidou consultores de diferentes nichos de mercado, entre eles o das cervejas artesanais, para conversar com empreendedores que pretendem entrar (ou acabaram de fazê-lo) no mundo dos negócios. A palestra de Thony acontece neste sábado (1º), às 15 horas.

Como exemplo de marca que se deu bem investindo na identidade regional, o sommelier cita a goiana Colombina, que nasceu em 2014 e foi recém-premiada com o rótulo “Romaria”, e outras pelo Brasil afora. “A Colombina é um dos principais expoentes das frutas regionais no Brasil”, afirma Thony. “Ela usa frutas como cagaita, cajuzinho do Cerrado, castanha de baru, baunilha do Cerrado e por aí vai. Já um exemplo da regionalidade presente no marketing e no storytelling é a Santa Dica, de Pirenópolis”.

Já a tendência de consumo crescente de cervejas zero álcool e low carb, segundo Thony, deriva do estilo de vida e dos padrões de comportamento da nova geração, adepta do consumo consciente e avessa, na média geral, a excessos na ingestão de álcool.

“Temos cada vez mais pessoas buscando por cervejas sem álcool, e por bebidas saudáveis de modo geral. Essa galera de hoje é mais fitness, adepta de dietas e restrições alimentares que convergem para o consumo consciente”, afirma o consultor. “É uma tendência que veio para ficar porque as possibilidades são infinitas: o mestre-cervejeiro pode combinar os vários lúpulos com uma série de adjuntos diferentes, só que sem o álcool. A busca por sabores é interminável”, complementa.

A mudança no perfil da geração se reflete também no local em que a cerveja está sendo consumida. “Isso interfere na medida em que as pessoas deixam de ir ao bar, que é a principal porta de saída do produto. O caminho passa a ser a inscrição de rótulos em festivais como o Piribier, as lojas especializadas, parcerias com estabelecimentos que vendem cestas de presentes e outros nos quais a gente antes não entrava, como as adegas, os restaurantes de alta gastronomia e as casas de cortes de carne especiais”.

Mais uma tendência que Thony levará para debater com os empreendedores na feira do Sebrae é a da sustentabilidade, que está presente também em outros nichos de mercado. Ele entende que é importante o investidor considerar a possibilidade de se investir em planta de energia solar, reuso de água e outros processos que façam com que a linha produtiva agrida menos o meio ambiente.

Marketing

Além de prestar atenção aos caminhos que o mercado de cervejas artesanais está seguindo, o sommelier afirma que o empreendedor precisa profissionalizar a gestão do marketing da empresa dele, de modo a não cometer o erro comum de confiar em profissionais que não têm a qualificação necessária. Ele diz que hoje há profissionais altamente especializados nesse nicho de mercado, e recomenda que o empresário recorra a eles.

“Eu acredito que a gente precisa investir mais em redes sociais. É um ‘vendedor’ 24 horas, onde você recebe o feedback de clientes. O que vemos hoje é muita gente trabalhando de forma amadora, orgânica até demais. Sugiro também criar clubes de assinaturas, e participar de todos os festivais e eventos de cerveja possíveis, porque eles são uma oportunidade de ganhar medalhas e de entrar em mercados novos”, diz.

Mercado goiano

O mercado em Goiás, como o de muitas outras regiões do Brasil, balançou com a pandemia da Covid-19. Cervejarias ancoradas em rótulos caros foram as que mais sofreram, enquanto que o consumo de marcas mais baratas, sobretudo as vendidas no supermercado, cresceu. “O mundo resetou, tudo que a gente vinha construindo mudou. Algumas cervejarias se adequaram para lançar pilsen long neck, mas só as mais estruturadas que conseguiram fazer essa manobra”, lembra o especialista.

Quatro anos depois do período mais crítico do isolamento social, Thony enxerga um comportamento maduro dos cervejeiros em Goiás. “Vejo empreendedores cada vez mais aptos a buscar alternativas e a se reposicionar no mercado, quando é necessário”.

Atualmente, Goiás ocupa o 8º lugar no ranking por número de cervejarias, contando com 39 registros (quatro a menos que 2023). O Brasil possui uma cervejaria registrada para cada 109.073 habitantes, ao passo que Goiás tem uma cervejaria registrada para cada 188.474 habitantes.

O Centro-Oeste conta com 99 cervejarias, que produziram juntas 1,04 bilhões de litros em 2024.

O consultor

Thony é sommelier de cervejas, representante comercial da marca de cervejas Santa Dica, em Pirenópolis, jurado da Copa Cerveja Brasil, diretor de eventos da Abracerva Goiás e atua no mercado desde 2012. Faz a produção do Piribier e promove eventos de educação etílica e cursos de atendimento ao público.

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