RECORDE

Mundo se aproxima de média de 2 milhões de casos de Covid por dia

Menos de duas semanas após registrar média móvel de novos casos de Covid superior a…

Menos de duas semanas após registrar média móvel de novos casos de Covid superior a 1 milhão pela primeira vez desde o início da pandemia, o mundo se aproxima do recorde de 2 milhões. O surgimento da variante ômicron foi uma alavanca para o salto nos registros, enquanto o avanço da imunização conseguiu impedir que movimento semelhante ocorresse no número de mortes.

A média de novos casos diários nesta sexta-feira (7) foi de 1,96 milhão, segundo levantamento da plataforma Our World in Data, ligada à Universidade Oxford. Trata-se da cifra mais alta desde que o Sars-CoV-2 foi identificado, há pouco mais de dois anos. Já o número bruto de novas infecções, se desconsiderada a média, é de 2,52 milhões.

A média móvel é um recurso estatístico que busca dar visão mais precisa da evolução da doença, uma vez que atenua, por exemplo, dados represados pelos sistemas de informação. O cálculo é feito somando o resultado dos últimos sete dias e o dividindo por sete. No dia seguinte, é acrescentada a informação do período mais recente e excluído o dia mais antigo para o novo cálculo da média.

Ainda que o salto no número de casos preocupe autoridades nacionais e leve governos a retomarem restrições que haviam sido levantadas, os registros de morte em decorrência da Covid não apresentam o mesmo crescimento, algo assegurando, em grande parte, devido ao avanço da imunização contra a doença.

A média móvel de mortes diárias no mundo alcançou 5.855 nesta sexta, ainda segundo a plataforma Our World in Data. Há um ano, o número chegou a ser superior a 18 mil e, em maio e abril do último ano, frente à disseminação da variante delta, girou em torno de 15 mil e 16 mil.

Estudos ainda estão sendo feitos para compreender as características da ômicron e seu potencial para agravar a crise sanitária. A OMS (Organização Mundial da Saúde), porém, já alerta que descrever a cepa como branda é um equívoco, mesmo que análises preliminares sugiram que ela tem probabilidade menor de causar casos graves da doença.

Sequenciada em novembro por cientistas da África do Sul, a ômicron é altamente contagiosa e tem se tornado a variante predominante em diversas nações, que assistem a uma nova onda da Covid e à saturação dos sistemas de saúde locais. Nos Estados Unidos, por exemplo, a variante já é a responsável por mais de 95% dos novos casos da doença, de acordo com dados divulgados nesta semana pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

O cenário tem levado diversos governos a criarem incentivos à imunização —como na Alemanha, onde somente aqueles com a dose de reforço são dispensados de apresentar um teste negativo para frequentar bares e restaurantes. Autoridades também tiveram de recorrer às Forças Armadas para que enviassem equipes médicas aos hospitais sobrecarregados, como nos EUA e no Reino Unido.

Também no Reino Unido, um dos primeiros países a observar as consequências da ômicron e retroceder na abertura, um movimento inusitado aconteceu. Com hospitais abarrotados de pacientes e falta de mão de obra devido ao alto número de profissionais infectados, líderes sindicais apelaram às autoridades, nesta sexta, para que adiem a entrada em vigor da obrigatoriedade da vacina para trabalhadores de saúde.

Segundo determinação do governo, eles devem tomar a primeira dose até o dia 3 de fevereiro se quiserem manter seus trabalhos. Os sindicalistas, no entanto, argumento que a medida levará a um êxodo ainda maior dos profissionais, agravando a crise de pessoal vivida no NHS, serviço público de saúde do país.

O etíope Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, falou nesta quinta (6) em um “tsunami” de novos casos globais impulsionados pela ômicron e voltou a fazer um apelo que lhe tem sido recorrente desde que o imunizante contra a Covid foi desenvolvido: o de que, sem equidade na distribuição de vacinas, será impossível controlar de fato a pandemia.

De acordo com os cálculos na OMS com base na taxa atual de acesso ao imunizante, 109 países —as Nações Unidas reconhecem, ao todo, 193 nações— não cumprirão a meta da organização de vacinar 70% de suas populações até o meio deste ano. Não é a primeira vez que isso acontece: mais de 50 países não atingiram meta anterior de vacinar 10% dos habitantes até setembro do último ano, por exemplo.

A repetição da desigualdade global no acesso aos imunizantes preocupa especialmente à medida que a identificação e transmissão de novas variantes, como a ômicron, dão visibilidade ao argumento científico de que, sem parcela majoritária da população vacinada, a doença continuará a se propagar com altos níveis de contágio.

“Um pequeno número de países não acabará com a pandemia enquanto bilhões de pessoas permanecerem completamente desprotegidas”, ressaltou Tedros Adhanom. Pelo menos 36 nações nem sequer alcançaram 10% de cobertura vacinal, ainda segundo a OMS.

Metade da população mundial completou o primeiro ciclo de imunização contra a Covid —tomou as duas doses ou a dose única do imunizante—, enquanto 9,17% estão apenas com a primeira dose. Essas cifras, no entanto, apresentam variações consideráveis quando a amostra de comparação são os continentes. Líder em imunização, a América do Sul tem 64% da população com esquema vacinal completo, enquanto a África tem somente 9,6%, por exemplo. Os dados são do Our World in Data.