Comportamento

Comida nenhuma vai pro prato sem passar antes pela balança

Vida virou um inferno quando a balança digital se tornou um entreposto obrigatório no trajeto percorrido pela comida da panela para o prato

Balança digital de cozinha. Foto: Divulgação
Balança digital de cozinha. Foto: Divulgação

Não há refeição alguma na minha casa que não comece com essa pergunta. A vida era muito mais fácil quando o parâmetro para fazer um prato era o olhômetro. Eu gostava dessa sombra e água fresca (obrigado, Rita Lee). Você via mais ou menos o tanto de arroz que seria suficiente para dar conta de sua fome. Jogava em cima a quantidade de feijão que lhe agrada. Separava a mistura. Um punhadinho de salada ao lado para pagar de saudável e pronto: o prato para o almoço estava ao dispor do esfomeado.

Isso agora é coisa de priscas eras, quase um hábito mesopotâmico. Nesse corre-corre-corre danado (obrigado, Rita Lee) tudo hoje tem que ser pesado antes de ir para o prato. E a comida deixou de ser comida. Não é arroz, feijão, carne e salada. Agora é categoria do carboidrado que se abre em opções que contam com pesos diferentes para cada refeição do dia. O mesmo vale para a porção de proteína.  

Como dizem as faixas de protesto das torcidas organizadas de times em má fase: ACABOU A PAZ. Tudo mais quente que o inferno (obrigado, Rita Lee). E não há santo que dê conta de voltarmos a vida simples e calma de fazer o prato e sentar para almoçar antes de encarar o segundo tempo da jornada de trabalho. 

O pior de tudo é que não entrei nessa roubada da comida no peso por livre e espontânea vontade. Minha companheira engatou nervoso na mais perigosa das drogas contemporâneas, o crossfit. Isso teve consequências pra toda família. A balança regulando quantos gramas pesam uns grãos de arroz jogados no prato é consequência direta disso.

Conselho de amigo: se um ente querido começar a mexer com crossfit, internação compulsória é um ato de amor.

Como temos um pacto em casa de que na roubada que um se mete todos acompanham, cá estou eu pesando um bife e uma colher de feijão tropeiro no almoço.

E eu que me orgulhava de ser o roqueiro brasileiro que tem cara de bandido (obrigado, Rita Lee), agora sou o cara que tem uma balancinha digital na cozinha para ser fitness. Nunca imaginei que chegaria tão longe. Eu só queria saúde pra gozar no final (muito obrigado sempre, Rita Lee)…

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução