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Covid matou o triplo dos números oficiais no mundo em dois anos, aponta estudo

A pandemia causada pela Covid-19, nos dois primeiros anos, matou cerca de 18,2 milhões de…

Cemitério em Manaus-AM (Foto: Sandro Pereira/Fotoarena/Agência O Globo)
Cemitério em Manaus-AM (Foto: Sandro Pereira/Fotoarena/Agência O Globo)

A pandemia causada pela Covid-19, nos dois primeiros anos, matou cerca de 18,2 milhões de pessoas no mundo. Estudo aponta ser o triplo da soma das cifras oficiais notificadas pelos governos. O número consta no levantamento publicado ontem (10), por uma colaboração internacional de 97 cientistas de 20 instituições diferentes. O relatório, segundo especialistas, é o retrato mais completo do impacto do coronavírus na saúde mundial feito até o momento.

Feita com base em dados, a estimativa mostra um número de 191 sobre “óbitos excedentes”, ou seja, a quantidade de mortes que ocorreu em 2020 e 2021, comparada com a quantidade de mortes que era esperada. Para criar um parâmetro de comparação, os cientistas estabeleceram como linha de base os dados de mortalidade dos 11 anos anteriores à pandemia, descontando eventos de grande mortalidade como guerras e situações similares.

“Nossa estimativa da mortalidade excedente pela Covid-19 sugere que o impacto da mortalidade pela pandemia foi mais devastador do que a situação documentada pelas estatísticas oficiais”, escreveram os cientistas, em estudo na revista Lancet.

O grupo liderado por Haidong Wang, epidemiologista do Instituto para Métrica e Avaliação em Saúde (IHME), ligado ao governo dos EUA disse que “entre os países com maior número absoluto de mortes excedentes, aqueles com maior taxa de mortalidade excedente são a Rússia e México. Brasil e EUA tiveram números similares”.

Rússia, México e EUA

O estudo estima ainda que, para cada 100 mil habitantes, a Rússia registrou 375 mortes a mais que o esperado. No México o número foi de 325, enquanto no Brasil e nos EUA os números foram de 187 e 179.

Para retratar a realidade brasileira, o estudo contou com Paulo Lotufo, professor de epidemiologia da USP, Fátima Marinho, da consultoria Vital Strategies, e outros cientistas conhecidos no meio acadêmico brasileiro.

A estimativa deles é de que a pandemia provocou 173 mil mortes no país em dois anos, que se somariam às 619 mil notificadas oficialmente por Covid-19.

O país que mais sofreu com a pandemia no mundo, de acordo com o estudo na Lancet, foi a Bolívia que regitrou 734 mortes a mais por 100 mil habitantes do que o esperado no período. O estudo revelou também quais foram os países que mais bem se saíram na contenção da pandemia. Islândia, Austrália, Nova Zelândia, Cingapura e Taiwan foram tão bem que tiveram menos mortes do que o esperado em uma situação sem pandemia.

Uma das grandes contribuições do estudo foi estimar a mortalidade excedente ocorrida em países da África Subsaariana, onde não apenas as mortes por Covid-19 foram subnotificadas, mas óbitos por outros motivos também acabaram sem registro, em razão da infraestrutura precária da região. Para fazer isso, os autores usaram uma série de modelos estatísticos para inferir a quantidade de mortes a partir de dados incompletos que os países conseguiam coletar.

A Tanzânia foi o país do mundo com menor capacidade para confirmar mortes por Covid-19. Apenas 737 óbitos foram registrados pela doença em dois anos, mas a mortalidade excedente no país foi de 132 mil pessoas, afirmam os pesquisadores. Situação semelhante foi vista em outros países populosos da região, como a Nigéria.

A África do Sul teve uma taxa de notificação melhor, mas por outro lado, foi mais impactada pela pandemia do que muitos dos países mais pobres do continente. A Suazilândia e o Lesoto foram os países africanos mais impactados, com mais de 500 mortes excedentes por 100 mil habitantes.

Nível continental

No nível continental, o sul da Ásia foi a área mais impactada, com 5,3 milhões de mortes excedentes, seguida do Norte da África/Oriente Médio, com 1,7 milhões e o Leste Europeu, com 1,4 milhões. Acredita-se que a maior parte das mortes não notificadas tenham ocorrido de fato por Covid-19, apesar de o aumento na mortalidade poder ter sido impactado também por outros fatores, como superlotação de hospitais durante os momentos mais dramáticos.

Entender a verdadeira taxa de mortalidade da pandemia é vital para a tomada de decisões efetiva em políticas públicas — afirmou Wang em comunicado enviado à imprensa. — Com mais estudos será possível revelar como muitas mortes foram causa direta da Covid-19 e quantas ocorreram como resultado indireto da pandemia.

Com informações O Globo