DEPOIMENTO

À CPI, Terra cita erro em previsões e relativiza imunidade de rebanho

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) declarou nesta quarta-feira (22), em depoimento à CPI da…

Parlamentar também minimizou os erros cometidos por ele ao tentar prever, no ano passado, o número de mortes decorrentes do coronavírus
Parlamentar também minimizou os erros cometidos por ele ao tentar prever, no ano passado, o número de mortes decorrentes do coronavírus (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) declarou nesta quarta-feira (22), em depoimento à CPI da Covid, que a tese de imunização de rebanho é consequência natural de qualquer pandemia e afirmou que as medidas de restrição, como o isolamento social e o lockdown, não salvaram sequer uma vida durante a crise sanitária provocada pela covid-19 — apesar de evidências científicas mostrarem justamente a importância deste tipo de medida para conter a disseminação do coronavírus.

O parlamentar também minimizou os erros cometidos por ele ao tentar prever, no ano passado, o número de mortes decorrentes do coronavírus. Em uma de suas apostas, Terra disse que o país teria cerca de 2.000 óbitos. No último sábado (19), o Brasil ultrapassou a marca de 500 mil vidas perdidas.

O emedebista, que foi ministro da Cidadania do governo Bolsonaro até 14 de fevereiro do ano passado, é médico de formação e, com base nas investigações da CPI, é apontado como padrinho do chamado “gabinete paralelo”.

Alvo da comissão, o grupo com viés negacionista e sem vínculo com o Ministério da Saúde teria funcionado como uma consultoria informal ao presidente da República em questões relacionadas à pandemia, como o incentivo ao uso da cloroquina (remédio sem eficácia para tratamento da covid-19) e o processo de aquisição de vacinas. Além de Terra, fizeram parte dessa estrutura a médica Nise Yamaguchi, o ex-assessor Arthur Weintraub, o empresário Carlos Wizard, entre outros. Todos são investigados pela CPI.

Indagado sobre a imunização de rebanho —efeito que ocorre quando a maioria da população, já tendo sido contaminada, desenvolve naturalmente anticorpos contra uma determinada doença—, Terra alegou que suas manifestações durante da pandemia da covid-19 teriam sido “deturpadas”. Na versão dele, não houve defesa a essa tese na condição de política pública.

“Não existe nenhuma proposta aqui de deixar a população se contaminar livremente. Nunca se fez isso. A imunidade de rebanho é uma consequência. A imunidade de rebanho é como terminam todas as pandemias, é o resultado final”, disse Osmar Terra.

O depoente afirmou ainda que “trancar” as pessoas em casa por 18 meses até que se tenha uma vacina é uma proposta “fora da realidade”.

“Se trancar todo mundo em casa por 18 meses, as pessoas, em um mês, dois meses, vão morrer de fome. O mundo tem que funcionar para as pessoas se alimentarem, para terem assistência médica, para terem os serviços públicos mínimos, para terem segurança, para terem as coisas… A indústria não pode parar. Então, se criou um medo e um pânico.”

Já sobre as previsões erradas quanto ao número de mortos na pandemia, o depoente se justificou ao dizer que elas se baseavam nos dados disponíveis à época, em referência aos primeiros meses da crise sanitária, entre fevereiro e março de 2020.

Segundo Terra, por outro lado, houve por parte de instituições acadêmicas e entidades de pesquisa previsões que ele classificou como “apocalípticas”, isto é, que calculavam um número de óbitos fora de um patamar supostamente razoável. Na visão do deputado, essas informações “assustaram muito a humanidade” e teriam sido responsáveis por disseminar “pânico”.

“Assustaram e criaram um efeito de manada, vamos dizer assim, em decisões em cascata de governantes, fechando tudo, trancando tudo, em cima de uma proposta que era de supressão”, declarou.

“Os fatos concretos que existiam em fevereiro e março eram a epidemia da China. A China teve um surto completo. Ela começou, subiu, desceu e terminou. Tem 4.000 mortes na China até hoje. Era o surto que tinha na época para ser analisado: 4.000 mortes num país de 1,4 bilhão de habitantes nos levaram à ideia de que não seria uma coisa tão grave.”