Investigação

Anestesista colombiano preso por estupro em cirurgias apagou vídeos com medo de ser preso

Andres Eduardo Oñate Carrillo, de 32 anos, teria se gravado abusando das vítimas; ele também é investigado por produzir e armazenar pornografia infantil

Preso temporariamente nesta segunda-feira, por agentes da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav), por estupro de vulnerável o colombiano Andres Eduardo Oñate Carrilo, de 32 anos, apagou vídeos de seu celular com medo de ser preso. Em depoimento à Polícia Civil, o suspeito de violentar ao menos duas mulheres sedadas durante cirurgias confessou que é ele que aparece nas imagens gravadas. Segundo os investigadores, o médico, que atuava em unidades públicas e particulares do Rio, ainda gravava os crimes e armazenava o conteúdo. A polícia também cumpriu mandado de busca e apreensão no imóvel.

Na próxima etapa da investigação, a Polícia Civil realizará perícias nos computadores e aparelhos apreendidos. Um dos objetivos será tentar recuperar provas que possam ter sido deletadas pelo anestesista. As duas pacientes gravadas pelo médico estavam numa mesa de cirurgia e aparentavam estar desacordadas por efeito da anestesia. Uma das vítimas foi operada no Hospital Estadual dos Lagos Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o médico deixou de atuar na unidade em setembro de 2021.

A outra vítima era uma paciente de hospital da rede federal do Rio. Em nota, a direção geral do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ)informou que “está colaborando com a Coordenação de Relações Institucionais e Articulações com a Sociedade (Corin/UFRJ), que foi acionada para o caso, que está sob sigilo judicial. Não houve denúncias à nossa unidade”.

Segundo o hospital do Fundão, “Andres Carrilho ingressou em um curso técnico-prático (semelhante a uma especialização) em março de 2018 e concluiu em fevereiro de 2021. Este curso tem uma vaga oferecida a estrangeiros e segue uma rígida seleção, sendo coordenado pela CAE (Coordenação de Atividades Educacionais). Suas etapas foram percorridas regularmente assim como o número de horas-aulas exigidas. O curso realizado resulta em um certificado que permite a ele participar de cirurgias e/ou procedimentos sempre com a supervisão de um profissional responsável. Para fins de registro no Cremerj como especialista no Brasil, o certificado precisa ser reconhecido em seu país de origem”.

Em seu depoimento na delegacia, o anestesista afirmou que nunca abusou sexualmente de crianças, “mas satisfaz sua libido vendo imagens e vídeos tanto de meninos quanto meninas”. Para conseguir acessar as imagens, ele buscava por links escondidos em plataformas de vídeos.

Preso pela manhã em casa

Andres Eduardo foi preso no apartamento em que mora com a  noiva, em um condomínio da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O médico está em situação legal no país e atua tanto em hospitais públicos quanto particulares.

A Justiça expediu o mandado de prisão e busca e apreensão contra Andres por estupro de vulnerável. O médico é ainda investigado por produzir e armazenar pornografia infantil em um outro inquérito. Ele mantinha arquivadas em equipamentos eletrônicos mais de 20 mil imagens de abuso sexual envolvendo crianças a adolescentes. A análise do material chamou atenção pela gravidade e quantidade de arquivos, que incluíam até bebês com menos de um ano de vida.

— É um arquivo extremamente violento, em grande quantidade. Podiam ser vistos bebês de colo, de menos de um ano, sendo abusados sexualmente, sendo obrigado a participar de sexo com adultos. Algo que chocou até mesmo agentes mais experientes. Pesquisando esses conteúdos, foram encontrados dois vídeos em que esse suspeito ainda estuprou duas pacientes durante o procedimento de anestesia pré-cirúrgico. Ele foi preso, prisão temporária de 30 dias, vai ser recolhido. E, no decorrer das investigações, a polícia espera encontrar outras vítimas — explicou o delegado Luiz Henrique Marques Pereira, titular da Dcav.

O caso é semelhante ao de Giovanni Quintella Bezerra, anestesista acusado de estupro de paciente na sala de parto, no Rio, que já está sendo julgado.

O delegado explicou que a investigação teve início em dezembro do ano passado, com o compartilhamento de informações com a Polícia Federal. A PF recebeu material através de uma instituição internacional e encaminhou para a Polícia Civil.

A defesa do colombiano ainda não foi encontrada.

O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) informou que, após receber denúncias graves pela imprensa, abriu uma sindicância contra o médico colombiano. Segundo o órgão, “na época dos casos citados na matéria, Andres não possuía CRM e atuava de forma irregular, fato que também será apurado junto às unidades de saúde mencionadas”. O Conselho considerou as acusações gravíssimas e disse que o caso será apurado com todo rigor e celeridade.

O Cremerj acrescentou que, como medida preventiva, após a citação de Andres na prisão, já agiliza os trâmites para solicitar imediatamente a interdição cautelar dele, a fim de evitar novos riscos à sociedade. Após a apuração dos fatos pelo Conselho, mediante análise da cópia do inquérito policial solicitada hoje, um processo ético-profissional (PEP) poderá ser instaurado para julgar o caso. Finalizado o rito processual, se considerado infrator, o médico pode sofrer a cassação do exercício profissional”.

Veja íntegra de nota da Polícia Civil:

“Policiais civis da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) prenderam, nesta segunda (16/01), um médico anestesista de nacionalidade colombiana acusado de estupro de vulnerável. Ele foi capturado em sua residência, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Na ocasião, foram cumpridos mandados de prisão e de busca e apreensão. O homem responde ainda a inquérito por produção e armazenamento de cenas de abuso infantojuvenil.

As investigações tiveram início em dezembro de 2022 a partir do compartilhamento de informações pelo Serviço de Repressão a Crimes de Ódio e Pornografia Infantil (Sercopi) da Polícia Federal e contou com apoio da Inteligência do 2º Departamento de Polícia de Área (DPA) da Polícia Civil.

Os agentes constataram que o médico mantinha armazenado em seus compartimentos eletrônicos mais de 20 mil arquivos contendo imagens de abuso sexual envolvendo crianças a adolescentes. A análise do material chamou atenção pela gravidade e quantidade de arquivos, que incluíam até bebês com menos de um ano de vida.

O homem é suspeito de estuprar pacientes anestesiadas durante procedimentos cirúrgicos em hospitais das redes pública e particular. Ele tinha o hábito de filmar o ato e colecionar as imagens.

A partir de agora, a polícia espera avançar nas investigações, levantando todas as unidades nas quais o médico trabalha, e encontrar novas possíveis vítimas.

A captura ocorreu após ações de inteligência e monitoramento pela equipe da Dcav. Todos os materiais apreendidos com o suspeito serão analisados.”