Conta de energia

Ao justificar alta na conta de luz, Bolsonaro fala novamente em falta de chuvas

O presidente Jair Bolsonaro levantou, nesta quarta-feira (2), a possibilidade de haver racionamento de energia…

O presidente Jair Bolsonaro levantou, nesta quarta-feira (2), a possibilidade de haver racionamento de energia no Brasil, se as chuvas não aumentarem para recompor o nível dos reservatórios de usinas hidrelétricas.

A declaração foi dada ao comentar o acionamento, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da bandeira vermelha no segundo patamar, decidido na última segunda-feira, o que encarece as contas de luz.

— O pessoal critica. Agora, se eu não fizer nada, daqui a um mês, se não chover, você pode ir para um racionamento, até poder ter apagão. Daí piora tudo. E quanto mais baixa a represa, mesmo que você jogue nas turbinas (da hidrelétrica) a mesma quantidade de água, gera menos energia, porque tem menos potência — disse o presidente, ao conversar com apoiadores no Palácio da Alvorada.

A decisão da Aneel de acionar a bandeira vermelha foi tomada na segunda-feira e levou em conta a falta de chuvas na região dos reservatórios de algumas das principais usinas hidrelétricas do país.

Com isso, as contas ficarão mais caras em dezembro. A taxa extra este mês será de R$ 6,24 a cada 100 quilowatts-hora consumidos.

A cobrança da taxa extra estava suspensa desde maio deste ano, por conta da crise econômica causada pelo coronavírus.

— Fomos obrigados a decretar bandeira vermelha há dois dias — disse Bolsonaro, acrescentando: — Por que isso aí? É pra poder pagar energia mais cara que vêm da termoelétrica, porque as reservas estão lá embaixo. As represas estão lá embaixo.

Na terça-feira, Bolsonaro já havia levantado a possibilidade de apagão por conta da falta de chuvas.

O sistema de bandeiras tarifárias é uma forma de recompor os gastos extras com a utilização de energia gerada por meio de usinas térmicas, que é mais cara que a de hidrelétricas.

Defesa da energia nuclear e solar

Bolsonaro também comentou que as obras da usina nuclear Angra 3, no litoral sul do Rio de Janeiro, estão atrasadas e que, se ela estivesse funcionando, “talvez não tivéssemos esse problema”.

— Você pode falar “mas equivale a 2%, mais ou menos, do que…”. Mas é 2% contínuo. Quando você pega a eólica, se não tem vento, né? Você pega a solar, se tem nuvem e não tem sol, também cai. E a água depende de São Pedro — declarou.

O presidente afirmou ainda que mandou tirar os impostos das placas fotovoltaicas para energia solar e argumentou que “isso é para o futuro”, e não para resolver a questão atual da estiagem.

O presidente disse ainda que não permite a entrada da imprensa na parte interna do Palácio da Alvorada, onde ficam os apoiadores, porque sua fala poderia ser deturpada, e citou a declaração sobre a bandeira vermelha como exemplo.

Ele também comentou que, se um governador tem críticas o acionamento da bandeira vermelha, pode reduzir o ICMS, que é um imposto estadual que incide sobre a distribuição de energia.

Especialista descarta riscos

Ao comentar a fala de Bolsonaro sobre apagão, o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, disse que, apesar do nível baixo dos reservatórios, que afeta o preço da energia, não há sinais de apagão adiante.

Ele lembra que o período de chuvas começou em novembro e vai até abril e que o país tem usinas termelétricas que podem ser acionadas. Caso seja necessário acioná-las, porém, haverá impacto no custo da energia.

— Se não chover o suficiente, o país tem muita termelétrica para funcionar. Além disso, a demanda por energia está relativamente baixa por causa da pandemia. Então, não vejo perigo de apagão nem outro problema maior no abastecimento.