DITADURA

Áudios sobre tortura não estragaram a Páscoa de ninguém, diz presidente do Tribunal Militar

Na primeira sessão do Superior Tribunal Militar (STM) após divulgação de áudios que comprovam torturas durante…

Luis Carlos Gomes Mattos, presidente do Superior Tribunal Militar (Foto: STM)
Luis Carlos Gomes Mattos, presidente do Superior Tribunal Militar (Foto: STM)

Na primeira sessão do Superior Tribunal Militar (STM) após divulgação de áudios que comprovam torturas durante a ditadura, o presidente da Corte, Luis Carlos Gomes Mattos, chamou a notícia de “tendenciosa” e afirmou que a Justiça Militar não tem “resposta nenhuma para dar”. O material foi publicado no último domingo por Miriam Leitão em sua coluna no GLOBO.

—  A gente já sabe os motivos, do por que isso vem acontecendo nesses últimos dias, seguidamente, por várias direções, querendo atingir as Forças Armadas, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, nós que somos quem cuida da disciplina, da hierarquia. Não temos resposta nenhuma para dar, simplesmente ignoramos uma notícia tendeciosa daquela, que nós sabemos o motivo — afirmou o ministro.

A divulgação dos áudios de sessões do STM entre 1975 e 1985 faz parte de um material que vem sendo compilado pelo historiador e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Fico. Nas gravações, os então ministros da Corte reconhecem que presos políticos foram torturados no país durante a ditadura militar.

— Garanto que não estragou a Páscoa de ninguém. A minha não estragou. A gente fica incomodado que vira a mexe que não tem nada para buscar hoje, e vão rebuscar o passado. E é sempre assim — disse Gomes Mattos nesta terça-feira.

Para o advogado e pesquisador Fernando Augusto Fernandes — quem descobriu e ganhou no Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura dos arquivos das sessões secretas do STM —, a divulgação dos áudios não tem o objetivo de atingir as Forças Armadas ou o próprio STM, como aponta o seu atual presidente.

“As instituições amadurecem quando reconhecem a história e caminham em passos seguros para a democracia. Além de simplesmente se desculpar pelos erros cometidos para o seu povo e principalmente aos familiares de presos políticos mortos e desaparecidos pelo Regime Militar”, diz, em nota.

Também intergrante do STM, a ministra Maria Elizabeth Rocha disse, em entrevista ao GLOBO nesta terça-feira, que os áudios são “dolorosos” e importantes como “alerta para que tais práticas não se repitam”. Nas sessões, abertas e secretas, os ministros militares e civis tecem comentários sobre casos de tortura que ocorreram durante a ditadura.

Para ela, que é uma das cinco civis entre os 15 ministros que integram o STM, embora a Justiça Militar tivesse conhecimento dos atos de tortura denunciados por presos políticos nos processos, “não significa que o STM fosse favorável ou conivente diante de tais abusos”.