Saúde

Bahia: prefeitura cria delivery de ‘kit covid’ com cloroquina e ivermectina

A Prefeitura de Itagi, município do sudoeste da Bahia, anunciou que começou a distribuir hidroxicloroquina,…

Covid-19: Enfermeiro distorce dados para dizer que ivermectina evita mortes
São falsas as afirmações de um enfermeiro em um vídeo no Facebook sobre o uso da ivermectina no combate à covid-19. Ele diz que a droga salva vidas, que há estudos que provam sua eficácia e que a Etiópia e a Austrália têm poucos casos do novo coronavírus porque fazem o uso profilático do remédio.

A Prefeitura de Itagi, município do sudoeste da Bahia, anunciou que começou a distribuir hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina para todos os moradores com sintomas do novo coronavírus. O uso dos fármacos não é recomendado pelas autoridades da saúde, já que nenhum dos três tem eficácia comprovada no tratamento da covid-19.

Segundo a prefeitura, a iniciativa de entregar o “kit-covid” em domicílio faz parte do plano local de enfrentamento à pandemia e tem como objetivo evitar que as pessoas precisem se deslocar até a farmácia. Em postagem nas redes sociais, a ação é definida como “pioneira” e destinada “a todos os pacientes sintomáticos” de covid-19.

O município de 14 mil habitantes tem hoje 152 casos confirmados de coronavírus e 37 pessoas em quarentena, de acordo com o boletim epidemiológico mais recente.

“A Secretaria da Saúde, de acordo com o plano de enfrentamento à COVID-19, a fim de evitar que pacientes dessa doença se desloquem para farmácias, criou o KIT-COVID que está sendo entregue, em domicílio, a todos os pacientes sintomáticos”, diz o texto da prefeitura, sob gestão do médico Olival Andrade Junior (PPS).

A publicação, no entanto, não esclarece quais foram os critérios adotados para que os moradores os recebam em casa, uma vez que sua utilização necessita de prescrição médica.

O UOL procurou o prefeito Olival Andrade, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Prefeitura não tem autorização, diz secretário estadual

O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, informou que a Prefeitura de Itagi não tem autorização para realizar esse tipo de ação, uma vez que a dispensação de hidroxicloroquina só deve ser feita com a apresentação de receita médica e entregue por um farmacêutico.

Ele diz que acionará a Vigilância Sanitária estadual para apurar o caso.

“Não se pode fazer a distribuição dessa forma. Existe uma legislação que precisa ser seguida. A hidroxicloroquina é uma medicação que tem que ser dispensada por um profissional farmacêutico dentro de uma unidade [de farmácia]”, afirmou o secretário ao UOL.

Anvisa faz alerta sobre ivermectina

Na última quinta-feira (9), mesmo dia em que a Prefeitura de Itagi anunciou a distribuição dos kits, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez um alerta não recomendando o uso de ivermectina contra o coronavírus.

Segundo o órgão ligado ao Ministério da Saúde, o comunicado foi feito diante das notícias recentes de que algumas prefeituras pelo Brasil o distribuirão como forma de tratamento e até prevenção à covid-19. A agência lembrou que a ivermectina é recomendada contra parasitas.

Já o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina entrou na agenda política da pandemia no país por causa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que, por meio de uma portaria, determinou que o Ministério da Saúde ampliasse a administração de ambos em pacientes com sintomas leves de covid-19.

Antes da mudança do protocolo, a indicação dos medicamentos era apenas para pessoas com sintomas graves e críticos e em acompanhamento hospitalar.

Diagnosticado com o vírus na última semana, Bolsonaro divulgou ao menos dois vídeos em que aparece fazendo uma defesa enfática da cloroquina, com a qual, segundo ele, tem se tratado desde que começou a ter sintomas.

Estudo mais recente publicado na revista médica The Lancet afirma que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina, sozinhos ou combinados com macrolídeos (grupo de antibióticos dentre os quais se destaca a azitromicina), não tem benefícios comprovados no tratamento de pacientes com covid-19. A pesquisa com 96 mil pacientes diz ainda que o uso desses medicamentos pode estar relacionado a um aumento no risco de morte por problemas cardíacos, como arritmia.