Brasileiros voltam a consumir produtos mais caros nos supermercados
Consumidor retoma compra de marcas que adquiria antes da disparada da inflação, diz associação
Em um cenário de auxílios do governo às vésperas das eleições, trégua da inflação e retomada incipiente da renda, os brasileiros começam a migrar parte do consumo para produtos mais caros nos supermercados.
A conclusão é da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), a partir de dados divulgados nesta quinta-feira (13). A migração, diz a entidade, foi observada na composição de uma cesta de mercadorias que inclui desde alimentos até itens de limpeza e higiene.
Em agosto de 2021, 55,5% dessa cesta era formada por produtos vendidos na categoria de preços baixos. Em agosto de 2022, o percentual recuou para 52,7%.
Enquanto isso, os itens da categoria de preços médios avançaram de 28,2% para 30,2% da cesta de consumo pesquisada. A participação das mercadorias premium, por sua vez, com valores mais altos, aumentou de 16,3% para 17,1% no mesmo período.
Na visão da Abras, os brasileiros estão voltando a procurar marcas que consumiam antes da disparada dos preços e da perda de renda na pandemia.
A entidade atribui as mudanças recentes a fatores como a trégua da inflação e os benefícios turbinados pelo governo federal às vésperas das eleições.
“O consumidor está voltando a comprar aqueles produtos que ele tinha o hábito de consumir”, disse Marcio Milan, vice-presidente da Abras.
Pressionado pela inflação elevada em ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) apostou no corte de tributos para frear os preços, bem como na elevação do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600.
Em setembro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) caiu pelo terceiro mês consecutivo, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O índice oficial de inflação recuou 0,29% no mês passado, puxado mais uma vez pela gasolina, que teve alívio tributário. Em junho, Bolsonaro sancionou a lei que determinou teto para cobrança de ICMS (imposto estadual) sobre os combustíveis.
O grupo alimentação e bebidas do IPCA também caiu em setembro. A baixa foi de 0,51%, a primeira desde novembro de 2021 (-0,04%).
Analistas consultados pela Folha não esperam mais deflação para os alimentos até o final do ano. A expectativa é de avanços mais moderados do que os registrados no começo de 2022. Em 12 meses, o grupo alimentação e bebidas acumulou inflação de 11,71% até setembro.
A carestia da comida afeta especialmente a população mais pobre, que gasta uma parcela maior do orçamento familiar para a compra de produtos básicos.