SAÚDE

Burnout ou depressão? Entenda como diferenciá-los e cuidar da saúde mental

A exaustão, quando bate, toma conta de tudo. Sua caixa de entrada apita e você…

Burnout ou depressão? Entenda como diferenciá-los e cuidar da saúde mental (Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil)
Burnout ou depressão? Entenda como diferenciá-los e cuidar da saúde mental (Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil)

A exaustão, quando bate, toma conta de tudo. Sua caixa de entrada apita e você quer atirar o telefone para o outro lado da sala. Você está cansado do seu apartamento e não suporta sair do apartamento. Você se atrapalha com as palavras: diz aos amigos que está cansado, frito ou acabado.

Como você sabe se essa onda de cansaço sinaliza um caso de burnout ou depressão total? Pedimos a especialistas maneiras de saber diferenciar os dois e como aliviar os sintomas de ambos.

Qual a diferença entre burnout e depressão?

O conceito de burnout, ou esgotamento, vem da psicologia do local de trabalho, disse Angela Neal-Barnett, professora de psicologia da Universidade Kent State e autora de “Soothe Your Nerves: The Black Woman’s Guide to Understanding and Overcoming Anxiety, Panic and Fear” [Acalme seus nervos: o guia da mulher negra para entender e superar a ansiedade, o pânico e o medo, em português].

Normalmente, os terapeutas associam o esgotamento ao trabalho, embora os pesquisadores também estejam estudando o esgotamento dos pais, quando os cuidadores se sentem cronicamente exaustos. Burnout tornou-se um termo difundido no léxico cultural, especialmente durante a pandemia.

No TikTok, a tendência de “quiet quitting”, ou fazer o mínimo necessário em um trabalho, se tornou viral, pois as pessoas compartilham histórias sobre se sentirem esgotadas pelo excesso de trabalho e uma terrível “cultura da pressa”.

Os trabalhadores podem ficar esgotados quando sentem que não têm controle sobre suas vidas cotidianas, ficando atolados nos detalhes das tarefas. As pessoas que estão esgotadas podem se sentir cansadas e desprezar seus empregos. Podem se ressentir de suas atribuições e dos colegas.

Elas também podem se sentir irritadas e ineficazes, como se simplesmente não conseguissem fazer nada. Quanto às pessoas que interagem com outras no trabalho, como profissionais de saúde ou dos setores de varejo e serviços, podem começar a perder a empatia, a pensar nos pacientes ou clientes como apenas mais um número ou uma tarefa rotineira a ser concluída.

Há também uma série de sintomas físicos que podem vir com o estresse interminável do esgotamento: insônia, dor de cabeça, problemas gastrointestinais.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) inclui burnout na Classificação Internacional de Doenças, seu manual de diagnóstico, caracterizando-o como um “fenômeno ocupacional”, não uma condição médica.

depressão, no entanto, é um diagnóstico clínico. Pessoas com depressão muitas vezes experimentam anedonia, a incapacidade de desfrutar de atividades que antes apreciavam. “Você pode estar lendo um livro que adorava e agora o odeia”, disse Jessi Gold, psiquiatra da Universidade de Washington em St. Louis.

“Ou você adora assistir Bravo, mas agora ele não faz mais você rir.” Com o esgotamento, você pode não ter energia para seus hobbies. Com depressão, pode não achar nada divertido ou agradável, disse Jeanette M. Bennett, professora associada que estuda os efeitos do estresse na saúde na Universidade da Carolina do Norte em Charlotte.

Tal como acontece com o burnout, as pessoas com depressão podem dormir muito ou muito pouco e podem ter dificuldade em se concentrar. Pessoas com depressão podem se isolar dos outros ou sentir que é preciso muita energia para tomar banho ou comer.

A depressão pode induzir uma sensação avassaladora de tristeza e desespero. Em casos graves, as pessoas podem começar a pensar que são inúteis ou que a vida não vale a pena. Esses sintomas tendem a durar pelo menos duas semanas, disseram Gold e Neal-Barnett.

Um diferencial importante é que o esgotamento melhora quando você se afasta do trabalho, disse a Rebecca Brendel, presidente da Associação Psiquiátrica Americana. Quando você tira férias, ou no dia da saúde mental, você se sente pelo menos um pouco recarregado. A depressão não desaparece se você mudar suas circunstâncias. “Não há esse efeito de rebote”, disse ela. “É preciso mais que isso.”

Uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais pode contribuir para a depressão. As pessoas que sofrem um evento traumático, ou passam por uma grande mudança de vida, correm maior risco de desenvolver depressão, assim como as pessoas que têm familiares com depressão. O esgotamento em si também pode ser um fator de risco para a depressão, disse Neal-Barnett.

E você pode experimentar tanto o burnout quanto a depressão ao mesmo tempo. “Dados os efeitos da Covid, dado o racismo como crise de saúde pública neste país, é importante estarmos atentos a essa combinação”, disse ela.

O que fazer se você acha que está esgotado

Tirar um dia de folga do trabalho, se possível, pode oferecer um alívio para seus sintomas. Se você se sente constantemente esgotado, pode avaliar uma mudança de carreira –o que é mais fácil falar do que fazer, reconheceu Gold.

“Ser capaz de dizer: ‘Este é um local de trabalho ruim, é isso, eu me demito’, é um privilégio além do privilégio”, disse ela. Também existem maneiras menores de definir limites, como desativar as notificações do seu e-mail de trabalho ou do aplicativo Slack em determinados horários.

Se houver uma reunião que você sempre detesta, tente bloquear cinco ou 10 minutos logo depois para fazer algo que o ajude a relaxar, sugeriu Gold. “Ser capaz de ter algum controle é uma prevenção do esgotamento”, disse ela.

Você também pode tentar acentuar os elementos do seu trabalho que considera importantes. Talvez isso signifique orientar um colega mais novo, disse Gold, ou se oferecer para transferir responsabilidades de que você não gosta muito para um colega de trabalho, em troca de ajudá-lo num projeto no qual você está mais interessado.

O exercício físico pode ajudar a aliviar a tensão relacionada ao trabalho, assim como dedicar alguns minutos para descomprimir –sem o telefone, disse Bennett.

“Se você se senta em um computador para trabalhar, e depois fica no telefone no transporte, depois chega em casa e assiste a qualquer série da Netflix que goste, tudo isso é estímulo”, disse ela. Seu cérebro precisa de uma pausa para ajudar a combater o estresse –o que significa afastar-se das telas, mas também dar a si mesmo alguns momentos de silêncio, sozinho com seus pensamentos, sem distrações.

Se você está lutando para lidar com o esgotamento, considere falar com um profissional de saúde mental.

O que fazer se você acha que está deprimido

Procure um profissional de saúde mental, que pode ajudar a desenvolver um plano para tratar e abordar seus sintomas.

Enquanto isso, comece pequeno e simples. Se você disser a si mesmo que fará uma caminhada de cinco minutos, provavelmente acabará andando mais tempo, disse Gold.

“Mas quando você está exausto e triste é difícil se obrigar a fazer qualquer coisa.” Sair de casa não aliviará todos os seus sintomas, mas qualquer tipo de movimento pode ajudá-lo a se sentir um pouco melhor, disse ela.

Você pode anotar mecanismos de enfrentamento que foram úteis –ligar para um amigo ou fazer uma corrida rápida– e manter a lista em sua mesa ou na cômoda para quando precisar deles. Preste atenção ao que funciona, disse Gold. “Se você não gosta de mindfulness, não a force”, disse ela.

“Faça as coisas que realmente o ajudam a se sentir melhor nos momentos em que se sente mal.”