Minas Gerais

Cachorro é resgatado com sucesso em meio à lama de Brumadinho

Um dia após o resgate frustrado de duas vacas que estavam presas na lama de rejeitos e acabaram sacrificadas…

Um dia após o resgate frustrado de duas vacas que estavam presas na lama de rejeitos e acabaram sacrificadas no Córrego do Feijão, em Brumadinho, voluntários defensores dos animais comemoraram o resgate de um cão vira-lata na manhã desta segunda-feira. Ele estava preso no mar de lama que tomou conta da região após o rompimento de duas barragens na última sexta-feira.

No início da manhã, assustado, ele finalmente deixou a lama depois de três dias. À contragosto, o animal foi levado por voluntários para ser tratado e alimentado. É um vira-lata legítimo, como os que estão por toda a zona rural de Minas. Era o melhor amigo de alguém que bombeiros acreditam estar soterrado por pelo menos cinco metros de lama.

— Ele passa horas parado no mesmo lugar e tenta impedir que se aproximem. E sabemos que há corpos nessa área. Achamos que o dono está lá — afirma a veterinária voluntária Amélia de Oliveira.

O cão amava seu dono. E este, diz Amélia, certamente o amava também.

— Esse cachorro está muito bem cuidado. É forte — conta.

Depois de ser alimentado e receber cuidados, ele vai ser solto para poder voltar a sua longa vigília no mar de lama da Vale, em Córrego do Feijão.

Tentativa de resgate de vaca desolou voluntários

Ontem, após muita resistência pela Polícia Militar e funcionários da Vale, ativistas tentaram salvar duas vacas que agonizavam na lama em Córrego do Feijão desde sexta-feira. Uma das vacas, exausta, após dias presa na lama sem água e comida, foi desenganada por veterinários e teve que ser sacrificada com uma injeção letal. Foi deixada na própria lama. A outra ainda aguarda ser salva.

A PM realizava um cerco pela suspeita de uma nova ruptura em uma barragem da Vale. Suspenso o alerta, já pela tarde, a Vale, segundo moradores, mandou colocar tapumes para impedir o acesso. Um grupo então arrancou os tapumes e os utilizou para calçar a lama e chegar até os animais. Enquanto a voluntários tentavam tirar os animais da lama, uma funcionária da Vale, que não se identificou, pedia ao pé do ouvido de um policial que no dia seguinte bloqueassem o acesso de novo. A funcionária e os PMs disseram temer pela segurança da população.

Daniele Fernandes, que perdeu amigos, estava revoltada:
— Dizem que a gente está atrapalhando. Mas só querem colocar um tapume na tragédia. Sabemos que há riscos, mas nossa revolta é maior.

Magda Lima, que também sofreu perdas na tragédia, foi no mesmo tom:

— Tantas vidas humanas foram perdidas, nos deixem salvar ao menos esses pobres animais — disse Magda Lima, que perdeu amigos no desastre.

À medida que a tarde avançou, o grupo ganhou reforço da Cruz Vermelha,  da ONG Sea  Shepard munidos de um guincho. Bombeiros chegaram de helicóptero, mas disseram que a aeronave não suportaria o peso do animal. Uma veterinária então disse que não havia mais salvação  e desenganou a vaca, que nem era da comunidade. Segundo a moradora Silvana Gonçalves,  as duas vacas foram parar ali arrastadas pela onda de lama.Até o início da noite, voluntários ainda lutavam para salvar a vaca sobrevivente. Mantinham a esperança.