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Decisão de Mendonça beneficia ‘ombro amigo’ evangélico acusado de ‘rachadinha’

André Mendonça tinha acabado de ser aprovado como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), em…

Ministro do STF, André Mendonça testa positivo para Covid
Ministro do STF, André Mendonça testa positivo para Covid (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom - Agência Brasil)

André Mendonça tinha acabado de ser aprovado como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), em dezembro de 2021, quando chamou o ex-presidente da bancada evangélica Silas Câmara (Republicanos-AM) de “ombro amigo que Deus enviou”. Alguém “essencial” para que ele pudesse vestir a toga suprema.

Quase um ano depois, Mendonça decidiu fazer um pedido de vista (mais tempo para analisar o caso) com potencial de livrar o deputado de uma acusação de promover “rachadinha” em seu gabinete.

A solicitação para examinar por mais tempo a ação penal, feita na quinta (10) em parceria com o ministro Dias Toffoli, interrompeu o julgamento que decidirá se Câmara é culpado de desviar o salário de servidores em proveito próprio. Cinco ministros já votaram por sua condenação —Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Rosa Weber. Só Kassio Nunes Marques foi contra.

Barroso, o relator, propôs uma pena de cinco anos e três meses, em regime semiaberto, pelo crime de peculato. No dia 2 de dezembro, essa proposta punitiva prescreve.

Ainda faltam votar Mendonça, Toffoli, Gilmar Mendes, Luiz Fux e Ricardo Lewandowski.

No dia 13 de dezembro de 2021, uma segunda-feira, Silas Câmara compartilhou com contatos de seu WhatsApp o convite para um culto na Assembleia de Deus do Amazonas com participação de Mendonça, a indicação “terrivelmente evangélica” que o presidente Jair Bolsonaro (PL) havia prometido para a corte.

A fala de Mendonça, um pastor presbiteriano, foi transmitida pelas Boas Novas, rede de comunicação da família Câmara, poderosa no norte do país. Em Amazonas, quem comanda é Jonatas Câmara, irmão de Silas. O primogênito do trio, Samuel Câmara, lidera em Belém (PA) a chamada Igreja Mãe, a primeira das Assembleias de Deus no Brasil.

Na igreja, o ministro recém-eleito chamou Silas Câmara de um “ombro amigo que Deus enviou através de vocês [o público de fiéis] para que eu pudesse chegar aonde cheguei”.

Mendonça demorou mais de quatro meses para ser ratificado pelo Senado. O lobby evangélico foi fundamental para pressionar pela marcação da sabatina no Congresso. O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que presidia a Comissão de Constituição e Justiça na Casa, resistia a agendar o dia.

Os três irmãos Câmara estavam em Brasília na data da sabatina. Samuel, inclusive, foi o pregador do dia no culto semanal que a bancada evangélica promove às quartas numa sala da Câmara dos Deputados.

O pastor destacou o papel que evangélicos ganharam no governo Bolsonaro (“nunca fomos tão convidados a vir para Brasília”) e também o simbolismo de emplacar um par evangélico na mais alta corte do país. “Esperamos que hoje à noite possamos sentir exatamente isso, que um grãozinho [nosso] chegou ao Supremo. Vamos trabalhar para que esta semente não seja morta.”

Duas semanas depois, Mendonça contou no púlpito que conheceu Silas Câmara cerca de três anos antes. “Ele se tornou essencial durante a minha caminhada, previamente à indicação, e pós-indicação até a sabatina.” Câmara assumiu a liderança da bancada evangélica em 2019 e ficou dois anos no posto.

A aprovação de Mendonça rendeu post comemorativo de Câmara. “São vitórias como essas fazem do Brasil um lugar melhor para todos”, escreveu num perfil virtual.

A assessoria de imprensa do STF informou que o ministro não vai comentar o pedido de vista que pode beneficiar o deputado.