SAÚDE

Delta plus e aumento de casos: nova onda da Covid na Europa pode atingir o Brasil?

Nas últimas semanas, a informação de uma nova onda da Covid-19 na Europa vem chamando…

Pará investiga dois casos suspeitos de contaminação com cepa indiana
Delta plus e aumento de casos: nova onda da Covid na Europa pode atingir o Brasil? (Foto: divulgação/ ITS Brasil)

Nas últimas semanas, a informação de uma nova onda da Covid-19 na Europa vem chamando atenção do mundo. Segundo especialistas, o aumento de casos está sendo impulsionado por uma subvariante, a delta plus, e pelo fato da baixa adesão da vacinação no continente europeu.

Para se ter uma ideia, a Rússia registrou, na última quinta-feira (28/10), mais um recorde no número de contaminações e mortes em 24 horas: foram 1.159 óbitos e 40.096 novos casos. Para tentar reverter a situação, o governo russo decidiu criar um megaferiado de 11 dias.

Levando em consideração aspectos cronológicos, as outras ondas da Covid que começaram em outros lugares do mundo se alastraram até chegar aqui no Brasil. Mas a pergunta é: essa nova onda também chegará por aqui?

Nova onda da covid na Europa: alguns fatores estão diferentes, diz infectologista

O Mais Goiás ouviu a infectologista Ana Helena Germoglio para comentar o caso. Segundo ela, alguns fatores devem ser levados em consideração, como a baixa adesão da vacina por lá e o avanço da vacinação aqui.

“Lá existe uma onde de um grupo Europa que é muito mais forte que aqui no Brasil. E isso é um ponto positivo no nosso país, que é a adesão da vacinação pelos brasileiros é muito boa. Outra coisa que a gente vem vendo é que esses casos que estão iniciando no período de inverno por lá. E aqui estamos indo pro verão. É característica do inverno, por exemplo, ficar em lugares mais fechados e isso aumenta a transmissão de uma pessoa para outra de doenças respiratórias”, destaca.

Diante dessas situações, segundo ela, é que talvez essa nova onda não aterrisse em solo brasileiro. Outro fator destacado é sobre a nova subvariante que foi identificada no Reino Unido: a delta plus. “Aparentemente, ela é um pouco mais transmissível, mas a gente não tem ela no Brasil para saber se ela vai proporcionar esse mesmo reflexo que tem lá por aqui”, pontua.

Ana Helena pontua que uma variante mais transmissível acaba sendo mais perigosa do que uma mais letal pelo fato de causar mais infecções e, dessa forma, podendo sobrecarregar o sistema de saúde, levando mais pessoas à morte. A mais letal, segundo ela, acaba contaminando um determinado grupo, mas não se alastra para outras pessoas.

“[a variante mais transmissível] ela vai contaminar mais pessoas em um curto espaço de tempo e o sistema de saúde, por melhor que seja, não vai dar conta de ter condições, nem de pessoas e nem de estrutura, para atender as pessoas. Muitas acabam morrendo por falta de assistência”, pontua a infectologista

Essa situação foi vivenciada no Brasil no início do ano, em Manaus, onde pessoas morreram por falta de oxigênio devido ao avanço da variante Gama. Outros estados brasileiros também viveram o colapso da falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e até a necessidade de enviar pessoas para outras unidades da federação para tratar a doença.

Medidas de restrições

Apesar do Brasil estar mais “equilibrado” no quesito da contaminação, algumas medidas tomadas por alguns governantes vêm indo contra a recomendação de especialistas. No Distrito Federal, por exemplo, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais ar livre. Além disso, ele determinou que as aulas tivessem a presença de 100% dos alunos a partir do próximo dia 3 de novembro.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também retirou a obrigatoriedade do uso da máscara ao ar livre e autorizou a abertura de boates, casas de show e salões de dança com até 50% da capacidade. Além disso, ele autorizou a capacidade máxima de torcedores dentro dos estádios da cidade.

Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro

Estádio do Maracanã, poderá receber lotação máxima (Foto: Paula Reis – Flamengo)

“A máscara é uma medida sabidamente eficaz, simples de ser instalada, simples de ser utilizada, relativamente barata e que ela faz com que as outras atividades econômicas sejam flexibilizadas, como eventos, restantes, shows. Quando a gente fala em controle da pandemia, a retirada da máscara deve ser a última coisa que a gente deva se preocupar. Até porque ainda tem muita transmissão pela frente, muitas pessoas que ainda precisam ser vacinadas e revacinadas com a terceira dose”, destaca.

Brasil tem avanço na vacinação

De acordo com informações do consórcio de imprensa, atualmente, 53,56% dos brasileiros estão completamente imunizados, com duas doses ou dose único. Isso significa que mais de 114 milhões de brasileiros completaram o esquema vacinal.

Goiás, ainda segundo o consórcio de imprensa, já conta com 45,05% da população vacinada.

Goiânia tem 29 pontos de vacinação contra Covid nesta terça (21). Hoje são aplicadas a 1ª, 2ª e 3ª doses por agendamento e demanda espontânea (Foto: Agência Saúde)

Vacinação avança em todo o país (Foto: Agência Saúde)

Atualmente, a média móvel de mortes segue em estabilidade pelo quarto dia seguido. Na última quinta, foram 337 óbitos registrados pela doença.

A média móvel de casos também ofereceu queda, com o registro de 11.986 novos diagnósticos por dia. Para se ter uma ideia, no pior momento da pandemia neste ano, o país chegou a registrar uma marca de 77.295 novos casos diários.

O avanço da vacinação é uma das premissas para que governantes repensem sobre a flexibilização de algumas atividades. Em Goiânia, por exemplo, um show do cantor Gusttavo Lima foi realizado no estacionamento do Estádio Serra Dourada e contou com a presença de 15 mil pessoas. Apesar de todos os protocolos na teoria serem exigidos, como a exigência do esquema vacinal completo, o teste negativo da Covid – que poderia ser feito na hora – e o uso da máscara, não foi difícil encontrar pessoas que desrespeitaram tudo isso.

Ana Helena destaca que a vacinação trouxe a ideia de um fazer parte de um combo com a flexibilização e não é bem assim. “Infelizmente, a vacina tem um entendimento errado. As pessoas acham que, a partir do momento que eu estou vacinado, eu crio ‘superpoderes, crio um ‘campo de força’, que a vacina faz milagre, mas não. A vacina reduz o risco da gente morrer da doença, mas não significa que não haverá pessoas que não terão casos graves. Se 100% da população for vacinada, dentro desse total, haverá pessoas que vão desenvolver a forma grave da doença pois ela reduz o risco, mas não zera”, destaca a infectologista.

E continua: “A gente precisa entender que, quando a gente faz esses eventos, mesmo que sejam testes, e vários desses eventos forma feitos pelo mundo, haverá a parcela de contaminados. É claro que a gente precisa, aos poucos, retornar as atividades econômicas, retornar a vida social, mas, talvez, seja um pouco precoce. Pra fizer que a gente tem uma pandemia controlada, a gente precisa ter ao menos 100 casos para cada 100 mil habitantes e a gente ainda tá longe desse controle absoluto. A gente entendo o lado das coisas, mas a saúde deve ser levado em primeiro lugar. Sabemos também que ninguém é obrigado a ir ao show, mas a pessoa deve ter consciência que, mesmo estando vacinado, não significa que ela não pode se contaminar e contaminar outras pessoas que escolheram não ir para o evento”, pontua.

Terceira dose

A terceira dose da vacina contra Covid já é aplicada em várias cidades do Brasil. Em Goiânia, por exemplo, ela é aplicada para idosos acima dos 60 anos e imunossuprimidos a partir dos 30 anos. Ana Helena destaca que ainda não sabe se toda a população vai precisar tomar essa nova dose de reforço, mas isso pode mudar.

Segundo ela, isso pode acontecer principalmente com o aparecimento de novas cepas, como uma já identificada pela Secretaria Municipal de Saúde de Belém, no Pará. É uma subvariante identificada como AY.33, que já está em circulação na capital paraense. De acordo com o comunicado, seis pessoas estavam sintomáticas, mas os exames RT-PCR deram resultados negativo. O sequenciamento genético foi primordial para detectar essa nova subvariante.

“A SESMA alerta que uma subvariante Delta (AY.33), que já está circulando em Belém, pode não ser detectada por testes rápidos e pelos protocolos padrões de RT-qPCR, e que qualquer pessoa que apresente sintomas compatíveis com COVID-19 deve ser orientada a manter isolamento social por 14 dias”, aponta o comunicado.

A infectologista ressalta que as pessoas não devem adiar a realização do teste caso sinta algum sintoma. “Saiu essa nova variante, mas é importante a população saber: teve alguma sintoma, é preciso testar. É uma variante nova, que tem alguns tipo de mutação. Mas o importante é se apresentar sintomas, procurar assistência de imediato”, destaca.