Luciene Cavalcante

Deputada pede que MPF investigue Bolsonaro por estelionato após recebimento de R$ 17 milhões via Pix

Parlamentar do PSOL aponta que valores que seriam usados para pagar multas na Justiça acabaram investidos em títulos de renda fixa

Deputada pede que MPF investigue Bolsonaro por estelionato após recebimento de R$ 17 milhões via Pix Parlamentar do PSOL

A deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP) entrou com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) solicitando que o órgão investigue Jair Bolsonaro (PL) no caso envolvendo os mais de R$ 17 milhões recebidos pelo ex-presidente via Pix. No pedido, a parlamentar imputa a Bolsonaro o crime de estelionato — já a defesa do ex-mandatário classificou a ação como uma “maluquice“.

Na representação, Cavalcante argumenta que as transferências realizadas por apoiadores para a conta-corrente de Bolsonaro seriam para ajudar a quitar multas na Justiça por descumprimento, por exemplo, de normas sanitárias. No começo do ano, bolsonaristas passaram a divulgar a chave Pix do ex-presidente nas redes sociais em uma campanha que tinha esse mote. Para a deputada, no entanto, não houve clareza sobre a destinação do valor.

“Em nenhum momento o Representado deixou nítido aos doadores a finalidade das doações, ludibriando-os de que seriam voltadas para o pagamento das multas decorrentes de violações de normas sanitárias no Estado de São Paulo, mas, ao fim, tornaram-se mais uma fonte de sua renda pessoal. No mesmo sentido, se faz mister a investigação da origem destas doações de alto valor, para evitar a utilização do mecanismo de Pix para crimes como lavagem de dinheiro, como a seguir exposto”, argumenta o texto.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, identificou que Bolsonaro aportou R$ 17 milhões de reais em investimento em renda fixa enquanto recebia as doações via Pix. O relatório mostra que o aporte milionário se deu em títulos de Certificado de Depósito Bancário (CDB) e RDB (Recibo de Depósito Bancário), duas das principais modalidades de investimentos de renda fixa.

Aplicado, o montante poderia render ao ex-presidente até R$ 5 mil por dia. O cálculo foi feito por Paulo Henrique Pêgas, professor de Ciências Contábeis do Ibmec-RJ. A conta leva em consideração um título com valorização atrelada à taxa básica de juros, a Selic, hoje fixada em 13,75% ao ano.

Os investimentos em títulos de renda fixa são citados no pedido apresentado pela deputada do PSOL ao MPF, o que, segundo ela, reforçaria o crime de estelionato. A parlamentar pontua que “a vantagem ilícita consiste nos rendimentos auferidos pelas doações realizadas por intermédio de meio fraudulento e o prejuízo alheio consiste nos valores depositados pelos doadores”.

Fabio Wajngarten, que chefiou a Comunicação durante o governo Bolsonaro e agora comanda a equipe jurídica do ex-presidente, classificou a ação como uma “maluquice da deputada” e alegou que ela “busca holofote”. Em uma rede social, Wajngarten fez ainda uma pergunta retórica: “Ela vai entrar também com ações similares contra todas as instituições filantrópicas, religiosas, de saúde que também recebem doações espontâneas?”.

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