COVID-19

Economistas comentam cenário de Goiás em tempos de quarentena

Em tempos de quarentena do novo coronavírus, o horizonte parece mais longe que o costumeiro.…

Apenas 56% da população de Goiânia está em isolamento, diz secretário
Apenas 56% da população de Goiânia está em isolamento, diz secretário

Em tempos de quarentena do novo coronavírus, o horizonte parece mais longe que o costumeiro. Se por um lado, a saúde se resguarda com medidas de isolamento, a parte econômica pode amargar tempos sombrios. Com a paralisação de serviços não essenciais, parte do Produto Interno Bruto (PIB) para também. Em Goiás, segundo o economista Aurélio Troncoso, coordenador do centro de pesquisa de mestrado da UniAlfa, isto representa cerca de 60%.

Segundo ele, o governador Ronaldo Caiado (DEM) vem, aos poucos, relaxando a quarentena, mas, pelo visto no último decreto, em áreas que não tem tanto impacto. O texto publicado no Diário Oficial do Estado de quinta-feira (26) trouxe, por meio de suplemento, algumas mudanças nas regras de quarentena e a lei complementar, aprovada na quarta-feira (25) pela Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), que dispensa o governo do cumprimento de metas fiscais anteriormente previstas.

Conforme apontado, as alterações nos termos da quarentena são pequenas e não alteram a vida da maioria da população. A nova redação do decreto 9.633/2020 libera o andamento de obras de construção civil relacionadas a energia elétrica, saneamento básico, hospitalares, obras do sistema socioeducativo, de infraestrutura do poder público e aquelas de interesse social, bem como os estabelecimentos comerciais e industriais que lhes forneçam os respectivos insumos.

O governo também dá permissão ao funcionamento de borracharias, oficinas, restaurantes e lanchonetes em rodovias. Oficinas e borracharias devem funcionar em regime de revezamento a ser estabelecido pelos municípios. Está liberada também a hospedagem de todos aqueles que atuem na prestação de serviços públicos ou atividades privadas consideradas essenciais.

Pensamento

Para Aurélio, a quarentena inicial, de 15 dias, foi interessante. Com ela, foi possível que o País se preparasse e que as pessoas se educassem para lidar com a situação, em especial na questão da higiene pessoal. Porém, ele acredita que já seja o momento de liberar gradativamente outros setores.

“Caiado precisa começar a pensar que 68% da arrecadação do estado é ICMS. Sem trabalhar e produzir não tem. Vai ter dificuldade para pagar a folha de pagamento”, prevê ele ao ressaltar o problema que enfrentará a secretária de Estado de Economia, Cristiane Schmidt.

“As pessoas agora estarão mais cuidadosas. Mas temos, ainda, que manter os mais velhos em quarentena. Até o medo que as pessoas sentiram foi importante”, declarou. “Mas teremos problemas com o pessoal de baixa renda, apesar de o governo federal liberar R$ 600 por pessoa para o mercado informal [os registrados].” Ele aponta que a classe média consegue se manter com reservas por dois ou três meses, com cartão de crédito e cheque especial. Porém, os mais pobres não.

Em relação ao decreto de quarta? Sobre empregados e empreendedores também não dá para fazer muita coisa, segundo Aurélio. “Algumas conseguem manter por 15 dias, outras que não são ‘chão de fábrica’, em home office, mas também não por muito tempo”, adianta e conclui. “O governador pensa como médico, e não está errado. Está fazendo a análise de saúde. Mas tem que pensar em outras áreas, também.”

Economista e empresário

Bruno Fleury é economista. Além disso, ele emprega cinco pessoas em sua empresa de certificação digital. Ele entende que a situação é complexa, mas sente na pele a preocupação de gerar a folha de pagamento no próximo quinto dia útil. “Tenho reserva para essa folha e na próxima terei de mexer no meu pessoal. Depois, não sei o que vai ser”, diz ele que não pretende dispensar ninguém neste momento.

De acordo com ele, o Estado não adiou o pagamento de impostos. “Então, cabe ao segmento empresarial pressionar o governo para, pelo menos, adiar a questão dos impostos. Para termos um pouco de alívio no caixa, para manter os empregos”, aponta. Em relação as linhas de crédito, ele diz que os bancos, por receio de emprestar e não receber, fizeram foi aumentar as taxas de juros. “Então o governo precisa combinar isso, também.”

Para ele, é evidente que as empresas maiores têm capital de giro e patrimônio, conseguindo, desta foram, sobreviver durante determinado período sem sofrer grandes danos. “A preocupação é com micros e pequenas, que dificuldades de obtenção de crédito e fazer a folha de pagamento. 70% da mão de obra empregada no País está nas micro e pequenas e elas não tem alternativa de sobreviver, caso a quarentena se prolongue.”

Ele finaliza sua participação ao dizer que nunca houve antes este tipo de decisão, mesmo em outras quarentenas. “Passamos por crises no passado, mas com as empresas funcionando”, diz ao reforçar que teme uma convulsão social. “Se continuar por mais dez dias, temo até pela segurança.”

Outra avaliação

Professora de pós-graduação, mestre e doutoranda em Economia, a economista Andreia Magalhães afirma que a palavra-chave neste momento é negociação. Segundo ela, é preciso utilizar o home office, quando possível, e os comércios do segmento alimentício fazer o delivery. “O informal, com menos estrutura, é mais difícil, mas não impossível. Tenho visto pessoas com marcação na calçada e Whatsapp na porta para vender espetinho.”

Em relação a outros tipos de indústria, ela aconselha as férias coletiva e, até mesmo, uma negociação informal entre patrões e funcionários para que isso se torne viável financeiramente. “Não tem outra saída. É negociar e aprender a viver com menos, no limite”, acredita ela, que esse momento ao pós-Segunda Guerra Mundial. “A diferença é o tipo de embate.”

De acordo com ela, a Itália se arrependeu de ter tentado fazer a economia reagir antes da hora. O país europeu registrou 969 mortes de quinta-feira para sexta-feira (27) e quebrou seu recorde diário. Com isso, ela já soma 9.134 mortes. No total, são cerca de 60 milhões de pessoas vivendo lá.

Desta forma, Andreia reforça que, em primeiro lugar, é preciso se preocupar com a saúde. “É o sistema que não dará conta de atender todos”, ressalta sobre as pessoas acharem que não haveria problema na maioria do grupo que não é de risco contrair a doença. “Além disso, se as medidas forem respeitadas e cumpridas de forma mais rápida, temos a capacidade de retomar mais rápido, também.” Ainda assim, ela não descarta a continuação do problema, em caso do restante do globo não se precaver. “Somos conectados com o mundo. Então, dependemos da convergência universal.”

E, ainda, afirma que é papel do governo garantir o sustento, mesmo que mínimo, dos hipossuficientes. Ou seja, as pessoas mais carentes que não conseguirem chegar ao básico. Por fim, sobre a crise, ela argumenta. “Nos reerguemos de vários. Depois dos anos 1980, com o Temer, depois dos anos 2010; até mesmo após a guerra.”

Sindilojas pede por flexibilização

O Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas), por meio de ofício nesta sexta-feira (27), fez uma série de apontamentos ao governo do Estado. Preocupados com os rumos da economia, o Sindilojas pediu pela flexibilização do decreto do governador Ronaldo Caiado (DEM).

Entre as demandas do texto encaminhado ao gestor estadual estão: Liberação imediata do e-commerce e entregas em domicílio de mercadorias não consideradas essenciais; Redução de horários de funcionamento do comércio; funcionamento do comércio com escala reduzida, com sugestão de 1/3 (um terço) dos empregados/colaboradores, com revezamento de turnos, permitindo que as empresas oportunize a todos os seus colaboradores – fora da faixa de risco, preconizada pela OMS, a laborar, assegurando igualmente a sua remuneração; limitação da entrada de clientes, sem a possibilidade do grupo de risco ir às compras; Obrigatoriedade de controle de distanciamento social entre pessoas; proibição da entrada de pessoas, a partir de 60(sessenta) anos em shoppings centers e centros comerciais; permissão permanente para que os caminhões de transportadoras, os veículos e motocicletas de serviços de entrega “delivery”, continuem a rodar, e por consequência, que oficinas mecânicas e as lojas de autopeças funcionem; entre outras.

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