Varejo

Para evitar fraudes, comércio investe em tecnologia de reconhecimento facial

Idosa, simpática e com o melhor score de crédito já visto pelos vendedores. Fazer compras…

Idosa, simpática e com o melhor score de crédito já visto pelos vendedores. Fazer compras a prazo para ela era algo fácil e, assim, a senhora que se dizia servidora aposentada conseguiu fraudar quatro vezes a mesma rede de lojas em menos de um ano em Goiânia. Essa é apenas uma das incontáveis histórias contadas por empresários de prejuízos causados por um tipo de golpe cada vez mais comum no comércio.

Segundo o Indicador Serasa Experian de Tentativas de Fraude, a cada 16 segundos um brasileiro é vítima de alguma tentativa de fraude. Só no varejo, quarto segmento mais afetado, foram 125.254 tentativas no ano passado. Para coibir esses golpes, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) criou um sistema de biometria facial que lê os traços do rosto do cliente e faz a confirmação da identidade dele na hora da compra.

“Primeiro, faz a foto do cliente, então o sistema faz um estudo numérico de todos os pontos do rosto dele e manda para o sistema do SPC. Se o cliente já tiver cadastro, ele devolve em segundos confirmando se é ou não a pessoa que está se identificando e já vem todo o cadastro dela”, explica Alexandra Lima, diretora executiva da Câmara de Dirigentes Logistas (CDL) de Goiânia, entidade que está disponibilizando a ferramenta no estado.

O banco de dados utilizado pela biometria facial é o do SPC Brasil, que contém mais de 36 milhões de cadastros e é considerado o maior da América Latina, o que ajuda na assertividade do sistema, que é de 99,7%, segundo a CDL.  A novidade, que chegou no início do segundo semestre na capital, agradou os empresários e algumas redes de lojas já estão testando o sistema.

Na prática

A analista de crédito de uma rede de óticas da capital, Adriana Crispim, conta que não houve fraudes nas lojas desde a implantação da ferramenta. “Já aconteceu muitas vezes de pessoas trazerem os comprovantes completos, ter o score de crédito bom e no final serem estelionatários, porque eles pegam as informações de um cliente verdadeiro e alteram a foto, mas com essa tecnologia não tem como fazer isso porque ela detecta isso na hora.”

Adriana relata ainda que a biometria facial já detectou dois estelionatários tentando fazer cadastro na loja. Ela chegou a atender um deles: “Quando eu bati a foto dele, saiu outras sete fotos dele com dados diferentes, porque ele estava tentando comprar em outros lugares também”, conta.

Já em uma grande rede goiana de eletrodomésticos, os prejuízos com fraudes chegavam a R$ 1 milhão por ano. Em 2014, eles decidiram implantar um sistema simples de reconhecimento facial, que utilizava fotos apenas de documentos, e conseguiram reduzir o valor para R$ 50 mil. Agora, com a biometria facial, a expectativa é eliminar esse tipo de golpe.

“Com esse sistema, dificilmente algum fraudador vai conseguir comprar com o documento alheio, além de que aumenta a proteção para o consumidor porque ele não vai passar o dissabor de ter o documento usado por terceiro”, lembra Sandro Souza, gestor de risco financeiro da rede.

Diretora executiva da CDL Goiânia, Alexandra Lima, comemora a procura pelo novo serviço | Foto: Thaís Lobo/Mais Goiás

Uso responsável dos dados

Mesmo com as inúmeras vantagens oferecidas, a nova tecnologia também é controversa. Depois dos escândalos de venda de dados de clientes que atingiram até mesmo o Facebook, muitos consumidores têm medo do que possa ser feito com a foto tirada pelo sistema. Mas, segundo a diretora executiva da CDL Goiânia, o cliente não corre o risco de perder sua privacidade, pois os bancos utilizados pelo SPC Brasil são exclusivos para a análise de crédito.

“O SPC não vende banco de dados, não é a toa que é o maior banco de dados da America latina”, frisa.

Alexandra ainda destaca que o consumidor não é obrigado a tirar a foto. “A empresa também tem a opção de, caso ele não aceite [tirar a foto], correr o risco e fazer uma analise de crédito tradicional ou de recusar o cadastro”.

Já o presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (IBEDEC-GO), Wilson Rascovit, pondera que, mesmo que as empresas afirmem que não vão vender esses dados, o cliente pode exigir essa informação presente em contrato. “ O correto seria assinar essa partilha de dados ou ter também um contrato em que a empresa fica proibida de partilhar essas fotos”, defende.

Wilson diz ainda que a tecnologia é positiva, desde que não coloque em risco os dados do cliente e nem cerceiem seu acesso às compras. “Isso pode ser feito logicamente se o consumidor concordar com isso, mas ele não pode ser cerceado ao acesso ao fornecedor, porque a empresa pode fazer essa análise por outros meios como carteira de identidade , de motorista e outros documentos”, reitera.

A advogada e professora da Escola Superior da Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seção Goiás, Nycolle Soares, ressalta que a responsabilidade pelo uso adequado e armazenamento dos dados é sempre daquele que os coletou e, por isso, o consumidor deve ficar atento. “A principal recomendação é sempre saber para quem você está fornecendo os dados. Se é para uma empresa que tem um histórico positivo de compromisso com seus clientes que, se caso exista algum problema relacionado a essa questão, ela poderá resolver e ser responsabilizada”, orienta. “Não se deve compartilhar dados sem ter a exata noção de quem terá acesso a eles”, finaliza.

Imagem: Reprodução/CDL

Como funciona

1 – O lojista, utilizando uma câmera simples, registra uma imagem do cliente;

2 – Essa imagem é examinada pelo software de biometria facial, que fará a medição de alguns pontos no rosto do cliente;

3 – O sistema analisa essas medidas e compara com outros rostos armazenados no banco de dados do SPC Brasil ;

4 – O resultado apresenta a porcentagem de similaridade e o histórico da pessoa que está sendo analisada; 

Custo

Segundo a CDL, o custo para a implantação do sistema é pequeno.  O empresário deve ser filiado à entidade e pagará a contratação da ferramenta. O preço por consulta é de até R$ 3. Além disso, o estabelecimento precisa apenas ter uma webcam para o registro das fotos.