ECONOMIA

Selic altera rendimento da poupança; veja como ficam os investimentos

A alta da taxa básica de juros, a Selic, que nesta quarta-feira (8) passou de…

Saques em poupança superam depósitos em R$ 5,35 bi em fevereiro, diz BC - (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Saques em poupança superam depósitos em R$ 5,35 bi em fevereiro, diz BC - (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A alta da taxa básica de juros, a Selic, que nesta quarta-feira (8) passou de 7,75% para 9,25% ao ano, vai mexer também com a correção da poupança. Investimento preferido dos brasileiros, a caderneta passará a render 0,5% ao mês mais a TR (Taxa Referencial), o que ocorre sempre que a Selic fica acima de 8,5% ao ano.

Com a taxa básica até 8,5% ao ano, a poupança rende o equivalente a 70% da Selic. Mesmo com a mudança, a poupança manterá severa desvantagem em relação à maioria das aplicações de renda fixa e ainda perderá feio para a inflação.

Considerando os efeitos nova Selic sobre os rendimentos médios de uma cesta de nove investimentos, o buscador de aplicações financeiras Yubb estimou que a poupança passará a entregar uma variação anual de 6,17%, acima dos 5,42% que ela estava pagando.

Isso ainda representará, porém, uma perda de 3,64% em relação à inflação de 10,18% projetada para 2021 na última pesquisa Focus, do Banco Central. A poupança é o segundo pior investimento analisado pelo Yubb, perdendo apenas para o CDB (Crédito de Depósito Bancário) oferecido por grandes bancos, cuja variação real (descontada a inflação) estimada ficará negativa em 3,92%.

Os CDBs emitidos por bancos médios ficarão apenas 0,60% atrás do aumento do custo de vida. ​As debêntures incentivadas ampliarão sua vantagem e seguirão como os únicos investimentos capazes de entregar ganhos (3,30%) acima da inflação, considerando as opções analisadas pela Yubb.

Debêntures regularmente apresentam ganhos em períodos de preços em alta porque são parcialmente atreladas à inflação, além de contarem com isenção do IR (Imposto de Renda). Esses ativos, porém, são emitidos por empresas privadas e podem ser considerados arriscados. A compra é indicada a investidores com capacidade de avaliar a saúde financeira do emissor.

Apesar do rendimento negativo das demais aplicações em relação à variação do custo de vida, a ampliação da Selic coloca alguns investimentos de renda fixa conservadores em patamares próximos ao da inflação.

Com rendimento real negativo de 0,06% ao ano, as LCs (Letras de Câmbio) aparecem como a melhor opção conservadora para quem busca proteção na renda fixa. Na mesma família, as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) ficarão no vermelho em 0,77% e 1,10%, respectivamente.

Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb, destaca que a alta da Selic amplia a vantagem da renda fixa sobre os investimentos em renda variável e torna o cenário especialmente desafiador para empresas que possuem ações listadas na Bolsa de Valores.

“O desconto que os investidores demandam na avaliação de uma empresa sobe quando o juro é mais alto, consequentemente, o preço da ação cai porque os investidores exigem um retorno maior”, diz Pascowitch. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, está negativo em 9,4% em 2021.

Cálculo da poupança muda com nova Selic

Desde maio de 2012, quando a taxa básica de juros está abaixo ou igual a 8,5% ao ano, a rentabilidade da poupança equivale a 70% da Selic, mais a TR (Taxa Referencial), que está praticamente zerada há cerca de três anos.

A regra determina, porém, que nos períodos em que a Selic supera 8,5%, o rendimento volta a ser igual ao aplicado aos depósitos realizados nas cadernetas antes de maio de 2012, apelidadas de poupança antiga, que é de 0,5% ao mês, mais a variação da TR.

Considerando a Selic de 9,25% e a TR atual, o rendimento anual da poupança corresponderia a 6,17%. A TR é definida diariamente pelo Banco Central com base nas taxas de juros das Letras do Tesouro Nacional, que por sua vez variam segundo a Selic. É por isso que, indiretamente, a TR está atrelada à Selic.

A Taxa Referencial deverá passar a apresentar ligeira alta a partir da elevação dos juros básicos nesta quarta, segundo o economista José Dutra Vieira Sobrinho.

Dutra estima que isso elevará a correção da poupança, inicialmente, para 6,35% ao ano. O cálculo e a divulgação da TR oficial cabem, porém, ao Banco Central. “Não se pode saber o rendimento exato da caderneta sem a nova TR, que só é calculada e divulgada pelo Banco Central”, afirmou Dutra.

Enquanto a TR tem variação diária, a correção da poupança é mensal e o novo rendimento, portanto, somente será percebido pelos poupadores em um mês. O Banco Central não informou quando divulgará a nova TR.