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Vacina da gripe reduz gravidade de sintomas da Covid-19, sugere estudo

Um estudo apresentado no European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID) sugere que…

Vacinação contra gripe em Goiânia segue enquanto durarem estoques de doses, diz Saúde
A SMS destacou que, mesmo que o estoque acabe, há a possibilidade de mais doses serem adquiridas junto à SES (Foto: Claudivino Antunes)

Um estudo apresentado no European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID) sugere que pessoas vacinadas contra o vírus Influenza, causador da gripe, podem estar parcialmente protegidas dos efeitos graves provocados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) e têm menos risco de precisarem de ajuda médica emergencial.

O estudo, feito por pesquisadores da University of Miami Miller School of Medicine, nos Estados Unidos, analisou dados de cerca de 75 mil pacientes com covid-19 e revelou que os vacinados apresentaram menor número de casos de AVC, trombose venosa profunda (TVP) e sepse, além de menos internações e entradas em UTIs.

Antes de sair correndo para se vacinar, muita calma nessa hora: a vacina da gripe não reduziu o número de mortes e continua não tendo efeito contra o novo coronavírus.

Porém, algumas pesquisas anteriores já haviam sugerido que receber uma dose do imunizante poderia, sim, ser benéfica, por ativar a resposta imune inata do organismo— uma espécie de exército de defesa que combate invasores em geral, sem nenhum patógeno específico na mira.

Como o estudo foi feito?

  • Os pesquisadores compararam relatórios médicos de quase 75 mil pacientes com covid-19 de países como EUA, Reino Unido, Alemanha, Itália, Israel e Singapura;
  • Eles foram divididos em dois grupos iguais: os imunizados contra a gripe (entre duas semanas e seis meses antes de serem diagnosticados) e os que não receberam a vacina;
  • Os dois grupos foram montados para apresentarem indivíduos com idade, gênero, etnicidade e problemas de saúde (como diabetes e problemas nos pulmões) semelhantes, além de hábitos de vida que poderiam ou não colocar a saúde em risco (como dieta e se são ou não fumantes);
  • Eles então compararam a incidência de 15 problemas provocados pela covid– como sepse, trombose venosa profunda, embolia pulmonar, ataque cardíaco, internação, encaminhamento para UTI e morte– 120 dias após testarem positivo.
  • A análise mostrou que os indivíduos que não receberam a vacina da gripe tinham 20% mais risco de irem para a UTI;
  • Eles também tinham 58% mais risco de precisarem de ajuda médica emergencial, 45% mais risco de desenvolver sepse, 58% mais risco de sofrerem um AVC e 40% mais risco de apresentarem uma TVP;
  • No entanto, o risco de morte não foi reduzido pela vacina.

Por que isso é importante?

Se as descobertas forem comprovadas por novos estudos, a informação pode ser valiosa para os países que não conseguiram adquirir um grande volume de vacinas contra a covid-19— e que podem estar experimentando uma sobrecarga importante nos sistemas de saúde com pacientes vítimas tanto do influenza como do novo coronavírus.

Além disso, a vacina da gripe poderia ser usada para reforçar as defesas de que ainda tem medo dos imunizantes contra a covid-19 por serem novos— um medo sem fundamento, já que as vacinas são seguras, mas que ainda perdura em parte alimentado pela circulação de notícias falsas.

Os autores do estudo, no entanto, reforçam que eles recomendam a vacinação contra a covid-19 e que de forma alguma o imunizante contra a gripe deve ser usado para substituir as vacinas que já existem.

Vacinação da gripe é ampliada no Brasil

No início do mês, o Ministério da Saúde autorizou a ampliação da campanha de vacinação contra a gripe para toda a população acima dos seis meses de idade. As secretarias estaduais e municipais de saúde ficaram responsáveis por definir como funcionará a imunização nas cidades. São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal estão entre as cidades que já divulgam a ampliação da campanha de vacinação para além dos públicos prioritários.

Até o momento, de acordo com o governo federal, apenas 42% do público-alvo foi imunizado— uma cobertura bem abaixo da esperada. Em 2020, durante o primeiro ano da pandemia, a procura pelo imunizante foi maior e a cobertura atingiu 95%.

Para se vacinar, segundo o ministério, é recomendado levar a carteira de vacinação e um documento com foto— no entanto, quem não possui a carteira pode se vacinar da mesma forma. Os locais e datas para vacinação devem ser consultados junto à Prefeitura da sua cidade.

Velho conhecido do sistema de saúde, o influenza costuma circular no Brasil com mais intensidade a partir de março e pode ser um dos causadores da SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). De acordo com dados do próprio Ministério da Saúde, em 2020 foram notificadas 2.150 hospitalizações por SRAG no Brasil.

Por que tomar a vacina da gripe?

Para começar, a vacina da gripe é importante para evitar que você se contamine com outro vírus potencialmente perigoso para a saúde. “Isso vai evitar que duas epidemias aconteçam juntas e ainda facilitar o diagnóstico de quem desenvolver a covid-19, que possui sintomas semelhantes aos da gripe”, afirma Raquel Muarrek, infectologista da Rede D’Or*.

O influenza ainda é conhecido por provocar complicações respiratórias graves em pacientes imunodeprimidos, idosos e pessoas com outras doenças —público bastante vulnerável também ao novo coronavírus.

Além disso, estar imunizado também reduz os casos gripais em que há a necessidade de cuidados intensivos —aumentando a disponibilidade de leitos justamente em um momento em que os hospitais e clínicas encontram-se em colapso por conta da alta demanda de pacientes graves de covid-19.

“A imunidade contra a gripe ainda evita a possibilidade de co-infecção, ou seja, infecção pelo coronavírus e influenza, o que pode agravar a doença, aumentando as chances de óbito”, alerta Claudia Maruyama, infectologista do Hospital San Gennaro, em São Paulo*.

Posso tomar junto com a vacina contra o novo coronavírus?

Não. Como não existem estudos da aplicação conjunta das duas vacinas, a recomendação do Ministério da Saúde é que exista um intervalo de 14 dias entre a aplicação dos dois imunizantes. “Não há nada dizendo que existe perigo, mas, na ausência de estudos, o mais recomendado é que se respeite esse intervalo entre vacinas”, explica Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações)*.

Segundo ela, a recomendação é que, se existe uma chance de tomar a vacina contra o novo coronavírus em breve, ela seja priorizada. “Mas as duas doenças são graves e podem levar à morte, portanto, é importante que a vacina da gripe seja aplicada após o intervalo indicado”, alerta a especialista.