NO RJ

Entenda o que se sabe sobre o drama da modelo internacional achada em favela

O contraste entre a Eloisa Fontes que posava para capas de revistas e desfilava para…

Eloisa Fontes recebeu uma camisa do Brasil para vestir quando foi resgatada pelos policiais no Cantagalo Foto: Ipanema Presente/ Governo do Estado do Rio
Eloisa Fontes recebeu uma camisa do Brasil para vestir quando foi resgatada pelos policiais no Cantagalo Foto: Ipanema Presente/ Governo do Estado do Rio

O contraste entre a Eloisa Fontes que posava para capas de revistas e desfilava para grifes como Armani e Dolce & Gabbana e a jovem encontrada na favela carioca do Cantagalo era gritante. Ao ser achada, no Rio, a modelo, de 26 anos, estava de chinelos e vestia uma blusa da seleção brasileira, que recebeu ao ser localizada. Horas antes, o figurino era quase inexistente. Ela havia sido vista na Praça General Osório, vizinha à comunidade, descalça e sem blusa. A imagem da mulher com os seios de fora, visivelmente desnorteada, chamou a atenção de um morador de rua, um biólogo que também não teve sorte e perdeu a casa. Ele chamou agentes do programa Ipanema Presente, dando início ao desfecho que já se imaginava impossível após tanto silêncio.

O sargento David Gomes contou que o trabalho foi delicado. Eloisa não queria entrar na van para onde foi levada a fim de conversar com uma assistente social. Ao perceber que uma policial havia ficado com sua mochila, afirmou que tinha sido roubada. Foi a deixa que Gomes aproveitou:

—Ela disse: “olha, ela roubou a minha bolsa”. Brinquei com ela, disse que a gente iria fazer uma ocorrência na delegacia. Ela confiou em mim, pegou na minha mão e fomos de carro até o Pinel (Instituto Philippe Pinel). Ela resistiu para sair da van, identificou o local, sabia o que estava acontecendo. Eu falei que ela estava precisando de ajuda, que o médico iria conversar com ela. Ela disse que não queria ficar internada. Falei que era apenas para ela conversar e ir embora. Ela respondeu: “então vamos” — contou o sargento.

Eloisa acabou internada. Em julho, ela já havia passado três semanas hospitalizada, levada pelo então namorado, um morador da Barra com quem ela foi morar após voltar dos Estados Unidos, no início do ano. Amigos são reticentes e não falam em drogas, preferem usar a palavra “surto”. Mas fato é que Eloisa, antes de ter sido achada no Cantagalo, teve que ser retirada da Favela do Jacarezinho pelo mesmo namorado, que, procurado, não quis falar com a reportagem do GLOBO.

Amigo da família de Eloisa, Francisco de Assis conta que, em agosto, hospedou a mãe da modelo em sua casa e os dois foram visitá-la nos hospitais Lourenço Jorge, na Barra, e Jurandyr Manfredini, em Curicica, por onde ela passou após ter saído do Jacarezinho. Assim que a filha teve alta, a mãe tentou levá-la para Uberlândia, onde mora parte da família. Eloisa aceitou, mas, no aeroporto, nova reviravolta: a jovem se desvencilhou e fugiu da mãe, correndo por um Aterro escuro, por volta das 5h da madrugada.

Embora nesta quinta-feira parecesse desconectada da realidade, a modelo ainda dá sinais de que se lembra da Eloísa do passado. Aos policiais, falou um pouco sobre a filha de 7 anos, hoje uma lembrança marcada em seus dedos, que carregam uma tatuagem com o nome da menina. A guarda da criança está com o pai, o modelo e produtor executivo russo Vivien Birleanu, com quem ela se casou em 2014, em São Paulo. Outro sinal de que ela ainda carrega um pouco da vida de outrora está na mochila pretaque havia deixado na casa do namorado. Francisco Assis, que foi buscar a bolsa, ficou surpreso com o conteúdo. Eloisa guardava a carteira do trabalho original, cópia da identidade e do passaporte, além de cópias de contratos internacionais com agências da Alemanha, da Romênia e de Nova York.

— Tinha também cartas de referências de fotógrafos famosos, tudo em inglês, romeno e alemão — conta Francisco, único conhecido da família de Eloisa no Rio e responsável por autorizar a internação da modelo.

Transtornos psiquiátricos

Para a psiquiatra Roberta França, o mundo em que Eloisa vivia pode ter contribuído para sua derrocada:

—Ela começou a carreira extremamente nova, seguindo o script que nós já conhecemos de meninas que têm o sonho de ser modelo e, muito jovens, ganham notoriedade e dinheiro muito rapidamente. Emocionalmente são muito frágeis ainda, e isso tudo pode acabar causando instabilidade rápido. Muita coisa passa a ficar disponível para elas, inclusive as drogas. Mas, além disso, a necessidade de magreza, a importância do estereótipo, porque têm que estar sempre bonitas, perfeitas.