Investigação

Exército dificultou prisões em Brasília, afirma ex-chefe operacional da PM

Jorge Eduardo Naime está preso desde 7 de fevereiro, alvo da operação Lesa Pátria, da Polícia Federal

Ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar no Distrito Federal preso desde fevereiro, o coronel Jorge Eduardo Naime afirmou, nesta quinta-feira, em sessão da CPI dos Atos Golpistas, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, que tropas do Exército dificultaram o trabalho da PM durante as ações de 8 de janeiro e tentaram impedir a prisão dos terroristas e a entrada da corporação nas sedes dos Três Poderes durante a invasão. Ainda segundo o coronel, os bolsonaristas acampados em Brasília viviam em realidade paralela: ‘Parecia uma seita’.

– O tenente que era o oficial de dia no QG queria impedir que a gente prendesse as pessoas no gramado que fica ao lado da via N1. O argumento foi que o local era uma área do Exército e que a PM não poderia atuar. Presenciei o [interventor Ricardo] Cappelli tentando entrar, e o general Dutra não permitindo – conta.

Naime está preso desde 7 de fevereiro, alvo da operação Lesa Pátria, da Polícia Federal, que investiga a omissão e suspeita de colaboração de militares frente aos atos antidemocráticos. No dia 8, ele estava de folga e fora de Brasília, mas foi convocado devido à gravidade da ocasião. Ele foi afastado do cargo pelo ex-interventor federal Ricardo Cappelli, em 10 de janeiro, dois dias após os ataques.

À CPI, o coronel narrou que, no dia 8 de janeiro, foi impedido por militares de prender os suspeitos no acampamento montado em frente ao QG do Exército após os atos.

– Tinha uma linha de choque do Exército com blindados. Eles não estavam voltados para o acampamento, mas voltados para a PM – afirma.

Naime teria colocado 553 soldados para retirar o acampamento do QG em 29 de dezembro, mas, segundo ele, “houve orientação expressa em dezembro” para que ninguém fosse retirado.

Segundo o coronel, ele teria recebido a ordem de mobilizar as tropas para retirada da estrutura do acampamento apenas na manhã seguinte ao vandalismo.

Ele afirmou ainda que chegou a ser barrado por um soldado, a mando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ao tentar entrar em uma área do Palácio da Alvorada dias antes dos ataques.

– Eu estava em reunião, saí da reunião e fui lá ver o que estava acontecendo. E aí fui acessar a área que toda a população estava acessando. Devidamente fardado, com viatura caracterizada, com um patrulheiro ao meu lado. Fui abordado por um soldado do Exército que colocou a mão no meu peito, me proibiu de entrar e chamou uma guarnição do GSI— relata.