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Extorsão a fazendeiros, conflitos armados: entenda motivos por trás da prisão do ex-MST Zé Rainha

Além de José Rainha Júnior, Luciano de Lima também foi detido. Ambos são líderes da FNL, movimento pela reforma agrária

Antigo membro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e figura conhecida no ativismo pela reforma agrária, José Rainha Júnior, de 62 anos, mais conhecido como Zé Rainha, foi preso no último sábado (4), assim como o também ativista Luciano de Lima, no interior de São Paulo. Hoje, ambos são lideranças da Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL). A dupla é suspeita de extorquir ao menos seis fazendeiros e produtores rurais e, ainda segundo investigação da Polícia Civil, eles teriam participado de diversos conflitos agrários armados.

As operações correram durante o fim de semana na região de Pontal do Paranapanema. De acordo com o Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior do Oito (Deinter 8), de Presidente Prudente, “diversas armas” utilizadas em conflitos agrários forma apreendidas.

  • Zé Rainha e Luciano de Lima foram presos em operação da Polícia Civil de SP neste sábado.
  • Ambos são lideranças da Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL) pela reforma agrária.
  • No domingo (5), a Justiça converteu a prisão em flagrante para preventiva após audiência de custódia.
  • Eles são acusados de extorquir ao menos seis fazendeiros e produtores rurais, além de promover conflito armado no campo.
  • Armas atribuídas a eles foram apreendidas.
  • A defesa afirma que Zé Rainha e Luciano são inocentes, não integram qualquer organização criminosa e diz que não teve acesso aos autos.

A Polícia Civil informou que as prisões preventivas têm como objetivo interromper a prática dos crimes e “promover a paz no campo”. “. É importante ressaltar que em nada se confundem com os atos decorrentes do Carnaval de 2023, quando um grupo invadiu nove propriedades rurais, mas sim visa a apuração do ciclo de violência decorrentes de extorsões e dos disparos de arma de fogo, incluindo fuzil, o que colocou em risco número indeterminado de pessoas”, acrescentou em nota.

Segundo os investigadores, as operações foram decorrentes de mandados de prisões preventivas, pedidos e autorizados pela Justiça, “de líderes dos dois líderes do movimento de invasão de terras que exigiam vantagens financeiras de pelo menos seis vítimas”, e que, já em outro inquérito, foram realizadas buscas domiciliares de pessoas apontadas que expulsariam invasores de terra, sendo apreendidos dois fuzis calibre 556, duas espingardas calibre 12 e uma calibre 357.

Defesa tenta revogar prisões

Em contato com O GLOBO, a defesa de Zé Rainha e Luciano de Lima, representada pelos advogados Rodrigo Chizolini e Raul Marcelo, se manifestou através de uma nota.

“A defesa postulou pela revogação de ambas as prisões, posto que os advogados ainda não obtiveram acesso aos autos do inquérito; além de que os dois acusados nunca foram intimados a depor no âmbito do inquérito policial em andamento, não tratam de cidadãos reincidentes e não integram organização criminosa. Todavia, o sistema judiciário homologou a prisão preventiva, tendo afirmado o juiz plantonista que não teria competência para revogar ou determinar outras medidas cautelares”, dizem os advogados.

Eles afirmam que seguirão tentando a revogação das prisões.

“A defesa postulou pela revogação de ambas as prisões, posto que os advogados ainda não obtiveram acesso aos autos do inquérito; além de que os dois acusados nunca foram intimados a depor no âmbito do inquérito policial em andamento, não tratam de cidadãos reincidentes e não integram organização criminosa. Todavia, o sistema judiciário homologou a prisão preventiva, tendo afirmado o juiz plantonista que não teria competência para revogar ou determinar outras medidas cautelares. A defesa seguirá postulando acesso aos autos, para que possa defender os acusados e alcançar as suas solturas, utilizando-se de todos os recursos necessários em todos os Tribunais competentes”.

Rodrigo e Raul Marcelo acrescentaram, também, que os clientes relataram não ter sofrido agressões físicas por parte dos agentes policiais que os conduziram.

A FNL também se manifestou, através de nota:

Na tarde desse sábado, os companheiros José Rainha e Luciano de Lima foram presos pela Polícia Civil de São Paulo, na cidade de Mirante do Paranapanema. Essa prisão de cunho político, tem nítida relação com a jornada de ocupações do Carnaval Vermelho, sendo um ato de retaliação aos lutadores do povo sem terra.

A FNL ganhou força nos últimos anos ao realizar jornadas de luta no carnaval. O objetivo do Carnaval Vermelho é trazer para a discussão à contradição de sermos um dos países que mais produz alimentos no mundo, porém temos mais de 125 milhões de brasileiros com alguma insegurança alimentar, sendo 58% dos brasileiros e brasileiras, e o mais grave, são mais de 33 milhões com insegurança alimentar severa.

Esse é o país do agro forte, enquanto milhões são movimentados numa ponta, milhões de brasileiros convivem com o drama da fome, miséria e a mais profunda desigualdade.

O Carnaval Vermelho desse ano despertou a fúria do agro e de seus consortes e até o mercado andou nervoso. Afinal, pode ter um exército de famintos no país, mas terras sendo divididas entre os mais pobres é um crime ao qual o agronegócio e o capital não toleram. A FNL vem denunciando essa contradição de forma contundente, são milhares de sem tetos e sem terras indo morar em ocupações promovidas pela FNL, seja no campo ou na cidade.

Não tardou e veio a retaliação ao líder José Rainha, que desde 1977 não faz outra coisa a não ser lutar por terra para e com os mais pobres. Para todos os efeitos, José Rainha tem o direito de responder à acusação que for, em liberdade, não há fundamento para uma prisão como essa a não ser a ira política do agro, que não tolera que seus desmandos sejam revelados“.