Humilhação

‘Foi humilhante’, diz jovem presa com bebê recém-nascido

Horas depois de ter deixado a cela da Penitenciária Feminina de São Paulo com o…

Horas depois de ter deixado a cela da Penitenciária Feminina de São Paulo com o bebê no colo, Jessica Monteiro ainda sofria, na manhã deste sábado, com a humilhação que passou no 8º DP do Brás, para onde foi levada depois de dar à luz. Com o filho no colo, a jovem lembrou ao GLOBO das condições que cercaram sua prisão.

— Se eu fosse traficante, viveria no luxo. Me levaram na frente do meu filho de três anos. Jogaram as roupas do meu bebê no chão — diz ela, que recebeu a reportagem num quartinho de 10 metros quadrados, onde vive com a família em uma ocupação.

Kauã Samuel, de 3 anos, um de seus filhos, acordou no susto quando a mãe foi levada pela polícia, acusada de tráfico por portar 90 gramas de maconha. Ela nega que estava com a droga. Após ter tido sua prisão domiciliar concedida, Jessica sente medo de ter que voltar à prisão. Estava com 39 semanas de gravidez quando ficou presa em uma cela da delegacia. .

— Estava tão estressada que entrei em trabalho de parto. Estava em uma cela suja, cheia de barata. Comecei a perder líquido. Meu psicológico ficou muito abalado — diz Jessica.

A jovem deu à luz a Enrico, que hoje tem sete dias, no Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, na Mooca, na Zona Leste de São Paulo. Dois dias após o parto, voltou à cela com Enrico nos braços, onde ficou em um colchãozinho de espuma com um cobertor.

—- Queriam que eu entregasse o meu bebê para a minha família, mas expliquei que um recém-nascido não pode ficar longe da mãe. O Enrico não tinha que ter passado por nada disso, foi humilhante. Meu maior medo é ficar longe dos meus filhos.

Jessica aguarda o processo com medo de voltar à prisão. Segundo ela, Oziel Gomes da Silva, de 48 anos e apontado como seu marido, era um morador na comunidade onde vive. Jeferson de Oliveira, de 22 anos e que trabalha com carreto na região do Brás, apresentou-se como seu companheiro e afirma estar revoltado com o tratamento que ela e o bebê receberam na delegacia.

— Nenhum ser humano merece ser tratado dessa forma. Estamos com medo de continuar morando aqui e sofrer perseguição.