DIA ESPECIAL

Idosa que sobreviveu após ser arrastada por bandidos festeja Dia das Mães com família

“(Nesse Dia das Mães) Quero que elas sejam felizes. Não desejo mal pra elas, porque…

Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

“(Nesse Dia das Mães) Quero que elas sejam felizes. Não desejo mal pra elas, porque elas não tem culpa dos atos dos filhos. Mãe nenhuma cria filho pra ser criminoso. Mãe cria filho para ser homem de bem. Mas eles mudaram por conta própria. Desejo que elas fiquem bem. (E) Tudo de bom para elas neste domingo”. A fala é da aposentada Eci Coutinho Bello, de 72 anos, arrastada por criminosos durante um assalto na Pavuna, na Zona Norte do Rio. Após quase um mês do crime (que vai completar 30 dias amanhã), a idosa, que chegou a ficar mais de uma semana internada, não guarda mágoas de seus algozes, se solidariza com as mães dos criminosos e diz que “só tem a comemorar a vida”.

Agora é só felicidade! Dona Eci já começa a andar sozinha, abandonando a cadeira de rodas, tem poucos ferimentos pelo corpo, por incrível que pareça, e recebe diariamente o carinho dos filhos, das noras e dos netos, o que ela garante ser o melhor remédio. Para o futuro? Aproveitar muito a vida. Mas, hoje, nesta data especial, ela só pensa em curtir o Dia das Mães com os familiares e comer o que mais gosta: frango assado.

— Você viu como eu estava dá última vez que você veio? Olha como estou agora! Melhorei uns 70%. Meus braços estão bem. Esse braço aqui (esquerdo) estava enfaixado quase todo, e olha, já tá praticamente sarado. Só no quadril que sai um pouco de secreção, mas diminuíram consideravelmente os ferimentos. A dor é só quando fazem os curativos — lembra.

Dona Eci também comemora a retomada da caminhada:

— Estou andando um pouquinho. Não ando muito por conta dos machucados nos pés e porque também me sinto insegura. Mas eu ando com os meninos até o banheiro. Estou começando e me movimentar. Estou alegre. Eu agradeço a Deus por ele me fazer sarar tão rápido. Nas costas não tem mais ferimentos. Estou me recuperando muito bem — diz a aposentada.

Vaidosa, ela quis se preparar antes da reportagem. Penteou o cabelo, passou batom e recebeu todo carinho da neta —– que estava com ela no carro no dia do crime. Falante, dona Eci fez questão de destacar o amor de mãe que tem pelos dois filhos. Entretanto, ela questionou:

Estou bem? — e emendou: — Amo os meus filhos. Eles são tudo para mim. Ter esse carinho deles é o que dá força. Sempre fomos muito unidos, sabe. E o que aconteceu nos deixou mais juntos ainda. Então, neste Dia das Mães, a gente tem que comemorar muito. É tempo de alegria, de renascimento. Vamos almoçar juntos e brindar a vida, né? Vamos esperar o próximo Dia das Mães para fazer um festão.

‘Minha mãe renasceu após passar por esse sofrimento’

O advogado Brenner Coutinho, filho mais novo de dona Eci, relembra os momentos de aflição que a mãe viveu e destaca que a família só quer esquecer o que aconteceu:

—– Do jeito que ela estava, e em menos de 30 dias ela estar nesse estado, embora esteja com algumas sequelas, mas já sarando, começando a andar, é extremamente confortante. A minha mãe continua sentindo dores, mas resistível. O ânimo dela está melhor. De vez em quando ela pede o sorvetinho dela, faz graça.

Brenner não consegue conter a alegria que sente:

— Isso aí traz um alívio e uma tranquilidade para o nosso coração. Graças a Deus, ela tem evoluído muito bem. Minha mãe melhorou 80%. Agora você só tem alguns machucados, e a cirurgia do braço que deverá levar um tempo pra ela não sentir mais dores. Mas, a gente que acompanha, só de olhar, ela está absolutamente diferente. A melhora foi significativa. Ela vai morar perto da gente (Irajá). Queremos sepultar esse assunto — relata o advogado: — Esse dia das mães é uma oportunidade de a gente ver o renascimento da minha mãe. Com 72 anos, a gente a viu renascer. Ela saiu de uma situação de morte para uma vida nova.

O corretor de imóveis, Alex Coutinho, que estava com Eci no carro lembra que “o que fica é a sequela emocional”. Mas, com tratamento e carinho, isso passará logo.

— Daqui a pouco, isso vai ficar para trás. Essa é a minha expectativa. O que ficará na gente, nela e nos meus filhos é a questão emocional. Vai demorar para sarar, pois é um trauma muito grande e ainda existe. Mas, com o tempo e o tratamento, vai passar.

Ele ainda pontua:

— O Dia das Mães sempre é especial. Eu e minha mãe sempre tivemos uma relação muito forte e sempre fomos muito grudados. Estar com ela é sempre importante. Principalmente agora. A minha mãe renasceu após passar por esse sofrimento. Ela está bem, entre aspas, mas com algumas limitações e dores. (Mas) Esse será um Dia das Mães especial.

Com muitos planos e sem nenhum rancor

Por conta de alguns machucados, que ainda estão em algumas partes do corpo, dona Eci ainda não pode sair de casa. No entanto, ela não deixa de fazer planos e tricotar nos grupos que tem no celular.

— Minhas amigas já me mandam mensagem pelo WhatsApp, e já estamos marcando muitas saídas. Eu quero ficar boa logo para voltar a bater perna. Eu não paro em casa! Gosto de ir para o shopping com noras e netos, de ir na casa das minhas irmãs. Eu gosto de sair e estou sentindo falta disso. Além disso, sinto falta de fazer as minhas coisas: de lavar, passar, arrumar a minha casa.

Dona Eci faz questão de destacar que não tem ódio dos dois criminosos que assaltaram e roubaram o carro em que ela e a família estavam, após voltar de uma festa na Região dos Lagos. Ela, no entanto, enfatiza que eles precisam pagar pelo crime que cometeram.

— Que eles reflitam e pensem (no que fizeram). Que eles se apeguem com Deus para mudar. (Pois) Desse jeito que eles agem, não dá. Não desejo mal a eles. Desejo que eles fiquem presos.

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