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Lula falha no combate à violência policial, diz Human Rights Watch

Para ONG, gestão dá sinais controversos na política externa em relação aos direitos humanos

Para ONG, sinais controversos na política externa em aos direitos humanos Lula falha no combate à violência policial, diz Human Rights Watch
Presidente Lula (Foto: Reprodução)

(FOLHAPRESS) – O relatório divulgado pela ONG Human Rights Watch, nesta quinta-feira (11), aponta que o governo Lula (PT) falha no combate ao problema “crônico de violência policial” e na defesa de forma consistente os direitos humanos na política externa.
Para César Myñoz, diretor da HRW no Brasil, o presidente enfrenta desafios para coibir o uso excessivo da força policial, que afeta de forma desproporcional a população negra.
Além do Brasil, o relatório analisa a situação de cem países durante o ano de 2023, que foi marcado tanto por atrocidades relacionadas a guerras quanto pela “indignação seletiva e a diplomacia transacional que acarretou custos profundos para os direitos daqueles que não participaram do acordo”, segundo Tirana Hassan, diretora executiva da ONG.
Procurado, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania afirmou que o relatório é sucinto e deixa de apresentar “a dimensão do esforço de reconstrução das políticas de direitos humanos promovidas a partir de 2023, inclusive no que concerne ao combate às múltiplas desigualdades socioeconômicas em nosso país”.
O órgão cita diversas políticas que não são citadas pelo relatório, como “caravanas de direitos humanos, que olham para as condições do sistema prisional”.
Apesar do cenário de tragédias, o dicumento afirma que também houve sinais de esperança que mostraram a possibilidade de um caminho diferente e instou os governos a cumprirem consistentemente suas obrigações de direitos humanos.
Sobre o governo do petista, o relatório diz que, apesar das criação do Ministério da Igualdade Racial, ainda são falhas as medidas decisivas para enfrentar a violência policial.
“A polícia tem matado mais de 6.000 pessoas a cada ano desde 2018 –mais de 80% delas eram negras em 2022”, diz o relatório. Entre janeiro e junho de 2023, casos de mortes pela polícia aumentaram em 16 estados, em comparação com o mesmo período de 2022.
A HRW cita o caso da Baixada Santista, em que 28 pessoas foram assassinadas durante a Operação Escudo, realizada pela Polícia Militar em julho de 2023.
“A Human Rights Watch identificou lacunas significativas nas investigações, como a falta ou inadequação de exames periciais”, afirmou a organização. O governo paulista, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem afirmado que as apurações são feitas com rigor e não identificaram excessos.
A entidade reconhece a responsabilidade dos governadores sobre suas polícias estaduais, mas afirma que o governo federal tem autoridade para “coordenar os esforços de estados e municípios e desenvolver políticas públicas e garantir que o financiamento federal para segurança pública esteja condicionado à redução nas mortes pela polícia”.
“A administração Lula está revisando o plano nacional de segurança pública do Brasil. O plano deve incluir metas e medidas concretas para conter as mortes pela polícia em todo o país”, diz a ONG.
Sobre a política internacional, a ONG relembra que apesar de Lula ter oferecido mediar negociações de paz para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia, fez declarações públicas controversas, como no episódio em que o presidente sugeriu que Kiev e Moscou eram igualmente responsáveis por iniciá-la.
Outras situações chamadas de contradições são a defesa do petista ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela e a omissão em relação a violações de direitos humanos na Nicarágua.
Além disso, também diz que país se recusou a “apoiar manifestações de preocupação sobre os crimes contra a humanidade da China contra os uigures em Xinjiang”.
A pasta de Direitos Humanos e Cidadania afirma que, no campo particular das relações entre países, “cumpre sublinhar que o relacionamento externo do Brasil é marcado pelo diálogo construtivo, considerando-se contraproducente o fechamento de canais de comunicação com outros Estados, particularmente nossos vizinhos”.
Ainda na nota, a pasta diz que no ano passado o país “passou pelo escrutínio de três comitês de direitos humanos da ONU, a saber, sobre combate à tortura, sobre direitos econômicos, sociais e culturais e sobre direitos civis e políticos. Nos comprometemos a estabelecer um mecanismo de seguimento para monitorar as recomendações internacionais recebidas”.
PONTOS POSITIVOS
Entre os pontos positivos, a ONG destaca a reversão de políticas prejudiciais da gestão de Jair Bolsonaro (PL) e considera que foram implementadas boas iniciativas relacionadas ao meio ambiente e direitos sexuais e reprodutivos, como a promoção da educação em saúde sexual nas escolas.
Em relação às questões ambientais, o relatório destaca que o presidente Lula lançou um plano para combater o desmatamento na Amazônia e renovou o compromisso de alcançar o desmatamento ilegal zero até 2030. Porém, governo mandou sinais contraditórios sobre autorizar a exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas.
Ainda é destacado que, apesar de o governo ter se comprometido a impulsionar a transição ecológica e tornar o Brasil uma grande potência sustentável, anunciou investimentos em combustíveis fósseis que provocam as mudanças climáticas.
Outro ponto de contradição foi a entrada do Brasil para a Opep+, grupo expandido da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, como observador. O anúncio ocorreu no primeiro dia da COP28 e revoltou ambientalistas.
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirma que retomou a política ambiental e climática no Brasil. A pasta cita que, segundo o sistema Deter, do Inpe, a área sob alertas de desmatamento na Amazônia caiu 50% de janeiro a dezembro em comparação com o mesmo período de 2022.
“O desmatamento é responsável por cerca da metade das emissões brasileiras, e o compromisso do presidente Lula é zerá-lo até 2030. A redução no último ano evitou o lançamento na atmosfera de aproximadamente 250 milhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa”, diz a nota.