CORONAVÍRUS

Máscaras descartáveis começam a poluir a orla do Rio

As máscaras descartáveis são o novo lixo dos oceanos. No Rio, onde parte da população…

Descarte de máscaras tornou-se problema ambiental; máscara autolimpante é opção criada por pesquisadores isaraelenses Foto: RAFAEL MARCHANTE / REUTERS
Descarte de máscaras tornou-se problema ambiental; máscara autolimpante é opção criada por pesquisadores isaraelenses Foto: RAFAEL MARCHANTE / REUTERS

As máscaras descartáveis são o novo lixo dos oceanos. No Rio, onde parte da população as tem descartado de forma incorreta, está se tornando corriqueiro encontrá-las boiando nos mares ou jogadas pelas praias. Formado em Biologia Marinha pela UFRJ e diretor do Instituto Mar Urbano, o fotógrafo Ricardo Gomes registra a biodiversidade marinha carioca há mais de 20 anos e esteve, nas últimas terça e quinta-feira, nas praias da cidade e na Baía da Guanabara atrás deste descarte perigoso. Em Ipanema, registrou máscaras descartáveis boiando na água.

— Desde que liberaram, em julho, atividades nas praias, tenho visto essas máscaras no mar. Vale lembrar que enxergamos na superfície apenas 15% do lixo oceânico. Se encontramos algo boiando, é só a ponta de um iceberg — diz Gomes.

Na última semana, uma equipe do jornal O Globo encontrou máscaras descartadas na Enseada de Botafogo. Elas também são vistas com frequência no Arpoador, onde são levadas por um encontro (vórtex) de correntes e afundam no leito do mar, ficando presas na arrebentação para, depois, reaparecem na areia.

Na chamada “Praia do Plástico”, no Fundão, máscaras também podem ser vistas na areia, junto a todo tipo de lixo que chega à Baía de Guanabara. Áreas de manguezal e a orla da Ilha do Governador são os lugares em que os acessórios de proteção contra a Covid-19 mais costumam se acumular.

— Em 30 anos, o plástico virou o item mais visto nos mergulhos marítimos, mas agora é como se, de uma vez só, tivesse surgido uma “espécie nova” de lixo no ambiente aquático. Tartarugas e peixes já devem estar comendo as máscaras porque elas lembram muito uma água-viva — afirma Gomes.

O ambientalista Sérgio Ricardo Verde, fundador do Movimento Baía Viva, cita que, apesar de as informações ambientais serem uma caixa-preta no Rio, sabe-se que, até a Olimpíada de 2016, a quantidade de lixo flutuante era estimada em 90 toneladas. No dia 30 de março, a ONG fez uma denúncia a promotores federais e estaduais, gerando inquéritos sobre o risco de infecção nas estações de esgoto, e pediu um plano de contingência.

— A responsabilidade de tirar esse novo lixo do ambiente é da indústria, que tem de financiar um coleta seletiva, o que não acontece — cobra Sérgio Ricardo.

Professor do Instituto de Biologia da UFRJ, o oceanólogo Paulo Salomona acompanha a evolução da nova forma de poluição no Estado do Rio, algo que, em maio, já era motivo de preocupação em Hong Kong e países banhados pelo Mar Mediterrâneo. Segundo ele, componentes das máscaras facilitam a poluição marinha por microplástico. São pedaços de material degradado que medem menos de 5mm e que estão presentes nos acessórios porque compõem fibras sintéticas usadas na produção.

— Muitas máscaras são feitas de plásticos mistos, como polietileno de alta densidade, poliéster e polipropileno. Criou-se, então, um problema enorme para os oceanos. Além disso, a distribuição dos acessórios sem a devida orientação para o descarte vai na contramão de várias ações ambientais que estão dando resultado, como a proibição dos canudinhos e o limite do uso de sacolas plásticas nos supermercados — destaca o especialista.

A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) orienta que máscaras e luvas devem ser descartadas preferencialmente no lixo sanitário. O ideal é evitar que garis tenham contato direto com o material. Vale lembrar que, se a pessoa estiver fora de casa, deixar o acessório dentro de papeleiras ou recipientes semelhantes espalhados pelas ruas da cidade oferece risco de contaminação durante a coleta.

De acordo com o epidemiologista Ricardo Igreja, o uso de máscaras reutilizáveis de tecido, que era algo praticamente desprezado pela medicina há alguns anos, pode diminuir bastante o uso das descartáveis. No entanto,ele diz que faltam estudos concretos que garantam sua eficácia e estabeleça o limite adequado de lavagens:

— Por enquanto, está valendo o bom senso, a lavagem depois do uso. Colocar no rosto uma máscara caseira de tecido é melhor que não utilizar nada, e funciona mais para a pessoa não transmitir a doença do que para não pegar.