Tragédia anunciada

Museu Nacional recebeu apenas dois terços do orçamento previsto anualmente

Em fevereiro, no início das comemorações do bicentenário do Museu Nacional, o diretor da instituição,…

Em fevereiro, no início das comemorações do bicentenário do Museu Nacional, o diretor da instituição, Alexander Kellner, não poupou palavras: “Só temos verbas para medidas paliativas de prevenção”. Era mais uma manifestação pública dos problemas de manutenção no palácio, há anos alvo de protestos de funcionários e visitantes.

Nos últimos meses, para produzir um especial sobre o aniversário do museu, equipes do GLOBO visitaram todo o prédio, inclusive áreas restritas. Ao passar por salões, galerias, depósitos e áreas administrativas, era evidente a necessidade de investimentos. Cupins, uma velha praga, avançavam nas estruturas de madeira. Uma sala de paleontologia chegou a ser fechada devido aos insetos.

Recentemente, como mostrou O GLOBO, o orçamento ficou ainda mais apertado. A instituição deveria receber R$ 515 mil anuais da UFRJ, em três parcelas. No entanto, nos últimos três anos, a fração final não tinha sido repassada. Segundo a direção do museu, eram destinados apenas R$ 300 mil, com cortes de verba na própria universidade.

O incêndio de ontem, aliás, não foi o único na UFRJ. Em outubro de 2016, o prédio da reitoria, na Ilha do Fundão, pegou fogo, desalojando alunos como os da Escola de Belas Artes e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Cinco anos antes, a capela do campus da Praia Vermelha, de 1850, tinha sido destruída. Funcionários da universidade convocaram um protesto para hoje, na Cinelândia.

O Rio já havia tido um museu consumido pelo fogo. Em 8 de julho de 1978, chamas reduziram a cinzas mais de 90% do acervo do Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo. Foram destruídas mais de mil obras de artistas de renome internacional, como Pablo Picasso, Joan Miró, Salvador Dalí, Henri Matisse, Candido Portinari e Di Cavalcanti. Investigações apontaram como origem mais provável do fogo uma faísca causada por curto-circuito em meio a instalações elétricas em mau estado. Fora o acervo da cinemateca do MAM, mantido entre paredes de alvenaria, apenas 50 obras escaparam da tragédia.