Declaração

No Chile, Bolsonaro compara as duas ditaduras e diz que não houve golpe no Brasil

Poucas horas depois de o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ter elogiado as “bases…

Poucas horas depois de o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ter elogiado as “bases macroeconômicas” estabelecidas pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), desencadeando uma enxurrada de críticas ao governo brasileiro no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) desembarcou no país, o chefe de Estado assegurou, já em solo chileno, que “não vim aqui para falar de Pinochet”.

“Tem gente que gosta dele, outros que não gostam. Falo sobre um regime militar que foi muito parecido no Brasil, inclusive dizendo que quem cassou João Goulart não foram os militares, foi o Congresso” disse o presidente. “E essa questão da ditadura aqui no Cone Sul tem que ser levada à luz da verdade. Nós (militares) chegamos a uma conclusão e pacificamos. Não podemos dar voz à esquerda que sempre tem um lado para dizer que aquele lado estava certo e não o outro”.

Em entrevista à Rádio Gaúcha, o ministro-chefe da casa Civil afirmara que Pinochet “teve que dar um banho de sangue” nas ruas no país.

“No período Pinochet, o Chile teve que dar um banho de sangue. Triste. O sangue lavou as ruas do Chile, mas as bases macroeconômicas fixadas naquele governo, já passaram oito governos de esquerda e nenhum mexeu nas bases macroeconômicas colocadas no Chile no governo Pinochet” acrescentou Lorenzoni.

Onyx falou sobre a situação no Brasil e a comparou com o atentado a faca sofrido pelo então candidato ao Palácio do Planalto, em setembro do ano passado: “No Brasil, infelizmente para o presidente Bolsonaro, mas felizmente para toda a sociedade brasileira, para que a transformação chegasse nesse momento, só correu o sangue do presidente Bolsonaro, de mais ninguém”.

No Chile, suas declarações foram repudiadas pelos presidentes da Câmara e do Senado e aumentaram o clima de irritação em relação à visita do presidente brasileiro entre opositores do governo Sebastián Piñera. Perguntado sobre os protestos que estão sendo organizados contra sua presença no país, o chefe de Estado brasileiro mostrou-se pouco preocupado:

“Não tenho inimizades. Tenho manifestações contra em qualquer lugar do mundo que eu vá, mas o importante é que no meu país eu tive uma vitória excepcional tendo em vista que foi sem televisão, foi um voto que veio do coração do povo, do entendimento do povo”.

O almoço que será oferecido pelo presidente chileno, Sebastián Piñera, no Palácio de La Moneda, também será boicotado pelos líderes do Congresso. Em solo chileno, Bolsonaro também tentou minimizar a recusa:

“Os convidados para o almoço… não foi feito pela minha assessoria, então obviamente quem convidou daqui do Chile sabia quem estava convidando”.

Nesta quinta-feira, o ex-presidente socialista Ricardo Lagos, que governou o Chile de 2000 a 20006,  confirmou que também não participará do encontro com o presidente brasileiro, a quem criticou por ter um discurso “que não combina com um democrata”.

“Li uma vez que ele disse que foi um erro ter torturado comunistas e não tê-los matado”  disse mais cedo Lagos, um dos principais opositores ao ditador dentro do Chile. “A defesa que faz de (Augusto) Pinochet… é difícil entender como uma pessoa que foi membro do Parlamento durante tantos anos pode dizer essas coisas. Ainda precisamos ver o que fará como presidente”.

Um grupo de deputados chilenos de oposição confirmou a participação em um protesto nesta sexta-feira contra a visita oficial. A manifestação, organizada pela ala jovem do Partido Comunista do Chile, deve contar com o apoio de legendas da coalizão de esquerda Frente Ampla.

“Bolsonaro representa uma liderança machista, homofóbica e admiradora de ditaduras. Como já disse, é uma ameaça para a democracia liberal”  disse o deputado Vlado Mirosevic, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e integrante do Partido Liberal.