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Equipe de Lula vai propor ‘PEC da transição’ para autorizar gastos extras em 2023

A primeira reunião da equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o relator…

'PEC da Transição' vai propor tirar Bolsa Família de R$ 600 do teto de gastos (Foto: Reprodução)
'PEC da Transição' vai propor tirar Bolsa Família de R$ 600 do teto de gastos (Foto: Reprodução)

A primeira reunião da equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o relator do orçamento, Marcelo Castro (MDB-PI) indicou a necessidade de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para fazer frente a despesas urgentes que não estão contempladas no Orçamento proposto pelo governo de Jair Bolsonaro.

A decisão foi tomada em reunião com a presença do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), coordenador da equipe de transição do governo Lula, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Aloizio Mercadante.

Coube a Castro anunciar que haverá uma “PEC da Transição”, para criar exceções ao teto de gastos para despesas “inadiáveis”, como o Bolsa Família de R$ 600 – o relator do Orçamento usou o nome do programa social tal como ele foi criado no governo Lula, não o chamando mais de Auxílio Brasil.

— Vamos levar a ideia de uma PEC em caráter emergencial de transição excepcionando do teto despesas inadiáveis — disse Castro, referindo-se à necessidade de complemento para programa sociais.

O relator apontou uma série de problemas na proposta de Orçamento enviada pelo governo de Jair Bolsonaro:

— Não tem recurso pro Bolsa Família, pra Farmácia Popular, pra saúde indígena, para merenda escolar, são muitas as deficiências do Orçamento. Mas temos que trabalhar dentro da realidade. O Orçamento que estamos trabalhando foi apresentado legitimamente pelo atual governo e legitimamente o governo eleito está fazendo gestões para emendá-lo para que possa se adequar. Chegamos a um acordo, entendimento, que não cabe no Orçamento atual as demandas que precisamos atender — afirmou.

De acordo com deputados do PT, esta proposta de PEC será apresentada na segunda-feira ao presidente eleito. Na terça, a PEC será apresentada ao Congresso Nacional.

— A ideia de aprovar uma PEC em caráter emergencial de transição desse governo para o outro. Excepcionalizando algumas despesas inadiáveis como o Bolsa Família de R$ 600 — afirmou Castro.

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, afirmou que a grande preocupação é garantir o pagamento mensal de R$ 600 para o Bolsa Família em 2023. O valor de R$ 600 do atual Auxílio Brasil só está garantido até dezembro e, pela proposta orçamentária de Bolsonaro, o valor do benefício cairia para R$ 400 em janeiro.

— Há necessidade de até 15 de dezembro termos a autorização. É uma preocupação de não ter paralisação de serviços e obras. Há necessidade de ter uma suplementação para manter serviços e obras e o Bolsa Família de R$ 600 — completou o vice-presidente eleito, acrescentando que haverá uma reunião na segunda-feira com o presidente eleito Lula para definir os números.

É preciso uma PEC porque é necessário gastar além do teto de gastos, a regra que trava as despesas federais, limitando o seu crescimento à variação da inflação. A PEC é de emergência e não vai tratar de uma mudança estrutural no teto, apenas uma licença para gastar no ano que vem. Apenas em 2023 é que o PT vai apresentar uma PEC para mudar o teto definitivamente.

— São dois movimentos: primeiro, a PEC é imprescindível para abrir espaço orçamentário no teto. Então, nós pactuamos de conversar com o presidente da Comissão de Orçamento. Já houve um diálogo prévio, mas agora vamos aprofundar, para deflagrar esse processo — disse Mercadante, que considera essencial a aprovação da PEC com rapidez. — O auxílio ou Bolsa Família, tem que ser aprovado este mês, porque a folha de pagamento de janeiro roda em dezembro. Se não, você deixa 21 milhões de pessoas sem renda.

Farmácia Popular e merenda escolar

Wellington Dias disse que há uma série de despesas que serão incluídas na PEC. Entre elas, está a recomposição de gastos para obras, para saúde e educação. São programas como creches, merenda escolar, Farmácia Popular, vacinas e moradia. O GLOBO antecipou nesta quinta-feira que os valores necessários podem chegar a R$ 200 bilhões.

Neste momento, o governo eleito não discutiu o Imposto de Renda. Inclusive porque não é necessário furar o teto de gastos para esse fim.

Apenas a manutenção do Bolsa Família em R$ 600 e o bônus de R$ 150 para famílias com filhos com menos de 6 anos custará R$ 70 bilhões a mais.

Escritório em Brasília

Aloizio Mercadante, um dos coordenadores da equipe de transição de Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou querer que o escritório do governo eleito comece a funcionar no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, na segunda-feira.

— Hoje devem sair alguns nomes da transição. Ainda não saíram porque alguns partidos ainda não indicaram. Mas depois do encontro com Ciro Nogueira devem sair alguns nomes. O vice-presidente Geraldo Alckmin vai anunciar — disse Mercadante. — Vamos visitar ainda hoje ou amanhã (o CCBB para avaliar o local). Mas vamos começar (a transição) na segunda-feira. Antes vamos ver o espaço, as medidas necessárias para adequar.

Ele afirmou ainda que na terça-feira serão apresentados os dados para definir os valores que poderão ficar de fora da PEC que tentará resolver os problemas do orçamento de 2023, como a falta de recursos para o Auxílio Brasil — que deverá voltar a se chamar Bolsa Família — de R$ 600, aumento real para o salário mínimo e recompor programas como o Farmácia Popular.