ACELERA AÊ!

Pelo menos oito estados brasileiros já têm datas para vacinar pessoas a partir de 18 anos

Pelo menos oito estados brasileiros já lançaram um cronograma para aplicar a primeira dose da…

A Prefeitura de Goiânia anunciou que vai vacinar pessoas a partir de 52 anos contra a Covid-19. (Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)
São Paulo, Pará, Goiás e Rio Grande do Sul estão com a expectativa de vacinar sua população adulta até setembro (Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

Pelo menos oito estados brasileiros já lançaram um cronograma para aplicar a primeira dose da vacina contra a Covid-19 em pessoas entre 18 e 60 anos. Além de São Paulo, que antecipou em um mês a imunização de jovens adultos, com previsão de distribuir a primeira dose até setembro, Pará, Goiás e Rio Grande do Sul também estão com a expectativa de vacinar sua população adulta neste mesmo período. Já o Ceará tem uma projeção mais positiva, com os jovens de 18 anos imunizados com a primeira dose até agosto, e Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, até o final de outubro.

A perspectiva de vacinação, no entanto, pode ser melhor em algumas capitais. Por terem autonomia na execução do plano de imunização, muitos municípios vêm ampliando as faixas etárias e avançando mais rapidamente do que o plano estadual. É o caso do Rio, capital. Enquanto o cronograma estadual planeja vacinar a população em geral com 55 anos até o fim de junho, a capital aplica a primeira dose em pessoas com 50 anos ou mais até o próximo sábado.

Até o momento, apenas duas capitais não iniciaram a vacinação da população em geral por idade: Porto Velho (RO) e Palmas (TO). Ao GLOBO, a prefeitura de Porto Velho informou que depende do envio de doses pelo Ministério da Saúde para avançar na vacinação, e Palmas também afirmou que aguarda novas remessas para dar andamento ao calendário.

Para que todos esses cronogramas sejam cumpridos, é preciso que as vacinas prometidas cheguem dentro do prazo acordado. Segundo a projeção de entregas de doses feita pelo Ministério da Saúde, até o final do ano o Brasil receberá mais 504 milhões de vacinas, sendo 38 milhões da Johnson, que é de dose única.

Garantia de duas doses

Na avaliação da epidemiologista Ethel Maciel, a ampliação da vacinação por faixa etária é benéfica pois, além de incluir a população em geral, reduz as barreiras que existem ao exigir que as pessoas comprovem fazer parte de um grupo prioritário.

No entanto, o avanço para mais idades, reforça a especialista, só pode ser considerado uma aceleração da vacinação se houver a garantia das duas doses.

— Precisamos colocar em dia a segunda dose das pessoas que estão atrasadas. Isso deve ocorrer concomitantemente (à vacinação de novas idades com a 1ª dose), porque, para se considerar imunizado, é preciso ter as duas doses das vacinas que estamos aplicando no Brasil — pondera.

Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, o Brasil conseguiu aplicar a primeira dose de vacina contra Covid-19 até agora em 55.740.512 pessoas (26,32% da população), e 23.742.688 já receberam a segunda dose, o que representa uma cobertura vacinal completa de 11,21%.

Capitais avançam

Enquanto São Paulo (SP) e Rio Branco (AC) começaram só ontem a imunizar a população de 59 anos, outras capitais já estão mais avançadas na aplicação da primeira dose por faixa etária. É o caso de São Luís (MA), que hoje amplia a imunização para pessoas com 26 anos. O município de 1,1 milhão de habitantes recebeu cerca de 210 mil doses extras de vacina contra a Covid-19 para proteger a população da variante indiana identificada em tripulantes de um navio que chegou ao litoral maranhense em 14 de maio.

Além do lote extra, a prefeitura adotou uma estratégia específica: abriu centros exclusivos para a vacinação e disponibilizou um aplicativo para informar sobre a fila de imunização em cada posto.

— A gente optou por montar estruturas próprias para vacinação, não usamos as Unidades Básicas de Saúde. Criamos centros municipais de vacinação, e alguns têm capacidade de vacinar até 4 mil pessoas por dia — explica o prefeito, Eduardo Braide (Podemos). — O segundo ponto é uma plataforma chamada “Filômetro”. A população, antes de sair de casa, consegue ver onde há mais e menos filas. Isso nos ajuda na organização da vacinação. E vacinamos sem parar, de domingo a domingo.

Estratégias semelhantes são usadas pelo município de Recife, que já aplica a primeira dose em pessoas com idades entre 43 e 49 anos, mesmo sem ter recebido doses extras. Segundo Felipe Matos, secretário municipal de Planejamento e Gestão, a prefeitura decidiu antecipar a imunização por idade pela dificuldade de comprovar quem fazia parte dos grupos prioritários:

— Por isso, passamos rapidamente por esta fase e implementamos a vacinação por faixa etária. Outro fator que nos ajuda a acelerar a vacinação é o agendamento 100% digital pelo aplicativo. O cidadão escolhe dia, horário e local onde quer ser vacinado. Assim, vamos liberando o cadastramento de novas pessoas conforme temos estoque de vacina, além de evitar centros de vacinação vazios ou cheios demais.

O envio de doses extras e as estratégias específicas adotadas por algumas cidades não são as únicas explicações para a diferença no ritmo de vacinação pelo país. Secretário executivo do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Mauro Junqueira explica que, embora o envio de doses pelo Ministério da Saúde seja proporcional à população, a falta de uma estatística atualizada sobre a quantidade de brasileiros pode ocasionar uma distribuição de doses não condizente com a realidade.

Ele cita ainda como outro motivo a falta de informações precisas sobre o número de pessoas com comorbidades no país, o que pode levar à aceleração da vacinação em alguns lugares e ao atraso em outros.

A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o PNI de 2011 a 2019, pondera que o avanço da vacinação para a população em geral por critério de idade não significa que o município tenha aplicado a vacina em todo o grupo prioritário, como as pessoas com comorbidade.

—Pode acontecer de o município não conseguir imunizar determinado grupo e, para não ficar com a vaina parada, antecipar o próximo grupo — explica a epidemiologista.