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Pesquisa com formigas mostra impacto de queimadas no Cerrado

Uma pesquisa com formigas realizada por um estudante do doutorado da Universidade Estadual de Goiás…

Queimadas no cerrado são as piores desde 2012 (Foto arquivo pessoal)
Queimadas no cerrado são as piores desde 2012 (Foto arquivo pessoal)

Uma pesquisa com formigas realizada por um estudante do doutorado da Universidade Estadual de Goiás (UEG) mostrou o impacto de queimadas no Cerrado. O estudo, feito pelo estudante Filipe Viegas de Arruda, durou cerca de 4 anos e analisou dois tipos de queimadas: os incêndios controlados e realizados por brigadistas e chamas causadas pela ação do homem. Pesquisa constatou que reação aos animais e plantas varia de acordo com a intensidade do fogo.

Durante os anos de estudo, o pesquisador constatou que as queimadas realizadas por brigadistas no início do período seco, no mês de maio, são menos impactantes do que as do final da seca, em setembro. As primeiras têm o objetivo de criar corredores para evitar incêndios maiores e auxiliar no controle. As segundas, por sua vez, são ocasionadas, na grande maioria, pela ação humana e são bastante prejudiciais ao meio ambiente.

De acordo com Filipe, a constatação foi possível por conta da reação das formigas durante as mencionadas queimadas. Segundo o estudante, elas respondem rapidamente às modificações e perturbações. “Utilizando as formigas a gente consegue avaliar, por exemplo, como o fogo impacta a biodiversidade de uma determinada área. Além disso, as formigas também vivem no solo e nas árvores e consequentemente isso nos permitiu observar se o fogo impacta de diferentes formas os animais que vivem nas árvores e no solo”, afirmou.

(Foto: arquivo pessoal)

Conforme o pesquisador, os resultados com formigas direcionam o que está ocorrendo com outros grupos de animais. “Além disso, os estudos com as formigas arborícolas mostram como animais e plantas são impactados pelas queimadas”. Ele explica que para chegar a essa conclusão foram analisadas espécies de formigas no solo, nas árvores e em ninhos artificiais em árvores.

O estudo mostrou que as queimadas com diferentes intensidades afetam a colonização das formigas arborícolas em ninhos artificiais de forma diversa. “As diferentes espécies de formigas responderam de maneira distinta às queimadas com diferentes intensidades, mostrando assim que as formigas podem ser utilizadas para avaliar a intensidade das queimadas”, salienta Filipe.

Parte dos dados do experimento realizado no doutorado, sob orientação do professor Fabrício Barreto Teresa, foi publicado na revista científica Ecological Indicators sob o título “Different burning intensities affect cavity utilization patterns by arboreal ants in a tropical savanna canopy” (Diferentes intensidades de queima afetam os padrões de utilização de cavidades por formigas arborícolas em um dossel de savana tropical).

Manejo

De acordo com Filipe, os resultados da pesquisa impactam as tomadas de ações futuras do manejo com fogo. “Se durante o manejo as queimadas forem realizadas em áreas estratégicas no início do período seco, poderemos evitar grandes queimadas no final do período seco e, consequentemente, reduzir o impacto das queimadas na fauna e na flora”, salienta.

O pesquisador explica que na comunidade quilombola Kalunga, no nordeste de Goiás, o número de grandes queimadas diminuiu drasticamente desde que o manejo do fogo começou a ser realizado pelos brigadistas e pelo Ibama. Eles definem as áreas que serão queimadas no início da seca utilizando o mapa de combustível (imagens de satélite), onde é possível observar as áreas que estão há vários anos sem queimar e com grande acúmulo de vegetação seca. “Assim, essas áreas queimadas funcionam como um cinturão de proteção”, atesta.