PGR interina afasta da chefia de órgão subprocurador que deu desconto de R$ 6,8 bi à J&F
Em junho, o substituto de Ronaldo Albo se posicionou contra o desconto bilionário à J&F, mas teve o voto anulado [por Albo] em uma manobra para atender aos interesses do grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista
A procuradora-geral da República interina, Elizeta Ramos, afastou nesta sexta-feira (6) o subprocurador-geral Ronaldo Albo da coordenação da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF). Homem de confiança de Augusto Aras, Albo é o responsável pelo polêmico desconto de R$ 6,8 bilhões na multa prevista no acordo de leniência do grupo J&F, concedido sob sigilo em maio passado, como revelou a equipe da coluna.
Alvo de inquérito administrativo disciplinar aberto pela corregedoria-geral do MPF em função do episódio, Albo será substituído na chefia do órgão pelo subprocurador-geral Alexandre Camanho, mas seguirá membro do colegiado. A 5ª Câmara é a instância do MPF que cuida de casos de combate à corrupção e improbidade administrativa.
Em junho, Camanho se posicionou contra o desconto bilionário à J&F, mas teve o voto anulado por Albo numa manobra para atender aos interesses do grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Segundo a equipe da coluna apurou, Elizeta tentou convencer Albo a deixar o cargo, mas o subprocurador resistiu à ideia.
A repactuação do acordo, firmado em 2017, provocou uma crise interna no Ministério Público que ainda não foi estancada.
A redução da multa de R$ 10,3 bilhões para R$ 3,53 bilhões chegou a ser suspensa por determinação do Conselho Institucional da instituição por um amplo placar de 17 votos a 2, em sessão presidida pela própria Elizeta. A J&F recorreu à Justiça, mas não conseguiu reverter a decisão.
O caso, no entanto, sofreu outra reviravolta no último dia 27, quando o corregedor nacional do CNMP Oswaldo D’Albuquerque, aliado do então procurador-geral da República Augusto Aras, derrubou a deliberação do conselho.
Por isso, na prática, o desconto voltou a valer. O processo de repactuação, que correu de forma sigilosa, também incluiu novas cláusulas que excluíram do acordo de leniência os fundos de pensão Petros e Funcef, além da Caixa Econômica Federal e do BNDES, que deixariam de receber compensações financeiras pelos esquemas de corrupção orquestrados pelo grupo.
A apuração da corregedoria-geral do MPF foi aberta a partir de uma representação do procurador Carlos Henrique Martins Lima, que apontou em ofícios a resistência de integrantes da 5ª Câmara em conceder o desconto. Albo, no entanto, teria “tratorado” o voto de dois colegas e deliberado que sua posição enquanto coordenador do colegiado deveria prevalecer.
Nós procuramos o subprocurador-geral Ronaldo Albo, que não respondeu até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.