JUSTIÇA

Polícia faz operação contra ‘tribunal do tráfico’ em São Paulo

Três pessoas suspeitas de assassinarem quatro jovens em maio deste ano foram presas na manhã…

Polícia faz operação contra 'tribunal do tráfico' em São Paulo (Foto: Divulgação)
Polícia faz operação contra 'tribunal do tráfico' em São Paulo (Foto: Divulgação)

Três pessoas suspeitas de assassinarem quatro jovens em maio deste ano foram presas na manhã desta quinta pela Polícia Civil de São Paulo. A investigação revelou que as mortes foram ordem do chamado “tribunal do tráfico” de uma facção criminosa, após a denúncia de que as vítimas teriam estuprado duas jovens. Recentemente, outros casos envolvendo dinâmica semelhante de justiçamento vieram à tona em São Paulo. Entre os casos, uma mulher que teria sido assassinada após negar um beijo a um traficante e um policial militar sequestrado junto com a namorada num baile funk que foi resgatado das mãos de criminosos na última segunda-feira (19).

A operação desta quinta, batizada de Vindita (reparação de uma ofensa), foi deflagrada pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil de São Paulo para o cumprimento de 11 mandados de prisão e 18 de busca e apreensão. Os quatro jovens teriam sido mortos em maio, após serem torturados por três dias. Seus corpos foram encontrados, enterrados, no dia 20 daquele mês, em Ferraz de Vasconcelos, por familiares. Eles contaram que os suspeitos tinham sido sentenciados pelo “tribunal do tráfico”. A determinação dos assassinatos teria acontecido porque no dia 15 de maio os quatro teriam estuprado duas adolescentes, após um encontro numa praça no bairro de Cidade Tiradentes. Os primeiros contatos foram aparentemente consensuais, diz a polícia.

No entanto, no dia seguinte, dois deles foram raptados num terminal rodoviário por um homem e duas mulheres. Uma delas é amiga das jovens que denunciaram o estupro, e a outra é integrante da organização criminosa e ex-mulher de um dos líderes da facção. O terceiro teria um relacionamento amoroso com uma das meninas supostamente estupradas. Em seguida, foi convocado o “tribunal”, chamado de “sintonia final”, que contava com outros cinco criminosos.

A terceira vítima sofreu uma emboscada, após receber mensagem do amigo mantido em cárcere, pedindo que o encontrasse no mesmo terminal. Já o quarto garoto chegou à comunidade no dia seguinte, após receber a informação do que estava acontecendo com os colegas, e também foi levado para o “julgamento”. Durante o cativeiro, um deles ainda tentou escapar.

Até a tarde desta quinta, três suspeitos já foram presos pela polícia, por porte ilegal de arma de fogo, na rua que dá acesso à comunidade onde os jovens eram mantidos. Os demais suspeitos, já identificados durante as investigações, estão com mandados de prisão expedido pela Justiça e serão alvo da Operação.

Tribunal do crime atacou recentemente

A presença de “tribunais do crime” é comum em regiões dominadas por facções criminosas. Em São Paulo, a polícia investiga um caso em que uma mulher de 26 anos foi assassinada supostamente após tentar se esquivar de uma situação de assédio de um integrante de uma facção, em um bar na Itaim Paulista, Zona Leste da capital.

O caso aconteceu no dia 14 de agosto e, ao sair do bar, a jovem foi sequestrada e levada a um cativeiro. Ela ainda conseguiu ser resgatada por policiais militares, denunciou o caso e fugiu para Taboão da Serra. Segundo a vítima, no bar, um traficante teria tentado lhe beijar à força e dito que ela seria sua mulher “por bem ou por mal”. Ela recusou o assédio e os dois começaram a discutir, até que ela foi levada para um cativeiro onde permaneceu o resto da noite. Durante o trajeto, o criminoso ainda teria dito que “não é assim que se trata um irmão”.

Ela só conseguiu escapar do cativeiro porque, na manhã seguinte, os criminosos decidiram levá-la para outro lugar e, no meio do caminho, foram interceptados por policiais militares. Nesse episódio, nove pessoas acabaram presas.

No mês passado, os criminosos teriam descoberto seu paradeiro no Taboão da Serra, e ela foi morta, mas não há informações sobre paradeiro de seu corpo. Segundo a Polícia Civil, ela foi assassinada na favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo. Na semana passada, a polícia prendeu três homens acusados pelo assassinato, inclusive um que seria o responsável pelo “tribunal”.

Já na última segunda (19), um policial militar e sua namorada foram resgatados enquanto estavam sendo levados a um cativeiro, a caminho de outro “tribunal do crime”, na região metropolitana. Ele foi libertado em Franco da Rocha e ela em Jundiaí. No domingo, o casal estava em um baile funk, numa comunidade de Osasco, e após uma discussão, os dois foram sequestrados.

O carro que transportava o policial passou a ser perseguido após passar por um radar inteligente, que acusou que o veículo era roubado. Durante a perseguição, o carro bateu, o que resultou no resgate. Segundo a polícia, ele estava sendo levado para um “tribunal do crime”.