SOS Rio Grande do Sul

Porto Alegre tem mês mais chuvoso de sua história e estima prejuízo de R$ 8 bilhões

Estima-se que mais de 157 mil pessoas tenham sido afetadas pelas enchentes no RS

Chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul atingiram ao menos 157 mil pessoas e causaram prejuízo de R$ 8 bilhões (Foto: Agência Brasil)
Chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul atingiram ao menos 157 mil pessoas e causaram prejuízo de R$ 8 bilhões (Foto: Agência Brasil)

O mês de maio, que terminou nesta sexta-feira, foi o mais chuvoso da história da Porto Alegre, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), cuja série histórica teve início em 1910. Foram 513,6 milímetros de chuva registrados na estação meteorológica do bairro Jardim Botânico, superando pela primeira vez a marca de 500 mm. Estima-se que as enchentes tenham atingido mais de 157 mil moradores, deixando cinco mortos e 11,2 mil desabrigados distribuídas ainda hoje em 135 abrigos.

A gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB) estima que a destruição pelas chuvas tenha provocado um prejuízo financeiro na casa de R$ 6 bilhões a R$ 8 bilhões — isso porque ainda há contas sendo feitas em relação às áreas de saúde, educação, sistema de drenagem e das áreas verdes atingidas. O município contabiliza R$ 600 milhões de impacto com a redução de receitas de arrecadação por isenções fiscais — como ISS, IPTU, entre outros — e mais R$ 5,5 bi em danos físicos.

A prefeitura afirma ter empenhado, até agora, recurso de R$ 323 milhões, sendo R$ 152 milhões já em execução. A maior demanda de investimento se concentra na área de habitação: cerca de R$ 2 bilhões. Os dados foram divulgados nesta sexta, durante o lançamento de um programa de reconstrução da cidade, batizado de “Reconstruir Porto Alegre”. Em todo o estado, as chuvas deixaram 169 mortos.

Nível do Guaíba

Segundo o MetSul, todos os maiores registros mensais de precipitação até hoje, desde o começo dos dados regulares em 1910, foram sempre entre 300 mm ou 400 mm, o que evidencia a excepcionalidade e a anomalia histórica deste mês. A média de chuva histórica de maio na capital gaúcha pela série 1991-2020 é de 112,8 mm. Isso significa que, entre o dia 1º e às 9h do dia 27, choveu quase cinco vezes mais que a média mensal de precipitação.

Ao considerar o intervalo de 30 dias, a partir de 27 de abril, quando começou o período chuvoso, o volume na estação do Jardim Botânico somou 664 mm em 30 dias — ou 44% da média anual inteira.

A maioria dos meses mais chuvosos na história ocorreu em anos com atuação do fenômeno El Niño, em 1941, 1982, 2023 e 2024. O fenômeno é caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico, alterando a circulação atmosférica e alterando a distribuição de umidade e temperatura em vários locais do planeta. Medições apontam que ao menos cinco municípios registraram acumulados superiores a mil milímetros entre 28 de abril e 28 de maio: Fontoura Xavier, Caxias do Sul, Cerro Branco, Guaporé e Sinimbu.

Com a subida do nível das águas dos rios que desaguam no lago Guaíba, o corpo d’água que banha Porto Alegre atingiu uma altura recorde no começo do mês. O pico foi de 5,35 metros na Usina do Gasômetro no dia 5, segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), em colaboração com o Serviço Geológico do Brasil (SGB).

O nível do lago chegou aos 3,67 metros, de acordo com medição feita na altura da Usina do Gasômetro, nesta sexta-feira. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) substituiu o cais Mauá, cuja cota é de 3 metros, pela usina como referência oficial da inundação do lago. A cota de inundação no local é de 3,60 metros.

De acordo com o Inmet, a previsão para os próximos dias é de tempo bom para a maior parte do Rio Grande do Sul. Há chance de chuva fraca em alguns pontos do litoral norte do estado. Há possibilidade de geada em algumas cidades, com uma massa de ar frio que pode derrubar as temperaturas para 5°C na serra gaúcha.

Reconstrução

A prefeitura lançou um programa de reconstrução, que consiste em mapear os estragos e captar parcerias com empresas para custear obras de reparo e reconstrução necessárias. Na apresentação, foram colocados na ponta do lápis prejuízos financeiros e de infraestrutura sofridos após a catástrofe.

Os números mostram que 19% do sistema de saúde da capital estão afetados: são 17 hospitais e clínicas inundados e outras onze unidades ilhadas. O valor estimado para recuperação desses equipamentos é de R$ 115 milhões. Na área da educação, a prefeitura afirma que 12 escolas precisam ser reformadas e outras duas reconstruídas por completo: um impacto de 14% da rede, e que deve demandar cerca de R$ 36 milhões em investimentos.

Há ainda necessidade de intervenções para recuperação de áreas verdes, orçadas em R$ 82 milhões. São 161 praças impactadas e 457 mil m² afetados — 17% do total. A área de assistência social também demanda, ainda segundo a prefeitura, um investimento de R$ 19,5 milhões, com a reconstrução de dois prédios ligados à pasta e sete que precisam ser reformados.

O tradicional Mercado Público de Porto Alegre, que ficou inundado, também entra na conta: de acordo com o município, há uma demanda de R$ 6 milhões para recuperação dos 8 mil m² do pavilhão, que abriga 100 empresas, onde trabalham cerca de mil funcionários.

Por fim, a prefeitura apresentou necessidade inicial de investimento de R$ 500 milhões para obras de reconstrução de drenagem e segurança hídrica na cidade. O sistema foi muito criticado durante os períodos mais críticos das chuvas, e o próprio prefeito Sebastião Melo, em entrevista ao GLOBO, admitiu que houve falhas que precisam ser revistas. As intervenções englobam redes de esgoto e águas pluviais, diques de proteção, comportas, estruturas de bombeamento de água e recuperação das estações de tratamento e distribuição de água.

Texto: Agência O Globo