MOTIVOS PESSOAIS

Presidente do Banco do Brasil pede demissão do cargo

O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, entregou seu pedido de renúncia ao cargo ao presidente…

O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, pediu demissão do cargo. O pedido tem efeito a partir de agosto. (Foto: Adriano Machado / Reuters)

O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, entregou seu pedido de renúncia ao cargo ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Economia, Paulo Guedes. O pedido tem efeito a partir de agosto, em data que será definida e comunicada ao mercado, de acordo com nota enviada pelo banco para a Comissão de Valores Mobiliários, na noite desta sexta-feira.

No texto, o banco afirma que Novaes avalia que a companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de inovação no setor bancário.

Segundo fontes próximas a Guedes, Novaes estava cansado e pediu demissão por motivos pessoais. Ele tem dito a amigos que quer ficar mais próximo dos netos, no Rio.

De acordo com relatos de interlocutores de Novaes, Bolsonaro cobrava uma atuação mais incisiva no Banco do Brasil, especialmente na redução de juros. O presidente tem comparado a situação do BB com a Caixa Econômica Federal, que efetuou uma série de cortes de juros nos últimos meses.

Em sua defesa, Novaes lembra que o Banco do Brasil é uma empresa de capital aberto, com ações negociadas em Bolsa. Isso também vai contra ao desejo de Novaes, que é privatizar o banco.

Novaes estava desgastado com o Tribunal de Contas da União (TCU) desde a reunião ministerial de 22 de abril. Nela, ele chamou a corte de “usina de terror”. Mais recentemente, se irritou com decisão do tribunal de suspender anúncios em sites e blogs suspeitos de publicar ou compartilhar fake news. Ao recorrer ao tribunal contra a decisão, o banco argumentou que está tendo prejuízo e redução de acessos com a proibição.

O Ministério da Economia ainda não se manifestou.

Novaes tem 74 anos e é muito próximo a Guedes. Era uma indicação pessoal do ministro. Tomou posse em janeiro de 2019, logo após Guedes assumir o Ministério da Economia.

Assim como Guedes, é do time de ex-alunos da Universidade de Chicago (EUA), expoente do pensamento liberal. Os dois se conheceram quando estudavam na instituição. O até agora dirigente do BB está na equipe de Guedes desde a transição de Bolsonaro.

“O Banco do Brasil (BB) comunica que o Sr. Rubem de Freitas Novaes entregou ao Exmo. Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, e ao Exmo. Ministro da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes, pedido de renúncia ao cargo de presidente do BB, com efeitos a partir de agosto, em data a ser definida e oportunamente comunicada ao mercado, entendendo que a Companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário”, diz o texto.

Em entrevista recente ao GLOBO, concedida no fim de maio, Novaes disse estar convencido de que era necessário privatizar o Banco do Brasil, mas se dizia frustrado por não ver condições políticas para levar a proposta adiante. O presidente Jair Bolsonaro era contra a privatização do banco.

Mesmo durante a pandemia, Novaes continuava a dar expediente no BB.

Na avaliação de Novaes, a privatização era o melhor caminho para modernizar a instituição.

Ele afirmou na ocasião que o banco perdeu o bônus de ser público e ficou apenas com o ônus. Novaes citou como exemplo o fato de que o banco tinha a folha de pagamento de todo o setor público, a administração de depósitos judiciais e de repente tudo isso passou a ser definido por meio de concorrência.

Ele se queixou de regras como ter de fazer concurso público e não ter a mesma facilidade para contratar ou demitir um funcionário.

Reunião ministerial

Na reunião ministerial do dia 22 de abril, que teve o sigilo derrubado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), Rubem Novaes afirmou que o pico de mortes por coronavírus já havia passado. Na ocasião, o país registrava em torno de duzentos óbitos a cada 24 horas. Hoje, há mais de 85 mil mortes pela doença.

Depois da afirmação, Novaes foi alertado pelo ministro da Casa Civil, Braga Netto, que as projeções feitas pelo governo à época indicavam que o pico ainda não havia chegado.

“A minha sensação, de quem não é especialista no negócio, mas que observa os números, é que o tal do pico, o tal do famoso pico, que gerava tantas preocupações, a minha sensação é que esse pico já passou, né?”, argumentou Novaes, que é economista.

Na mesma reunião, Guedes disse que o governo faz “o que quer” com a Caixa e o BNDES. Já no BB, “a gente não consegue fazer nada” e “tem um liberal lá”, em referência a Novaes.

“O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam’. Aí se falar assim: ‘bota o juro alto’, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”, afirmou, completando: “Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”.

Rubem, então, diz que o povo vê o Banco do Brasil como um “porto seguro” e que o banco está em uma situação confortável.