Homenagem

Professores transformam vida de alunos em Goiânia

No Dia do Professor, destacamos a vida de duas docentes de escolas públicas que, apesar de todas as dificuldades, ajudam a mudar a vida de seus educandos

“Todos os profissionais passam pelas mãos dos professores”. Essa frase significa em peso o trabalho de todos os profissionais da educação. Ser professor é muito além que ministrar uma aula dentro de sala. É transmitir conhecimento, educação e formar cidadãos para enfrentar o mundo afora. Alguns profissionais enxergam seus alunos como filhos, que devem ser bem-educados para retransmitir esse conhecimento na sociedade.

Professora de biologia no Colégio Estadual Senador Onofre Quinan no Parque Atheneu, Luariane de Lourenço, de 36 anos, desenvolve esse trabalho que reflete além do ambiente escolar. Docente há 15 anos no Estado, Lauriane conta que se inspirou em uma educadora na hora de escolher a sua profissão. “Geralmente a escolha profissional de qualquer aluno se baseia nos professores que eles têm no ensino fundamental ou no ensino médio. Eu tive uma professora no ensino médio, professora Tereza, de biologia. Era uma moça que estava começando a dar aula e ela foi assim: uma inspiração”, destaca a bióloga.

A professora, que  diz ser apaixonada pelos seus alunos, conta que essa relação se deu, além do amor pela profissão, ao criar uma preocupação com cada um deles. Lauriene destaca que tem cerca de 610 alunos e que trabalha em uma carga horária de 42 aulas semanais. Por isso, uma boa parte do tempo é com seus alunos e fazê-los se sentir da parte da sua família é primordial em uma boa relação no ambiente escolar. “Sei o nome de todos os meus alunos e conheço a história de vida de cada um deles. Tenho comigo que o aluno aprende melhor quando sabe que a professora gosta deles, se preocupa com eles. Eu me preocupo muito com o processo de aprendizagem deles. Vibro e me emociono com cada evolução deles, pois vejo em cada um sentado na carteira da sala de aula o meu reflexo.”

Professora se diz “apaixonada pelos seus alunos” e que os têm como seus filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Lauriene narra,  orgulhosa, que venceu a luta contra o celular dentro da sala de aula. Isso graças a uma metodologia que adotou em suas aulas que prenderam a atenção dos alunos e, consequentemente, melhorou o desempenho deles. A docente até conseguiu um aumento significativo de presenças dos estudantes na escola. “Minhas aulas acontecem somente no laboratório de Biologia com associação de todo conteúdo da matriz curricular na vivência prática. Adolescentes e jovens só dão credibilidade e atenção naquilo que conseguem se sentir atraídos de alguma forma. Eles precisam saber para que serve e como aplicar aquele conhecimento. Nas aulas práticas, eles conseguem vivenciar isso. Tive um aumento de 30% nas notas e as frequências melhoram bastantes. Sinto que eles gostam, que eles pedem e dão ideias geniais que só somam nas dinâmicas das aulas”, explica.

Idealizadora de diversos projetos dentro da escola com o propósito de refletir na vida de seus alunos, Lauriene colocou grande parte em prática na escola. Ela conseguiu por meio de doações reabrir e equipar o laboratório de biologia. A professora também realizou, com a ajuda dos estudantes, a verificação da quantidade de fungos nos aparelhos celulares de cada um e arrecadou brinquedos que foram distribuídos para crianças carentes no lixão de Aparecida de Goiânia.

Outro ponto que ela destaca para o sucesso na sala de aula é a interatividade que ela utiliza com os seus alunos. A professora já fez músicas com o conteúdo da disciplina. Com isso, ela destaca que o conhecimento se torna mais fácil e dinâmico entre eles.

Alunos desenvolvem projetos na escola. (Foto: Arquivo Pessoal)

Todo esse esforço é retratado pelo carinho que os alunos demostram por meio de mensagens nas redes sociais e até visitações na própria escola. Lauriane mostra emocionada os depoimentos de antigos alunos que venceram na vida e que atribui boa parte desse sucesso pelo seu companheirismo e todo esforço desse trabalho. “Compensa as 42 aulas na semana, acordar às seis e ir dormir à meia noite. Compensa muitos finais de semana que poderiam ter sido dedicado à minha família, mas foram usados para correções de inúmeras provas. Sou responsável pelo futuro de muitos jovens. Eles confiam em mim, contam comigo e eu acredito em cada um deles.”

E ainda completa. “A escola é a formação da cidadania. São alunos na escola e cidadãos na rua. Eles têm que aprender a se portar com respeito em ambos os lugares. Não vejo uma coisa desvinculada da outra. Um futuro se faz com planos e conhecimento sem dúvidas, mas acima de tudo se faz com pessoas. Brinco com meus alunos que ensino Biologia, mas também ensino a ser gente. Nisso, eles sentem meu amor pela Biologia, por eles e sabem o valor que dou no direito de ensinar”, frisa Lauriane.

Profissional transformador

Durante as tradicionais dúvidas sobre qual profissão seguir após o ensino médio, Alessandra Soares, hoje com 42 anos, optou por cursar História e se tornou professora. Há 6 anos ela trabalha no Colégio Estadual Dom Fernando I, em Goiânia, e ela diz que acertou na escolha profissional. “A minha profissão é encantadora. O professor pode transformar uma pedra bruta em uma pedra preciosa, tudo depende do empenho do aluno e do professor. Apesar de algumas lutas diárias eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja a docência”, destaca.

Apesar dos enormes percalços que a educação brasileira sofre, sobretudo a baixa valorização do professor, Alessandra destaca com pesar que isso ainda está longe de mudar. “A valorização dos professores no Brasil é precária. No nosso Estado tivemos algumas melhorias, mas quando se fala em Brasil essa realidade é muito mais sofrível, com salários atrasados e professores que apanham de alunos. Infelizmente ainda não enxergam que ninguém consegue se graduar sem a ajuda desse profissional”,  lembra.

Alessandra destaca que utiliza métodos modernos para interagir com os seus alunos. Slides e filmes sobre a temática da aula são reproduzidos para auxiliar no entendimento das matérias. Um ponto que aborta é em questão aos povos indígenas e povos africanos. Nestas aulas, as participações dos alunos são unânimes e ajudam a conhecerem um pouco sobre quem participou da construção cultural do Brasil. “Esses assuntos não costumam ser explorados em sala de aula e eu costumo dar prioridade por se tratarem de povos que contribuíram para a formação do Brasil como nação, visando também combater estereótipos que levam ao preconceito”, relata a professora.

Baseado nisso, Alessandra explica que realiza com os alunos um debate quinzenal para levantar a questão da igualdade social. Assim, os alunos relatam como são tratados nos espaços públicos e privado. A roda tem como finalidade promover a relevância do assunto e fortificar o relacionamento diário entre as pessoas. “Organizamos a 1° Pré Conferência Municipal Da Igualdade Racial onde os alunos irão para a Conferência levando propostas de melhorias para os alunos negros, indígenas e ciganos’, conta. A conferência ocorrerá nos dias 27 e 28 de outubro na Secretaria Municipal de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Alunos de Alessandra após o debate sobre racismo. (Foto: Arquivo pessoal)

Alessandra conta orgulhosa da transmissão de conhecimento e do futuro promissor de seus alunos. O apego a eles foi necessário e se tornou outra fonte de aprendizagem, que é infinita. A cada nova turma, a sensação de dever cumprido é satisfatória para continuar nessa jornada. “Eu vejo os meus alunos com todo o futuro pela frente. São pessoas maravilhosas com quem eu faço uma troca de conhecimentos, a ser mais humana, mais gentil e em troca recebo tudo isso de volta. Costumo dizer que eu me divirto muito com as minhas aulas, simplesmente me sinto apaixonada por tudo”, encerra, orgulhosa, a professora.

 

*João Paulo Alexandre é intregrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lôbo.