Eleições 2016

“Queremos radicalizar a democracia”, diz Flávio Sofiati

Nem só de ex-secretários, ex-vereadores e ex-deputados será feito o pleito pela Prefeitura de Goiânia…

Nem só de ex-secretários, ex-vereadores e ex-deputados será feito o pleito pela Prefeitura de Goiânia neste ano. No canto mais à esquerda da disputa, um professor universitário, ainda desconhecido pela maior parte do grande público, quer ser lembrado por suas promessas de “radicalizar a democracia”.

O candidato do Psol, Flávio Sofiati, é, aos 38 anos, o mais jovem dentre os concorrentes. Em entrevista concedida ao Mais Goiás, ele revela que pretende compensar sua falta de experiência no mundo político com a sua vivência na academia. “Sou o único doutor. Tenho doutorado em Ciências Sociais e essa é uma experiência importante que precisa ser considerada”, afirma.

Sem o apoio de grupos empresariais, o socialista quer fazer sua campanha com a força da militância, formada principalmente por moradores das periferias da capital. Não poderia ser diferente, já que grande parte da plataforma defendida por ele se baseia na “desprivatização de Goiânia”, que se manifesta, por exemplo, na proposta de encerramento dos contratos com as empresas de transporte coletivo e na luta contra a terceirização dos serviços públicos.

Sofiati também tem uma abordagem diferenciada quando se trata da segurança pública. “A repressão tem resolvido? Não. Então por que a gente não faz campanha para um pré-candidato que está pensando a luta contra as drogas não como política de polícia, mas como política de saúde?”, questiona. “Nós queremos reverter a lógica de que segurança só se faz com polícia e repressão”, complementa.

Outras bandeiras defendidas pelo professor são a realização de plebiscitos para discutir assuntos relevantes para a população, a preservação e ocupação dos locais públicos como formas de combate à criminalidade e a ampliação dos convênios com as universidades para a elaboração de pesquisas e planejamentos que contribuam com o desenvolvimento da cidade. “Tem se falado muito em crise de democracia representativa, mas a gente tem que fortalecer a representação com participação direta”, pontua.

Confira os principais trechos da entrevista:


O senhor aparece nas pesquisas como o candidato com menos intenções de votos e ao mesmo tempo também como o que tem o menor índice de reeleição. Isso revela um grande potencial de crescimento. Como o senhor analisa esses dados?

Tem dois dados importantes que as pesquisas trazem, que no meu ponto de vista, nesse momento, são os dois mais importantes. Como você já trouxe, eu sou o candidato com menos rejeição, mas tem um outro dado que é mais importante do que esse, que é o fato de que quase 80% da população não decidiu em quem votar. Então você junta esses dois dados: eu sou o que tem menos rejeição — claro, sou o menos conhecido ainda, mas sou também de um partido de esquerda, Psol, que é um partido hoje com credibilidade na sociedade –, e a maioria da população ainda não decidiu em quem votar. Então, sim, acho que esses elementos concretos da pesquisa me colocam com possibilidade de crescimento.

E o senhor fechou agora uma aliança com o PCB.

Isso.

O PCB sempre foi um partido muito fechado, que não fazia muitas alianças, geralmente apenas com o PSTU. Como foi esse acerto?

Essa foi uma aposta que inclusive a gente fez nessa campanha. Na verdade a gente fechou com o PCB e com todas as outras frentes de grupos organizados da esquerda socialista em Goiânia. Isso não acontecia há muito tempo. Se você pegar as últimas quatro, cinco eleições para governador e para prefeito, não houve consenso em nenhuma outra candidatura da esquerda socialista, e nessas eleições nós vamos sair com um único candidato, no caso, eu. Mas como isso foi possível? Nós iniciamos ano passado um movimento chamado “Se a Cidade Fosse Nossa” pra pensar direito a cidade. Então antes de começar a discutir nomes a gente foi discutir a cidade, a realidade social de Goiânia, evidentemente no ponto de vista dos que mais precisam. Essa metodologia, essa ferramenta em torno do “Se a Cidade Fosse Nossa” possibilitou aproximação de grupos políticos, sejam eles partidários ou não, setores organizados da sociedade civil e cidadãos, cidadãs que viram naquilo uma ferramenta interessante e coerente de pensar a política para o bem comum. Isso que a gente tem falado muito esses dias, uma política que pense no coletivo. Então as pessoas começaram a perceber que não era uma campanha, ou uma possibilidade de campanha, ou de articulação política que fosse beneficiar um indivíduo, para ele crescer e virar candidato, como comumente se tem hoje no Brasil, inclusive na Câmara de Vereadores e na política goiana. Se você pega a Câmara de Vereadores , são 35 vereadores, e é difícil você mapear ali quem de fato não está preocupado com interesses particulares ou defendendo interesses de grupos privados. Então tivesmos essa movimentação em torno do “ Se a Cidade Fosse Nossa”. Assim, o PSTU define nacionalmente que não tem aliança com ninguém, você sabe que teve rompimento de um grupo importante e esse grupo está com a gente em Goiânia, que é o MAIS, além de outros grupos como o Polo Comunista, PCR, que está articulando unidade popular, setores da sociedade civil que são antiproibicionistas, que defendem a desmilitarização, tem o pessoal, por exemplo, que organiza a Marcha da Maconha, pessoal que luta pela desmilitarização da polícia. Então toda essa movimentação em torno do “Se a Cidade Fosse Nossa” possibilitou essa unidade. Nós fizemos um método inverso. Não chegou uma figura, duas ou três que vão disputar quem pode mais, não. A gente pensou o projeto, pensou a cidade e no percurso desse processo acabei sendo escolhido consensualmente entre essas forças políticas para eu ser o pré-candidato a prefeito.

E no que consiste exatamente o “Se a Cidade Fosse Nossa”?

O “Se a Cidade Fosse Nossa” é focado naquilo que falei para você, em torno do direito da cidade, pensar direito a cidade. Evidentemente, como nós somos de esquerda, pensamos do ponto de vista dos mais pobres. Então, isso é uma coisa que temos ratificado muito: não é uma lógica de uma esquerda tradicional que vai pensar nas coisas para os pobres. Nós trabalhamos com os pobres, tanto é que se você pegar nessa chapa de vereadores, grande parte dela é composta por militantes sociais que moram nas periferias, lá no Vale dos Sonhos II, no Madre Germana II. O presidente regional do Psol é um operador de telemarketing que mora no Jardim Cerrado II. Então são essas pessoas que estão dirigindo a minha pré-campanha. Junto com tudo isso, intelectuais, empreendedores, setores da classe média. Não é um projeto para os pobres, mas com os pobres. Particularmente, eu também sou de origem humilde, sou [filho] de pai operário, minha mãe era diarista e eu sou uma das exceções das classes populares que conseguiu crescer na vida e eu, enfim, graças a Deus hoje faço o que eu gosto. Sou professor de uma universidade pública, então eu tenho uma estabilidade, faço o que eu gosto e ganho pra isso. Não é todo mundo que tem essa possibilidade de onde venho. Esse é o processo do “Se a Cidade Fosse Nossa”: a cidade de Goiânia hoje, assim como muitas outras cidades do Brasil, foi sequestrada por grupos privados que se apropriam de serviços públicos e prestam serviços de má qualidade. Nós queremos mudar esse jogo, porque do jeito que está, você tem hoje em Goiânia menos democracia e mais desigualdade social. E nós queremos inverter o jogo. A gente quer ter mais democracia e menos desigualdade social. Como nós vamos fazer isso? O movimento “Se a Cidade Fosse Nossa” já tem dado um exemplo concreto na própria pré-campanha: primeiro que a gente não começa nas eleições e a gente não termina nas eleições. A gente começa antes das eleições e seguimos pra lá depois das eleições, porque as eleições são uma ferramenta da luta.

E por que devemos pensar em mais democracia e menos desigualdade? Por que hoje é menos democracia? Porque se você pegar o executivo municipal, por exemplo, ele é muito controlado por pequenos grupos políticos ligados a conglomerados econômicos. Eu vou dar dois exemplos aqui na cidade: setores imobiliários especuladores, e, por exemplo, as empresas, as poucas famílias, que administram as empresas de ônibus da cidade. São dois grupos, por exemplo, mas tem mais. Então o prefeito está muito controlado por esses grupos particulares, privatistas, e nem ele, nem os anteriores, têm um perfil de diálogo mais democrático com a população. Vou dar um exemplo, Paulo Garcia, por exemplo, começou a discutir o IPTU, teve problemas, e quem ele chamou para conversar? Um grupo de empresários, a FIEG. Ele não fez nenhuma reunião na periferia com trabalhadores, com populares. A gente fala que é um governo que tem um executivo muito concentrado, pouca democracia na verdade. Nós no Executivo municipal vamos democratizar o poder do prefeito. O prefeito hoje tem a prerrogativa de fazer um projeto de lei. Ele pode fazer sozinho, pode fazer na casa dele, fazer dentro do gabinete dele, fazer junto com o primeiro escalão. Mas nós vamos fazer diferente, vamos fazer muitos projeto da iniciativa popular. Então, por exemplo, o IPTU ser mais digno para a cidade significa que quem tem mais condições de pagar, que pague um pouquinho mais para melhorar a vida de quem não tem muitas condições. Os que moram em empreendimentos de luxo da cidade, nos grandes condomínios de alto padrão, podem pagar um pouquinho mais de IPTU para patrocinar, financiar a estrutura de bairros como Vale dos Sonhos II. É um bairro que não tem asfalto, situação precária, pouco aparelhos públicos de saúde e educação, então a gente acha que é digno que isso aconteça. Mas eu não vou fazer isso sozinho, nós vamos fazer isso com a população, dialogando com a população, mostrando para a classe média que é importante fazer essa redistribuição, porque tem pesquisas que mostrar que se tem um serviço público de qualidade a própria classe média começa a acessar. Eu tenho certeza que se a gente fizer um transporte urbano em Goiânia melhor do que é hoje a classe média vai começar a usar ônibus, porque é muito mais conveniente você ir para o centro da cidade de Eixo, por exemplo, ou de ônibus, do que ir lá de carro, procurar lugar para estacionar, procurar um lugar e pagar muito mais. Eu, por exemplo, vou daqui pro centro de ônibus, mas ele tem que ser melhorado, a gente tem que ter mais segurança, para ter menos assédio, por exemplo, com relação às mulheres. Mas então a própria classe média se beneficia quando você tem serviço público de qualidade. Ela começa a acessar. Então ”Se a Cidade Fosse Nossa” vai pensar esse elemento da democratização e a redistribuição de renda, percebe que são coisas conjuntas? Esse projeto de iniciativa popular que vai repensar o IPTU envolve mais democracia e envolve também distribuição de renda. Nosso foco é esse.

O Psol sempre defendeu muito a bandeira da democracia participativa. Além desses exemplos que o senhor citou, de que outras formas ela poderia se manifestar aqui no município?

Além dessa ferramenta dos projetos de lei, a gente quer fazer alguns plebiscitos na cidade. Não muitos, mas alguns, porque é educativo. A gente teve 13 anos de governo do PT e o governo fez um plebiscito que foi do desarmamento. Esperava-se muito mais. Tanto que eu digo o seguinte: o grande desafio do Psol é mostrar o que significa ganhar as eleições à esquerda. Isso significa o que? Significa ganhar para valer, sem assumir compromissos com os setores que mantém a atual sociedade como ela está hoje. E é isso que estamos fazendo. Eu te falei aqui dos nossos aliados, não tem ninguém que está pensando na política para seu benefício próprio. Nós estamos reunindo pessoas sejam ligadas a partido ou não, que estão pensando na política para o bem comum, então é o nosso grande lema. Nós vamos fazer alguns plebiscitos de temas importantes como, por exemplo, do Passe Livre. Eu acho que não faz sentido eu ganhar as eleições e não trabalhar por uma política séria, concreta de estabelecer o Passe Livre. Que seja progressivo para desempregados, para estudantes, tanto é que se você pega as estatísticas do Brasil e 24% da juventude está desempregada, então dá pra fazer progressivamente. Não acho que faz sentido entrar na Prefeitura para não fazer isso, pois são ideias que eu defendo, que o Psol defende, mas a gente quer dialogar com a sociedade. Estar no poder também significa partilhar o poder nesse ponto de vista de dialogar com a sociedade. “Nós estamos propondo isso, o que vocês acham? Vamos pensar nesse caminho?”. Até mesmo porque a nossa lógica de relação com a Câmara Municipal não é a lógica do toma lá da cá, é uma perspectiva de envolver a sociedade para os interesses da sociedade. Então a ideia do Passe Livre, se virar um projeto de lei de iniciativa popular, não vai ser mais ideia do Flávio Sofiati, não vai ser mais ideia do Psol. Vai ser uma ideia da população, que a população aderiu e a Câmara Municipal se vira pra saber se vai aceitar ou não. Se vai aprovar ou não. Aí é prerrogativa do Legislativo. Eu vou fazer minha parte quanto Executivo municipal. Até mesmo porque nós temos que manter a autonomia dos outros poderes. Então o poder Legislativo vai continuar tendo a autonomia que ele tem, mas ele vai dialogar com a população.

Outra coisa importante: além de projetos de iniciativa popular e dos plebiscitos, vai ser a democratização dos conselhos municipais. Nós queremos tornar todos os conselhos paritários e deliberativos, então não vai ser um conselho que você vai consultar e o prefeito depois avalia se quer ou não a consulta. Decidiu no conselho municipal de juventude, de saúde, de educação, de direitos humanos, o prefeito vai implementar. Então isso democratiza, percebe? E outra coisa fundamental: eu inclusive que sou um pesquisador da área de ciências sociais, que atua inclusive em especialização de políticas públicas, eu sei, tanto do ponto de vista teórico quanto concretamente por atuar nas associações em que atuo, que política pública eficiente tem que ter três elementos, três segmentos sociais envolvidos: os especialistas que entendem do tema, os funcionários público que irão implementar aquela política pública, e o setor da sociedade civil que vai ser atendido. Se esses três segmentos sociais não sentarem para pensar a política, ela não vai ter efeito. Então isso nós vamos fazer também. Todo projeto de lei não dá pra sair do prefeito, tem que sair de segmento social, e isso também é democratização, e é mais certo, percebe? É muito mais fácil errar fazendo um projeto vindo da minha cabeça do que sentando com quem vai ser atendido. É racionalmente mais efetivo e até do ponto de vista burocrático é melhor. Mais chance de acertar. Claro isso vai dar trabalho, significa partilha de poder, é por isso que o prefeito hoje não faz. Imagina o prefeito hoje ao invés de fazer reunião com os empresários para discutir o IPTU, vai lá no Madre Germana II discutir o IPTU. Ele vai ter que assumir compromissos que não são os mesmos que ele assumiu nas eleições. Não são os mesmos dos grupos que financiaram ele. Então essa mudança que queremos implementar na cidade.

O grupo no qual o senhor está inserido nessas eleições nunca teve expressividade na Câmara. O senhor acredita que teria condições de governabilidade caso seja eleito? De que forma?

A governabilidade se daria nessa lógica. Não seria mais a relação do Executivo com o Legislativo. Seria uma relação do Executivo com o Legislativo intermediada pela sociedade civil. Vou dar um exemplo: digamos que vamos fazer um projeto para aumentar o investimento nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Eu não vou fazer isso no meu gabinete, como uma política populista, e mandar para a Câmara, negociando no toma-lá-dá-cá, oferecendo cargo ou dinheiro. Não. Eu vou chegar no setor da sociedade civil interessado nisso, como as famílias que precisam de Caps, os agentes públicos que vão trabalhar nisso, os militantes antimanicomiais. Vou sentar com eles e perguntar: “Qual o melhor projeto? Vamos mapear aqui na cidade quais locais precisam ter Caps”. Nós vamos fazer juntos. Aí eu vou lá para a Câmara Municipal… talvez eu nem vá. Eu posso sugerir que a sociedade civil leve o projeto. Aí a Câmara vai discutir se é ou não é viável, mas vai discutir tendo essa relação intermediada pela sociedade civil. É isso que falta.

Tem se falado muito em crise de democracia representativa, mas a gente tem que fortalecer a representação com participação direta. Isso que nós queremos. É o que estamos chamando de radicalizar a democracia, que é botar a sociedade para funcionar de fato.

O senhor não possui experiência política.

Já fui assessor parlamentar e como sociólogo atuo desde sempre em movimentos sociais.

Certo, mas comparado a outros que já foram deputados, vereadores e secretários, por exemplo, o senhor está em desvantagem nesse sentido, não?

Eu sou o candidato mais jovem. Tenho 38 anos, apesar dessa cara de mais velho. E sou o único doutor. Tenho doutorado em Ciências Sociais e essa é uma experiência importante que precisa ser considerada. E a política que a gente quer implementar é mais importante que, por exemplo, a do Luiz Bittencourt, que é um engenheiro e está ligado aos segmentos imobiliários. Nós vamos fazer um enfrentamento a esse segmento mais especulador, coisa que esse candidato, por exemplo, não teria condições de fazer por estar ligado a esse grupo.

Todas as mudanças que a gente quer fazer, a pré-candidata da prefeitura [Adriana Accorsi] não vai dar conta porque ela já se comprometeu com essa política. O [Giuseppe] Vecci é o pupilo do governador. Ele não fará nada que vá contra as propostas do governador e a gente já sabe como é feita a administração do Estado: Com OSs, privatização, terceirização. São todas essas experiências que não cabem para nós. Para a nossa política a experiência do Vecci não vale nada, porque somos contra a privatização. Estamos lutando para desprivatizar Goiânia, então experiência de privatizador é descartável.

O Djalma Araújo é um vereador. Conhece bem a cidade. Mas nós, nessa rede do “Se a Cidade Fosse Nossa”, temos essa rede de pessoas que não só conhecem a cidade, mas vivenciam a cidade. Vou ser sincero com você: desses pré-candidatos não conheço nenhum que cotidianamente usa o transporte coletivo. Eu saio da minha casa e vou lá para a região norte, para o Samambaia, com o 263, aqui do Praça da Bíblia. Então essa vivência dificilmente esses outros pré-candidatos têm, de não só saber dos problemas da periferia porque algum burocrata ou assessor disse que lá é “assim”. Eu conheço. Eu fui lá e vi como é a vida das pessoas no Jardim Cerrado II. Eu tenho amigos que moram lá e frequento, assim como outros bairros da periferia. A nossa experiência de estar com os mais pobres nos dá a garantia de ser mais efetivos na implementação desse projeto que o “Se a Cidade Fosse Nossa” tem apresentado para Goiânia.

Tudo indica que o tema que deve dominar os debates políticos neste ano é a questão da segurança pública, que não costuma ser o carro-chefe do Psol. Inclusive, o partido costuma ser muito criticado por defender a bandeira dos Direitos Humanos, que muita gente vê como antônimo de combate à criminalidade. Quais são as propostas do senhor para essa área?

Há umas três semanas eu tive uma reunião com skatistas. Eu fiquei surpreso, porque um dos principais problemas que eles nos colocam é de segurança. Evidentemente, todos os setores da sociedade, dos mais pobres aos mais ricos, estão sofrendo com o problema da insegurança. Inclusive os mais ricos estão indo para os condomínios fechados por conta disso.

Eu tenho uma amiga professora de enfermagem que falou que está há dez anos sem assistir televisão aberta. Ela falou que nesses dez anos ela reaprendeu a conhecer a cidade e inclusive ressignificou até mesmo a lógica da experiência com relação à segurança ou à insegurança na cidade. Mas concretamente, o que o Psol, a Frente, o “Se a Cidade Fosse Nossa” tem a dizer sobre o tema da segurança? Nós queremos reverter a lógica de que segurança só se faz com polícia e repressão. Estou dizendo isso a partir de uma experiência minha, que sou um dos articuladores de um movimento nacional contra o extermínio de jovens pobres. Quando a gente usa o termo extermínio ou genocídio, as pessoas acham que a gente está exagerando, mas as pesquisas apontam isso. Se você pegar o Mapa da Violência de 2015, vai ficar evidenciado que quase 70% dos jovens, negros, pobres, moradores da periferia e homens – esses cinco elementos associados – acabam mortos de forma violenta, a maioria por arma de fogo.

Quando se compara esse dado com o dado do que significa a violência entre a juventude, para a maioria está ligada a questão do roubo – celular é o que está destacado. Então você tem de um lado a morte violenta de jovens e do outro “jovens infratores” – estou usando aqui aspas bem grandes –, e a maioria dos crimes que eles cometem é o crime de furto. E eu não estou falando isso a partir do senso comum, eu estou usando pesquisas, por exemplo, da Universidade de Goiás.

Nós na prefeitura vamos dialogar diretamente com a UFG que está há mais de cinco anos pensando em políticas de segurança e implementando políticas que não são analógicas ao “mais polícia, mais repressão, mais encarceramento”. Eu quero saber qual candidato está fazendo isso. Nós já estamos fazendo. Não significa que nós temos apoio oficial da UFG – sou professor de lá, mas é outra relação. A gente tem se aproveitado do conhecimento da universidade e a prefeitura tem que fazer isso. A gente tem em Goiás a UFG, a UEG, os institutos federais, a PUC. São espaços de geração de novos saberes e novos conhecimentos. Como é que a prefeitura não se aproveita disso? Você pega hoje os contratos, os convênios com esses grupos, essas instituições, e são mínimos. Temos que ampliar. Do ponto de vista da segurança, a gente se apropria dessas pesquisas para pensar inteligentemente como superar a crise da violência.

Vou dar outro dado de pesquisa da UFG: sabia que iluminação pública é mais eficaz para reduzir a violência que a repressão e o encarceramento? Eu mesmo fiquei surpreso quando vi isso. As pesquisas mostram — e isso não só aqui em Goiás, mas também em outros países do mundo — que se você melhora a iluminação dos espaços públicos, você diminui a violência com mais eficiência do que encarcerando. E aqui no Estado a gente continua encarcerando.

Nós, enquanto administradores públicos, temos que administrar com base na racionalidade, e a racionalidade exige que a gente conheça a realidade como ela é. E essas pesquisas têm mostrado isso. Então, a repressão tem resolvido? Não. Então por que a gente não faz campanha para um pré-candidato que está pensando a luta contra as drogas não como política de polícia, mas como política de saúde? Vamos fazer uma ação concreta combatendo as drogas, mas como política de saúde. O indivíduo tem uma família, tem toda uma história por trás dele. Ele está violento, mas pode ser recuperado. Se for preso, ele não vai ser recuperado. Se a polícia for e bater nele, ele não vai ser recuperado. Isso é jogar o problema para debaixo do tapete. Resolver o problema é difícil, e é por isso que as pessoas não fazem. Exige investimento e compromisso. Isso nós temos, porque temos autonomia. Não vamos receber dinheiro de nenhum conglomerado empresarial em Goiânia, então temos total autonomia desses grupos privatistas.

Temos falado muito também em ocupar as ruas e os espaços públicos. Se o prefeito de Goiânia consegue manter as praças em ordem, preservada, iluminada… eu defendo que toda praça tem que ter um pit-dog. Pit-dog gera sociabilidade. Defendo também que todo parque tem que ter escoteiros. Vou propor isso aos escoteiros. Sabe que não é caro, né? Se a gente arranja uma casinha de madeira para os escoteiros lá no Bosque Botafogo, eles vão lá e fazem tudo, resolvem a parada. Então deixando os espaços públicos em ordem, preservados e iluminados, a gente consegue diminuir a violência porque as pessoas vão ocupar as ruas. A Praça Cívica é um exemplo. Quanto tempo demorou para fazer aquela reforma? Estava muito ruim. Melhoraram a iluminação, a jardinagem, e o que está acontecendo? A sociedade está ocupando a Praça Cívica. Tem eventos acontecendo lá, você vê gente por lá às 9 horas da noite. Então percebe que é tudo política de segurança? As pesquisas indicam que ocupar os espaços funciona muito melhor que reprimir.

Principais propostas de Flávio Sofiati:

– Valorização dos espaços públicos da cidade

– Rompimento dos contratos com as empresas de transporte coletivo

– Eleição para os nomes do primeiro escalão da prefeitura

– Investimento na iluminação pública como forma de combate à criminalidade

– Ampliação dos editais para a cultura e valorização da classe artística