ARTE

Reformado, Museu da Língua Portuguesa prepara reabertura no segundo semestre

Tom Zé foi acometido de uma “febre de leitura” após assistir a um vídeo de…

Reformado, Museu da Língua Portuguesa prepara reabertura no segundo semestre
Museu da Língua Portuguesa abre sua primeira exposição após o incêndio de 2015 Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Tom Zé foi acometido de uma “febre de leitura” após assistir a um vídeo de “Língua solta”, exposição temporária inaugurada nesta terça no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e que permanece em cartaz até sexta. “Língua solta” faz parte da programação da Semana da Língua Portuguesa, que marca uma espécie de “pré-reabertura” do Museu, fechado desde dezembro de 2015, quando foi atingido por um incêndio (assista ao vídeo sobre a reconstrução do museu no fim desta matéria).

A mostra mistura obras de arte contemporânea assinadas por nomes como Arthur Bispo do Rosário, Leonilson e Jac Leirner com objetos de uso cotidiano que fazem referências à linguagem, como panos de pratos estampados com versículos bíblicos.

— É uma exposição sem hierarquias, que mistura obra de arte com o que pessoas escrevem na rua, o sofisticado com o brincalhão — conta Tom Zé.

O cantor participa das comemorações da Semana da Língua apresentando, na quarta-feira, uma performance inspirada em “Língua solta” que será transmitida no Facebook e no canal do Museu no YouTube. Para se preparar, o compositor praticamente montou uma exposição em sua casa.

— Botei na parede uma daquelas placas “Não urine no chão”, que, aliás, é título de uma música minha, junto com um rolo de papel higiênico, um retrato de quando eu era criança e umas caricaturas que fizeram de mim.

A exposição que encantou Tom Zé reúne 150 itens, que discutem como as palavras aparecem na arte tanto como marcadores de poder quanto como resistência. Segundo Fabiana Moraes, que assina a curadoria com Moacir dos Anjos, Tom Zé foi convidado para pensar numa performance baseada na mostra por ter “uma relação quase carnal com a língua”.

— A gente costuma dizer que o Museu da Língua não quer ser o “museu da mesóclise” — comenta Marília Bonas, diretora-técnica da instituição. — Temos um prazer gigantesco em sermos diversos, em celebrar a língua e seus diferentes falares, seus sotaques. Quebrar o cânone e tomar uma posição contra o preconceito linguístico sempre foi algo presente nas exposições.

“Língua solta” poderá ser vista por 160 pessoas, divididas em grupos de dez, respeitando os protocolos sanitários. Além da exposição, a Semana da Língua Portuguesa será comemorada com uma série de debates e eventos virtuais que reúnem mais de 20 convidados, como os escritores Mia Couto, José Eduardo Agualusa e o músico e ensaísta José Miguel Wisnik.

A reabertura oficial do museu está prevista para o segundo semestre. A retomada de todas as atividades do complexo cultural, no entanto, depende do Plano São Paulo, conjunto de regras para o funcionamento de serviços não essenciais relacionado ao número de casos de Covid-19. A reforma do museu consumiu R$ 81,4 milhões, levou quatro anos e foi entregue oficialmente em 16 de dezembro de 2019, mas a pandemia impediu a volta integral das atividades.

Quando o espaço for reaberto definitivamente, os visitantes poderão acessar um mezanino localizado na torre do relógio da Estação da Luz e avistar o Parque da Luz e a região central de São Paulo.

A pandemia levou a uma adaptação das obras do museu, conhecido pela interatividade. Larissa Graça, gerente de Patrimônio e Cultura da Fundação Roberto Marinho, parceira da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo na concepção da instituição, diz esperar que essa fase de restrição ao toque seja temporária. Os últimos cinco anos, segundo ela, provocaram mudanças profundas no museu. As estruturas, hoje, são mais seguras e sustentáveis. Além disso, discutiu-se a atualização do acervo.

— Acreditamos que a surpresa e o encantamento vão continuar existindo. O museu não é só o espaço de contemplar, mas também de frequentar, é um lugar de diálogo — diz Larissa.

O projeto para restaurar e readequar o espaço foi elaborado pelo governo de São Paulo em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Além de recursos públicos, o orçamento vem de patrocinadores privados, como a EDP (empresa portuguesa de distribuição de energia elétrica), patrocinador master, o Grupo Globo, o Grupo Itaú e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Há apoios da Fundação Calouste Gulbenkian e do governo federal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.