CULTOS PRESENCIAIS | RISCO DE CONTÁGIO

“Mesmo com restrições, volta de cultos religiosos é arriscada”, diz infectologista

A partir desta segunda-feira (20), atividades religiosas poderão ser retomadas em Goiás, com diversas restrições.…

Mesmo com restrições para a retomada de atividades religiosas, medida representa risco de disseminação do coronavírus, segundo infectologista Boaventura Braz. (Foto: Reprodução / Hegon Corrêa)
Mesmo com restrições para a retomada de atividades religiosas, medida representa risco de disseminação do coronavírus, segundo infectologista Boaventura Braz. (Foto: Reprodução / Hegon Corrêa)

A partir desta segunda-feira (20), atividades religiosas poderão ser retomadas em Goiás, com diversas restrições. Novo decreto estadual prevê liberação de cultos presenciais com uso obrigatório de máscara, local e materiais para higienização, celebrações coletivas limitadas e distanciamento de dois metros entre os fiéis. Para o infectologista Boaventura Braz de Queiroz, no entanto, mesmo com as ressalvas, flexibilização representa grande risco de disseminação do coronavírus.

O novo decreto permite que as igrejas realizem celebrações coletivas com até 30% da capacidade total de acomodações. Tais atividades poderão ocorrer, no máximo, duas vezes na semana em 227 municípios goianos. Outras 19 cidades como Goiânia e Anápolis, por exemplo, terão direito de realizar somente um encontro coletivo presencial por semana.

Para Boaventura, porém, a liberação é tida como desnecessária, uma vez que “a questão espiritual pode ser resolvida individualmente”. Segundo ele, a proibição de atividades religiosas deveria ser prorrogada pelos próximos dois meses. “A religiosidade pode ser, para muitos, uma necessidade básica, mas é uma questão que pode ser resolvida individual e internamente, em casa ou com celebrações virtuais”, afirma.

O infectologista ressalta que a liberação das atividades pode causar danos imensuráveis, já que as pessoas ficarão expostas à disseminação e contágio do coronavírus. “ É um risco. É um fator que colabora muito para a proliferação do vírus. Se tiver uma pessoa sintomática, ela vai liberar disseminação e outras tantas poderão ser infectadas”.

Boaventura comparou, ainda, a situação das igrejas com as escolas. Segundo ele, a perda de um aluno é muito maior sem aulas presenciais do que a perda de um fiel em casa. “A gente sabe que, para alguns, o ganho é muito maior dentro de sala de aula e têm escolas que nem conseguiram fazer essa adaptação online ainda. Como você abre mão de colocar alunos em sala de aula e permite aglomeração de cunho religioso?”, criticou.

Sem rigidez

O médico destaca que, mesmo com as duras restrições impostas, as igrejas dificilmente conseguirão cumpri-las. “Você certamente não vai ter o isolamento social necessário. As medidas não serão cumpridas em sua totalidade e isso é um grande problema”.

Dentre as recomendações do novo decreto estão o uso obrigatório de máscara, afastamento de, no mínimo, dois metros entre os membros, disponibilização de produtos para higienização das mãos e calçados, proibição de idosos com mais de 60 anos e pessoas consideradas do grupo de risco na congregação. Além disso, as igrejas terão de medir a temperatura dos fiéis com termômetro infravermelho, sem contato. Caso seja constatado quadro febril, o templo deverá vedar a entrada.

Mesmo com as determinações, o infectologista teme a disseminação do vírus. “Infelizmente a gente sabe que não haverá um controle rígido dessas restrições. Para começar, são ambientes fechados, não há ventilação e o distanciamento entre os fiéis será muito complicado. O percentual de contágio pode ser alto. O risco é tão grande que é difícil até mensurar o quanto isso pode afetar as pessoas”, disse.

Boaventura pediu, ainda, que as pessoas fiquem atentas às medidas de segurança e as cumpram com rigidez. “São ferramentas que temos para evitar a transmissão e o contágio. Então lembrem-se de usar máscara, higienizar as mãos e todas as superfícies e objetos que podem ter sido usados por terceiros”.