ELEIÇÕES

Seguranças da Presidência visitaram local onde Bolsonaro encontrou venezuelanas

Servidores do governo federal que trabalham no Palácio do Planalto estiveram, no domingo, no endereço…

Acusações incluem a existência de uma rede de fake news na campanha Bolsonaro deve responder no TSE por abuso de poder inelegibilidade
Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/Youtube)

Servidores do governo federal que trabalham no Palácio do Planalto estiveram, no domingo, no endereço onde moravam as venezuelanas visitadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no ano passado, em São Sebastião, região administrativa a cerca de 20 quilômetros do centro de Brasília. Os funcionários do governo também foram à Cáritas Arquidiocesana da capital, organismo da Igreja Católica que presta assistência aos migrantes daquele país que chegam ao Brasil.

Desde sábado, a campanha tenta conter os danos causados pela disseminação, nas redes sociais, de uma fala em que Bolsonaro diz que “pintou um clima” em visita às refugiadas de 14 e 15 anos.

Em São Sebastião, o jornal O Globo encontrou funcionários do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela proteção do chefe do Executivo e sua família, além de servidores da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). Oficialmente, o GSI não informou por que esteve no endereço. Já a Secom alegou que estava na região porque havia demandas de jornalistas sobre o assunto.

No domingo à noite, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, determinou neste a remoção de vídeos postados por perfis da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em redes sociais que reproduziram fala de Bolsonaro sobre venezuelanas ou qualquer conteúdo relacionado ao tema.

Segundo a colunista Malu Gaspar, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foi escalada para tentar contornar o desgaste. Michelle tentou agendar uma reunião às pressas com lideranças locais para tirar uma foto e passar uma imagem de que o governo se preocupa com a situação das meninas. A primeira-dama e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) cumpriam agenda no Nordeste, mas retornaram a Brasília no meio da tarde deste domingo. A reunião acabou não acontecendo.

Paulo Henrique de Morais, diretor da Cáritas em São Sebastião, afirmou que foi procurado no domingo por uma pessoa que se identificou como funcionário do governo e disse querer combinar uma visita “da ministra” ao local. Por volta de 15h, eles receberam a informação de que receberiam a visita de uma ministra — sem identificar quem seria essa autoridade.

Depois de a Cáritas falar com a imprensa, as equipes do Planalto começaram a desmobilizar seu pessoal e dizer que a visita estava cancelada.

As meninas envolvidas no episódio não moram mais no local visitado pelos servidores do Palácio do Planalto, de acordo com relatos feitos por vizinhos. Elas contam com o auxílio de organização voltada para a caridade e estão receosas com a repercussão do caso. O GLOBO entrou em contato com uma das mulheres que recebeu o presidente em 2021, mas ela não quis conversar.

Pessoas próximas a elas relataram que as meninas souberam que eram procuradas por representantes da Presidência, o que as assustou. Com medo da exposição, não queriam mais falar com desconhecidos. Optaram por passar o dia recolhidas.

As venezuelanas participam de uma oficina de costura e costumam se mudar quando encontram aluguéis mais baratos. A casa visitada pelos servidores é hoje alugada para outra família, que nunca teve contato com as antigas moradoras. Representantes do governo também foram até a sede da Cáritas Arquidiocesana de Brasília, organismo da Igreja Católica vinculado à CNBB, que em São Sebastião presta assistência aos migrantes venezuelanos.

Bolsonaro afirmou em entrevista ao canal do YouTube ‘Paparazzo Rubro-Negro’, na sexta-feira, que durante um passeio de moto pela comunidade de São Sebastião avistou meninas de 14 e 15 anos e que “pintou um clima” antes de pedir para ir à casa delas.

— Eu parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinham umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos se arrumando no sábado para que? Ganhar a vida. Você quer isso para a sua filha que está nos ouvindo agora? — relatou o presidente na entrevista.