trabalho escravo

Uber e Audi usaram créditos de carbono gerados em área com trabalho escravo

Os trabalhadores foram contratados para desmatar 477 hectares de vegetação nativa

Uber e Audi usaram créditos de carbono gerados em área com trabalho escravo trabalhadores foram contratados para desmatar vegetação nativa
Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

Audi, Uber e mais 20 empresas compensaram emissões de gases poluentes utilizando créditos de carbono de uma região onde ocorreu flagrante de trabalho escravo e desflorestamento no Pará. Em junho de 2023, 16 trabalhadores foram libertados na Fazenda Sipasa, propriedade da Sipasa Seringa Industrial do Pará, em Moju, no nordeste do estado. É o que publicou o site Brasil de Fato.

Os trabalhadores foram contratados para desmatar 477 hectares de vegetação nativa dentro de uma área da fazenda parte do Projeto Maisa, que era pago para manter a floresta em pé. No mercado de carbono, empresas e indivíduos compram créditos de projetos que evitam o desmatamento para compensar as emissões de suas atividades diárias.

A Uber, por exemplo, utilizou parte desses créditos para compensar as emissões de carbono. Já a Audi Sport compensou emissões da competição Rally Dakar.

Os créditos de carbono gerados pelo projeto e usados entre 2020 e 2023 totalizam cerca de 6 milhões de dólares (ou R$ 30 milhões em cotação de 2024), segundo uma estimativa da consultoria AlliedOffsets. A área a ser protegida incluía um total de 26 mil hectares de preservação na Amazônia – incluindo a Fazenda Sipasa, onde os trabalhadores foram resgatados.

O relatório de fiscalização, obtido pela Repórter Brasil, indica que os quartos do alojamento eram tão quentes que os funcionários preferiam dormir em redes na varanda. “No alojamento da Sipasa, a gente dormia em rede mesmo, não tinha roupa de cama, só a que eu levava mesmo. Ventilador? Isso nunca existiu”, confirma um dos trabalhadores resgatados.

Goiás é o terceiro estado com mais casos de trabalho escravo; leia

Também não havia água nos banheiros – construídos do lado de fora do galpão. Segundo a fiscalização, os trabalhadores tomavam banho de mangueira e faziam suas necessidades fisiológicas no mato. A cozinheira, única mulher entre os resgatados, precisou improvisar um banheiro para ter algum privacidade ao tomar banho.

Resposta de Uber e Audi

Em resposta à reportagem, a Uber afirmou que investe apenas em projetos “certificados, rastreáveis e auditáveis” por organizações reconhecidas. Já a Audi afirmou que irá “analisar cuidadosamente as informações”.

A Verra, organização certificadora do projeto, informou que decidiu “inativar, de imediato, o projeto”. Foram enviados questionamentos para o advogado do dono da Sipasa Seringa Industrial do Pará S/A, mas não houve retorno.

Leia a íntegra aqui.