Homofobia

Zélia Duncan sai em defesa de pastor que é favorável ao casamento LGBT: “vai ter luta”

Pastor defendido por Zélia Duncan é o deputado Henrique Vieira, que lidera resistência contra projeto que proíbe união no mesmo gênero

Cantora Zélia Duncan (Foto: Reprodução)
Cantora Zélia Duncan (Foto: Reprodução)

Alvo de ataques nas últimas semanas por liderar uma campanha contra a proposta que busca proibir a união entre pessoas do mesmo gênero no Brasil, o deputado federal e pastor Henrique Vieira (PSol-RJ) recebeu o apoio, nesta sexta-feira, da cantora e compositora Zélia Duncan. Em vídeo publicado no Instagram, Zélia fez um desabafo contra as pessoas que perseguem os LGBTs.

A artista abre o vídeo perguntando se o amor dela não vale e se a voz dela só é importante quando ela canta. “Minha vida não vale? Minha companheira, meus amigos, nossa união, nossa família? Por que eu sou diferente? Mas vem cá, os impostos que eu pago valem, né? Meu voto também vale, né? Com que direito alguém se acha no direito de simplesmente dizer que aquilo que eu sinto não vale? Que meu amor incomoda, incomoda como? Só porque ele existe?”.

Zélia afirma que não precisa do amor de quem é homofóbico, mas que respeito é inegociável. “Sabe por que é tão estranho todo esse ódio que você sente? Porque esse ódio aí é um sentimento que diminui quem odeia, fragiliza, mostra o avesso, a falta de pensamento e honestidade. Pensa: você odeia e se sente ameaçado porque conquistamos, por exemplo, há dez anos, o direito de casar. Mas eu não quero casar com você, ora. A liberdade pra amar, do jeito que nascemos para amar é o que a gente quer. Isso não vale? Não vale ser feliz? Não vale ser abrigo para alguém? Você tem medo de nós por que? Acha mesmo que em toda a sua família não tenha ninguém que seja LGBTQIA+?”.

A cantora diz que as pessoas que odeiam a comunidade LGBT sequer sabem por que alimentam esse sentimento. “Pra quem nos odeia tanto, você se interessa demais por nosso gosto, nosso encontro, nossos lençóis. Isso não vale. É isso que não vale. O que nós conquistamos foi sentido em cada suor, em cada gota de suor de muitas gerações, e falta tanto ainda… Vocês querem arrancar a dignidade da comunidade LGBT por que? Deixa a nossa intimidade, a nossa natureza, deixa a gente em paz”.

Zélia manda um aviso: “Invalidar nossos papéis não vai anular os nossos laços de amor construídos nem deslegitimar nossos lares e nosso destino. É como diz Edinardo: vocês são muitos, mas não sabem voar. A minha asa é um arco-íris. E a sua? Ah, e tem mais: somos sobreviventes há séculos, nascemos no front. Portanto, vai ter luta”.

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O projeto e o deputado
O texto que proíbe a união de pessoas do mesmo gênero deve ser discutido na próxima semana pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados. Um parecer elaborado pelo deputado Pastor Eurico (PL-PE) sugere que “o casamento entre pessoas do mesmo sexo é contrário à verdade do ser humano”.

Opositor da proposta, pastor Henrique Vieira passou a encabeçar uma campanha intitulada “O Amor Vence”, que já reuniu mais de 90 mil assinaturas e conta com a adesão de artistas e ativistas. Nos últimos dias, porém, uma série de ataques impediu o acesso de novas pessoas ao site que colhe as assinaturas.

“Depois que nós colocamos a nossa campanha nas redes, ela vem sofrendo ataques de robôs. É o jeito que a extrema direita age”, afirma Vieira.

Veja a íntegra do depoimento de Zélia Duncan

Como assim meu amor não vale? Minha voz só vale quando canta, quando diverte? Minha vida não vale? Minha companheira, meus amigos, nossa união, nossa família? Os filhos das nossas famílias não valem? Por que eu sou diferente? Mas vem cá, os impostos que eu pago valem, né? Meu voto também vale, né? Com que direito alguém se acha no direito de simplesmente dizer que aquilo que eu sinto não vale? Que meu amor incomoda, incomoda como? Só porque ele existe? Mas eu não peço seu amor, sua licença. Você não precisa nem ser meu amigo, minha amiga. Você precisa me respeitar. Ah, precisa. Isso não se negocia. Sabe por que é tão estranho todo esse ódio que você sente? Porque esse ódio aí é um sentimento que diminui quem odeia, fragiliza, mostra o avesso, a falta de pensamento e honestidade. Pensa: você odeia e se sente ameaçado porque conquistamos, por exemplo, há dez anos, o direito de casar. Mas eu não quero casar com você, ora. A liberdade pra amar, do jeito que nascemos para amar é o que a gente quer. Isso não vale? Não vale ser feliz? Não vale ser abrigo para alguém? Você tem medo de nós por que? Acha mesmo que em toda a sua família não tenha ninguém que seja LGBTQIA+? Vai ver que esse “mais” é você que vai batizar. Coragem! Mas se você odeia a nossa existência e nem quer se perguntar por que, então se afasta da gente. Pra quem nos odeia tanto, você se interessa demais por nosso gosto, nosso encontro, nossos lençóis. Isso não vale. É isso que não vale. O que nós conquistamos foi sentido em cada suor, em cada gota de suor de muitas gerações, e falta tanto ainda… Vocês querem arrancar a dignidade da comunidade LGBT por que? Deixa a nossa intimidade, a nossa natureza, deixa a gente em paz. Em que a nossa clandestinidade ajuda nos cultos e missas de domingo? Por que os LGBTs não valeriam? O que foi conquistado é tão pouco diante do caminho que temos pela frente. Vade retro. Invalidar nossos papéis não vai anular os nossos laços de amor construídos nem deslegitimar nossos lares e nosso destino. É como diz Edinardo: vocês são muitos, mas não sabem voar. A minha asa é um arco-íris. E a sua? Ah, e tem mais: somos sobreviventes há séculos, nascemos no front. Portanto, vai ter luta.