Estupro de vulnerável

12º denúncia contra João de Deus é marcada pela investigação de uma possível rede de proteção, diz promotora

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) ofereceu, no último dia 26 de dezembro,  a 12ª…

12º denúncia contra João de Deus é marcada pela investigação de uma possível rede de proteção, diz promotora
12º denúncia contra João de Deus é marcada pela investigação de uma possível rede de proteção, diz promotora

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) ofereceu, no último dia 26 de dezembro,  a 12ª denúncia contra o médium João Teixeira de Faria, mais conhecido como João de Deus. Segundo a promotora de Justiça, Renata Caroliny Ribeiro e Silva, o documento inicia a investigação de uma possível rede de proteção a favor do médium.

Isso porque dois guias também foram incluídos na denúncia de estupro de vulnerável contra duas vítimas do Rio Grande do Sul. À época, as vítimas tinham entre 20 a 28 anos. De acordo com a promotora, eles são suspeitos de acobertarem os crimes para manterem o status quo como guias turísticos, visando renda, prestígio acesso à Casa Dom Inácio de Loyola. Além disso, a promotora destaca que as vítimas eram submetidas aos abusos sobre a promessa de serem curadas de qualquer enfermidades.

[olho author=””]Percebemos que essa rede de proteção atuava energicamente não só no sentido de conivência dos atos praticados por João Teixeira de Faria, mas atuavam freneticamente para que essas vítimas não procurassem à Justiça. […][/olho]

A promotora ainda conta que as vítimas eram orientadas a comentarem a relatar os abusos com os guias. “As respostas obtidas [pelas vítimas] por esses guias são que tudo não passava de um processo de limpeza, de cura espiritual e na verdade podia ter uma entidade incorporada no médium que realizaria o processo de cura por meio de relação sexual. Eles também alegavam que  ejaculações seriam muito mais fortes que qualquer cirurgia espirituais que poderiam realizar. Eles também falavam que tudo era um processo de limpeza. E que homens também passavam por meio de processo de limpeza por meio de atos sexuais. Entretanto, era feito por um outro funcionário masculino da casa”, afirma.

Ainda de acordo com o documento, que foi revertido ao Judiciário no último dia 26 de dezembro, os abusos aconteceram entre janeiro de 2009 e janeiro de 2011. A promotora explica que a inclusão dos guias à denúncia acontece devido à proximidade deles com as vítimas e que, mesmo sendo confidentes das mesmas e tendo consciência dos abusos, não agiram no intuito de pará-lo.

Em nota, o advogado de João de Deus, Anderson Van Gualberto de Mendonça, afirma que:

[olho author=””]A defesa ainda não foi intimada sobre esta nova denúncia, mas de antemão, caso esta denúncia tenha sido desenhada com os mesmos contornos das anteriores, não terá melhor sorte nos tribunais superiores, pois o Ministério Público vem fazendo verdadeiro malabarismo jurídico para tentar prevalecer a qualquer custo as imputações criminais inverídicas e para tanto utiliza os meios de comunicação para inflacionar o sentimento de ódio contra o meu cliente, fazendo do processo um espetáculo público.[/olho]

Números

De acordo com o MP-GO, até o momento, 57 vítimas não estão prescritas e formalizaram denúncias contra o médium. Outras 87 foram arroladas como testemunhas no processo. Ao todo, 144 vítimas já foram ouvidas no órgão.

Ao todo, 319 mulheres fizeram contato por meio de e-mail ou ligação. Dentre estas, 194 pessoas compuseram denúncias já formalizadas pelo MP de vários estados do país.

Por fim, a promotora ressalta que foi feito um novo pedido de prisão preventiva contra o médium “por entender que a segregação cautelar dele favorece o aparecimento de novas vítimas. Nós temos notícias de que elas existem, mas que se tem muito medo de prestarem as suas declarações perante a força tarefa”, afirma.

Renata Caroliny também sublinha que a avançada idade de João de Deus – 77 anos – não dificulta a punibilidade do médium pelos crimes aos quais está atribuído. Além disso, relatou as consequências que a situação causou nas vítimas. “São pessoas que tinham um laço muito forte com a Casa e com a figura do João de Deus. A família toda das duas vítimas também tinham um laço estrito de fé e acreditavam que se tratava de cura. As consequências só vieram após os casos vierem à tona. Elas desenvolveram depressão e ficaram em uma situação bem delicada”, conta.

Relembre

João de Deus está preso desde 16 de dezembro de 2018 após diversas denúncias de crimes sexuais. De lá para cá, ele teve habeas corpus negados, uma fazenda invadida por integrantes do Movimento Sem Terra (MST) e Movimento Camponês Popular (MCP), abandono de advogados do caso e até mesmo duas condenações: uma de quatro anos, em regime aberto, no caso de posse ilegal de armas de fogo e a 19 anos de prisão por crimes sexuais – sendo a primeira por esse tipo de crime.

Ambas as decisões são da juíza Rosângela Rodrigues, da Comarca de Abadiânia. Na última delas, a magistrada afirmou que dois crimes são por violação sexual mediante fraude e os outros dois por estupros de vulneráveis.

João de Deus sempre negou os crimes. Mesmo preso, o médium continuava a lucrar com a rede internacional que atrai diversos turistas à Casa, segundo uma reportagem da IstoÉ. A revista Veja também mostrou que João de Deus continua fazendo ‘milagres’ dentro da cadeia.