15 anos depois da desocupação do Parque Oeste Industrial
Moradores relembram a luta e o violento processo no mesmo ano em que recebem as escrituras do Real Conquista
Quinze anos se passaram desde a desocupação do Parque Oeste Industrial, em Goiânia, e muito mudou desde então. No final de janeiro de 2020, 464 famílias que viveram na ocupação finalmente receberam escrituras das casas no Residencial Real Conquista, na região Sudoeste da capital. A entrega foi feita pela Agência Goiana de Habitação (Agehab), do Governo Estadual. Outras 126 escrituras foram para registro do cartório.
Para que a conquista desse sonho fosse real, a Operação Inquietação teve um salto assustador: dois mortos (segundo o governo), 16 feridos a bala, um paraplégico, 800 detidos. E uma ação policial que marcou a história da cidade e de 4 mil famílias que buscavam moradia.
Em parceria com o Governo Federal, foram construídas pela Agehab mais de 2.400 unidades habitacionais no Residencial Real Conquista, no período de 2007 a 2014. O Estado é responsável pela escrituração de 1.257 imóveis e o Município de Goiânia pelo restante: 1.190 imóveis.
Por outro lado, um empreendimento gigantesco agora ocupa cerca de 1,2 milhão de metros quadrados, no Parque Oeste Industrial, na Região Oeste da capital. Com apartamentos voltados para a classe média, oito construções estão no exato local da antiga área ocupada por 4 mil famílias, em maio de 2004. Outros dois condomínios estão em construção. A região também deve ganhar um parque.
Os dois locais, Parque Oeste Industrial e Real Conquista, são separados por 21 quilômetros, mas unidos por uma história que teve um fim trágico no dia 16 de fevereiro de 2005.
A Ocupação
A costureira Ivana Silva Fernandes, de 46 anos, conhece bem a distância entre o Parque Oeste e o Real Conquista. Em 2004, o marido, Célio Roberto, ao ver a ocupação nas proximidades da Avenida das Magnólias se formando, chegou em casa e avisou à família que todos se mudariam. Ali começou a história de luta deles por moradia.
Ivana e Célio não tinham condições de pagar o aluguel e sustentar os dois filhos ao mesmo tempo. As crianças tinham, à época, 10 e 7 anos de idade. Foram para a ocupação por acreditar que ali estaria uma boa oportunidade. No entanto, a espera se tornou longa. Somente em 2020 a família recebeu a escritura da casa.
Ela se soma a outras 4 mil famílias que vivenciaram processo de despejo, realizado pela Polícia Militar (PM), em cumprimento ao mandado de reintegração de posse expedido pela Justiça ainda em 2004. Nem todas conseguiram passar pela triagem para serem realojadas no Real Conquista. No total, o bairro possui hoje 2 mil casas. E somente 464 escrituras entregues.