Segurança pública

Após homicídio, estudantes da UFG afirmam que clima de insegurança persiste no campus

Tensão. Este é o clima entre  acadêmicos do Campus 2 – Samambaia, da Universidade Federal…

Tensão. Este é o clima entre  acadêmicos do Campus 2 – Samambaia, da Universidade Federal de Goiás (UFG) após a execução do suspeito de tráfico de drogas Luiz Carlos Pereira Castro (19) na manhã de terça-feira (19). Um dia após o crime, estudantes revelam-se assustados, embora reforcem que a preocupação com a criminalidade é frequente no cotidiano de quem utiliza o espaço em todos os turnos.

Para a estudante de Design de Ambientes Beatriz Maria Parreiras Pereira (20), a ocorrência de homicídio nas dependências da universidade já era algo esperado.

“[Assassinato] era uma coisa que aconteceria mais cedo ou mais tarde, porque a segurança aqui é relativa, muito focada no patrimônio, enquanto deveria ser voltada para pessoas. Embora este seja um espaço público, deveríamos ter um controle melhor de quem entra na UFG, o que não acontece. Queremos policiamento, mas que este não seja intimidador”.

De acordo com Vinícius de Morais (17), aluno de Ciências Biológicas, apesar das atividades não terem sido afetadas pelo homicídio, as pessoas estão tensas. “O clima está pesado. Pessoas estão em choque. O campus é muito grande e realmente falta monitoramento”.

Conforme expõe ele, o aplicativo Minha UFG, que possui um módulo de segurança que permite denúncias contribui com a sensação de segurança, mas sozinho não é suficiente. “Acaba que criamos uma intimidade com o sistema de segurança da universidade, mas aqui temos apenas uma viatura da Polícia Militar. Pelo tamanho e quantidade de pessoas que há na UFG, precisaríamos de, pelo menos, mais uma”.

A acadêmica de Odontologia Fernanda Oliveira (18) faz coro com os supracitados estudantes. Para ela, as pessoas tem medo de transitar pelo Campus. Seja nos pontos de ônibus ou estacionamentos, pessoas tem medo de serem surpreendidas. Com esse caso de ontem, só tivemos a certeza de que a segurança aqui é falha. O aplicativo é uma boa ideia, mas até hoje só funciona para aparelhos com sistema operacional Android. Eu mesma não tenho acesso”, critica.

Fernanda Oliveira afirma que tem medo de transitar pela universidade (Foto: Hugo Oliveira/Mais Goiás)

Na contramão do discurso dos estudantes, a comerciante Vanete Martins (49), que possui um quiosque próximo a uma agência bancária há 12 anos, revela estar satisfeita com a segurança. “Aqui é muito grande, mas a todo o momento podemos ver seguranças fazendo ronda no local. Nunca tive nenhum problema, nunca fui vítima de nada e me sinto segura aqui.

Universidade

Para o secretário de Segurança da UFG, Ricardo Barbosa de Lima, o homicídio não representa uma falha da segurança da universidade por representar um evento atípico.  “É um evento que não poderia ser evitado pelo sistema de segurança. Durou cerca de cinco segundos. Não posso mentir e afirmar que iremos tomar medidas quanto a esse evento específico. Podemos é aperfeiçoar o vínculo com aqueles que constitucionalmente tem a atribuição de agir, como as polícias Civil e Militar”.

Segundo ele, um plano de segurança para o campus foi criado em outubro de 2017, o qual está sendo praticado desde então com foco na diminuição da criminalidade nas dependências universitárias. Por meio dessa proposta, afirma, houve incremento do potencial de segurança da universidade, com uma central de monitoramento 24 horas além de aproximação da entidade com forças policias.

Secretário de segurança acredita que problema pode ser amenizado com criação de Conselho de Segurança Permanente para Universidade e moradores da região (Foto: Hugo Oliveira/Mais Goiás)

Desde o início do ano, foram registradas denúncias de quatro assaltos, 11 furtos e 26 comportamentos suspeitos. Em maio, foram três assaltos, dois furtos e oito comportamentos suspeitos observados. “Recebemos pelo aplicativo, funcionário da central tem acesso à localização da pessoa que realizou o contato e um guarda é destacado para ir ao local para conferir a situação. As solicitações levam até cinco minutos para serem atendidas, sendo que esse é o tempo que guardas levam da central até o ponto mais distante da faculdade, na Faculdade de Agronomia”.

“Temos oito motos e duas viaturas da segurança interna circulando no campus para atender as necessidades daqui. Além disso, o 9° Batalhão da Polícia Militar destacou uma viatura para ficar exclusivamente em ronda aqui no Samambaia. Além disso, possuímos um aplicativo para que qualquer um possa denunciar comportamentos suspeitos, crimes, assédios entre outras atividades ilícitas”, sublinha.

O app Minha UFG está disponível apenas para usuários de sistema Android, mas a previsão é de que também esteja disponível para IOS no próximo mês. Veja vídeo em que técnico da segurança explica como o aplicativo funciona:

Sociólogo de formação, Ricardo explica que seguranças patrimoniais não podem – e não devem – assumir postura proativa de abordagem. Segundo ele, ao absorver uma competência da polícia, a tendência é a formação de uma milícia dentro do campus, o que também é indesejado.

“O que nós podemos fazer é estreitar, como já estamos fazendo, laços com as forças de segurança do estado. Estamos trabalhando também para a criação de um conselho de segurança para a região, de forma que a comunidade, as polícias e a universidade se integrem em combate ao crime”.

Tráfico

Ricardo afirma que o tráfico de drogas na universidade, mais presente no pátio das Ciências Humanas foi erradicado. “Isso não existe mais aqui. Promovemos ações para que o tráfico deixasse de existir aqui. No entanto, o campus não é uma outra cidade, faz parte de Goiânia e é afetada pelas mazelas sociais da capital.

Apesar da garantia do gestor, aluno da Biblioteconomia Otho Borges (48) questiona a afirmação, embora concorde que os problemas da universidade em relação à Segurança Pública são reflexos do que ocorre na cidade.

“Não vejo a universidade como um espaço separado. Está inclusa na sociedade. No entanto, o problema do tráfico ainda existe, percebo isso diariamente. Só não ocorre no mesmo local. Nem ficou mais discreto. É uma situação que deve ser combatida, mas não com guerra, mas com políticas públicas voltadas a usuários, como a descriminalização de algumas drogas”, propõe.